Capítulo 4
A floresta à nossa volta era densa e escura, iluminada apenas pela luz prateada da lua que se infiltrava por entre as folhas. O cheiro da terra úmida e das árvores antigas era forte, e o som dos nossos passos quebrando galhos secos e folhas mortas se misturava ao canto distante de insetos e animais noturnos.
Os feéricos caminhavam na frente, guiando-nos por um caminho estreito que parecia mais um túnel natural de galhos retorcidos e musgo. Nenhuma de nós sabia para onde estávamos indo, mas qualquer destino era melhor do que voltar para as mãos daqueles mercenários.
— Onde exatamente estamos indo? — uma das garotas perguntou hesitante.
Foi Soren, o feérico loiro, quem respondeu, olhando por cima do ombro com um meio sorriso.
— Para um lugar seguro.
A garota engoliu em seco, mas assentiu, apertando os braços ao redor do próprio corpo. Diferente das outras, ela parecia um pouco menos assustada e, depois de alguns instantes de hesitação, voltou a falar.
— Você... já viu isso acontecer antes? — sua voz estava baixa, quase como se temesse a resposta.
Soren ergueu uma sobrancelha.
— O quê? Humanos capturando humanos? — Ele soltou um suspiro curto. — Infelizmente, mais vezes do que eu gostaria.
A garota mordeu o lábio inferior antes de perguntar:
— E vocês nunca interferem?
Soren olhou para ela por um momento, como se estivesse ponderando sua resposta.
— Normalmente, não. O que acontece no mundo dos humanos raramente é da nossa conta.
— Mas agora foi.
Ele deu de ombros.
— Eles entraram no nosso território. Isso nos dá o direito de matá-l0s.
A garota engoliu em seco, sem saber ao certo como reagir a isso, e Soren pareceu notar seu desconforto. Ele riu baixinho.
— Não se preocupe. Você não estava na nossa lista negra.
A garota franziu o cenho.
— Vocês têm uma lista negra?
— Não exatamente, mas... se tivéssemos, humanos que capturam garotas para vendê-las estariam no topo.
Ela abriu a boca para responder, mas então parou, sem saber como continuar aquela conversa.
Eu, por outro lado, não tinha problemas com isso.
— Isso significa que vocês só nos salvaram porque foi conveniente? — minha voz saiu mais afiada do que eu esperava.
Aron, que caminhava alguns passos à frente, virou a cabeça na minha direção.
— Sim — ele respondeu sem hesitação.
Eu parei no meio do caminho, sentindo uma onda de irritação crescer dentro de mim.
— Você realmente não tem nenhum filtro, não é?
Ele também parou, me encarando com aqueles olhos violetas impassíveis.
— Você prefere que eu minta?
— Eu prefiro que você pelo menos tente parecer um pouco menos insensível!
Aron bufou, cruzando os braços. Suas asas se abriram levemente, como se estivesse ficando impaciente.
— Qual é o problema? Vocês estão vivas, não estão?
— Você acha que isso é só sobre estar viva?
— Isso não é o suficiente?
Eu cerrei os dentes, sentindo a raiva ferver dentro de mim.
— Você quer saber qual é o problema, Aron? O problema é que nós fomos arrancadas de nossas casas, tratadas como mercadorias e presas como animais. O problema é que não temos para onde ir, não sabemos o que vai acontecer com a gente e, no meio de tudo isso, você age como se nada disso fosse importante!
Aron me encarou por um momento antes de responder, sua voz baixa e firme.
— O que você quer que eu diga? Que lamento pelo que aconteceu?
— Sim! — eu soltei, exasperada. — Isso seria um ótimo começo!
Ele me olhou como se eu tivesse acabado de pedir algo absurdo.
— Eu não sou humano, Victória. Eu não lamento coisas que não posso mudar.
— Você pode mudar essa! — rebati. — Você nos salvou. Você poderia ter ignorado tudo, mas escolheu interferir.
— Porque eu não gosto de ver lixo humano invadindo meu território — ele respondeu friamente.
Minha boca se abriu em um misto de choque e frustração.
— Você realmente não se importa nem um pouco?
— Eu me importo em tirar vocês daqui — ele disse. — Eu me importo em levar vocês para um lugar seguro. Isso não é o suficiente para você?
Eu travei a mandíbula, sentindo a raiva se misturar com algo que eu não sabia definir.
Por que ele me irritava tanto?
Os outros feéricos observavam nossa discussão com expressões divertidas — bem, Soren parecia se divertindo, enquanto os outros apenas pareciam exaustos.
— Se vocês dois já terminaram de discutir como um casal velho, podemos continuar? — Soren zombou.
Aron revirou os olhos, soltando um suspiro frustrado antes de se virar para continuar andando.
Eu permaneci no lugar por um segundo, tentando acalmar minha respiração.
Então segui atrás dele.
Aquela discussão estava longe de terminar.
Enquanto continuávamos pela floresta, o som de água corrente ficou mais alto, e logo avistamos um rio se estendendo à nossa frente. A correnteza era suave, e a água refletia o brilho prateado da lua, parecendo quase mágica sob a luz noturna.
Mas não era a beleza do rio que chamou nossa atenção.
Às margens, parcialmente submersa na água, estava uma criatura que eu nunca tinha visto antes. Parecia um cruzamento entre um cervo e um felino, seu corpo esguio coberto por um pelo perolado que cintilava com um brilho suave, como se tivesse sido feito da própria luz da lua. Seus olhos eram grandes e azulados, brilhando de maneira etérea, e seus chifres finos pareciam feitos de vidro cintilante, refletindo cores suaves sempre que se movia.
A criatura mergulhou o focinho na água, bebendo tranquilamente, antes de erguer a cabeça e nos encarar. Seu olhar era curioso, mas não assustado.
As garotas ao meu redor se encolheram, algumas segurando a respiração. Eu mesma me senti hipnotizada pela visão da criatura. Era algo saído de um conto de fadas.
— O que é isso? — uma das garotas sussurrou.
— Um lúmen — Soren respondeu, com um tom casual, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. — Eles vivem perto de rios sagrados. Não se preocupem, não são agressivos.
A criatura piscou lentamente antes de se afastar, suas patas mal fazendo barulho na água enquanto desaparecia entre as árvores.
Eu continuei olhando na direção em que ela havia ido, sentindo um frio na espinha.
Se mesmo algo tão pacífico quanto um lúmen podia viver nessa floresta, o que mais nos aguardava nesse território feérico?
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Comments
Rosária 234 Fonseca
caraca velho que situação complicada
2025-04-01
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