Aron Gardner
Capítulo 2
A noite caía pesada sobre a floresta, envolvendo tudo em sombras e silêncio. O vento soprava entre as árvores, carregando o cheiro de sangu3 e podridão que sempre acompanhava os humanos em guerra.
Eu estava agachado em um galho alto, as asas dobradas contra minhas costas, observando o grupo de nove homens que marchava pelo território feérico como se nada pudesse detê-los. Burros. Se soubessem o que os esperava, teriam escolhido outro caminho.
— Humanos imbecis — murmurou Lior, ao meu lado. Sua voz era baixa, mas carregada de desgosto.
Ele e os outros dois feéricos, Aedhan e Soren, estavam espalhados entre as árvores próximas. Nenhum de nós sentia qualquer simpatia pelos humanos. Eram criaturas impulsivas, destrutivas, e sua guerra só provava isso. Vendiam suas próprias mulheres, destruíam suas próprias terras, derramavam o sangu3 de seu próprio povo.
Mas o que realmente me fez querer arrancar a garganta desses vermes foi o que eles carregavam na carroça.
Dentro da gaiola de ferro, amontoadas como animais, estavam pelo menos uma dúzia de garotas.
Fracas, magras, sujas. Algumas choravam em silêncio, outras apenas encaravam o nada, como se já tivessem aceitado seu destino.
— Vendidas como mercadoria — sibilou Soren. Ele estava escondido entre as folhas, observando com olhos afiados. — Humanos vendendo humanos. É isso que a guerra faz com eles.
— Eles entraram no nosso território — murmurou Aedhan. — Já temos justificativa para matá-l0s.
— Como se precisássemos de uma — respondi, sentindo um sorriso predador se formar em meus lábios.
Os humanos haviam parado para descansar. Acenderam uma fogueira, rindo entre si, sem a menor preocupação. Três estavam jogando dados, dois estavam de guarda, ainda que de maneira relaxada, enquanto os outros comiam e bebiam.
Nenhum parecia preocupado com as garotas enjauladas, jogando para elas pedaços de pão velho como se estivessem alimentando cães.
Um rosnado baixo escapou de mim.
Essas garotas eram suas próprias conterrâneas. Irmãs, filhas, amigas. E ainda assim, esses malditos as tratavam pior do que gado.
— Matam0s ao amanhecer? — perguntou Lior.
— Não — respondi, abrindo lentamente as asas. — Esperamos até que a escuridão esteja do nosso lado.
Meus companheiros assentiram. Nós feéricos éramos predadores natos, e a noite era nossa aliada.
Esperamos.
O tempo passou devagar, mas a paciência era uma virtude que os humanos não possuíam. Um a um, foram adormecendo, entregues ao cansaço e ao álcool que haviam consumido. Apenas dois permaneceram acordados, bocejando e se espreguiçando enquanto fingiam fazer vigia.
Pobres tolos.
Dei o sinal.
Em um piscar de olhos, descemos sobre eles como sombras.
A primeira lâmina cortou a garganta de um dos guardas antes que ele pudesse soltar um grito. O segundo virou-se, arregalando os olhos ao ver Soren surgindo da escuridão como um espectro.
Antes que pudesse reagir, sua cabeça caiu para o lado, separada do corpo com um único golpe afiado.
O cheiro de sangu3 preencheu o ar.
Os outros acordaram, alarmados, puxando suas armas, mas era tarde demais.
Eu me ergui no céu, batendo minhas asas com força, impulsionando meu corpo sobre a carroça. Meus olhos brilharam na escuridão quando avistei minha próxima presa: um homem corpulento que tentava correr.
Pousei atrás dele com um impacto seco e agarrei seu pescoço antes que ele pudesse dar mais um passo. Seus olhos se arregalaram ao me ver, o terror estampado em seu rosto.
— P-por favor…!
Não havia misericórdia para ele.
Com um movimento rápido, quebrei seu pescoço como se fosse um graveto.
Ao redor, os gritos dos humanos ecoavam na noite.
Lior derrubava um com suas lâminas duplas, Aedhan perfurava o peito de outro sem hesitação. Soren, cruel como sempre, cortava um após o outro com um sorriso frio nos lábios.
A batalha foi curta. Os humanos eram fracos, desesperados, e nunca tiveram chance.
O último deles tentou fugir pela floresta, mas antes que desse dois passos, minhas asas me impulsionaram para frente e cravei minha lâmina em suas costas.
O silêncio caiu sobre o campo de batalha.
Respirei fundo, sentindo o cheiro de m0rte e o doce gosto da vitória.
Só então me virei para as garotas presas na gaiola.
Elas estavam em choque, algumas tremendo, outras chorando. O medo em seus olhos era palpável, e não as culpei por isso. Haviam acabado de testemunhar algo que provavelmente jamais esqueceriam.
Meus passos foram lentos quando me aproximei. E foi então que aconteceu.
O mundo girou.
Uma pressão esmagadora tomou conta do ar ao meu redor, como se um raio tivesse caído exatamente onde eu estava. Meu peito apertou, um calor desconhecido percorreu minha espinha, e meus olhos se fixaram nela.
Ruiva. Olhos azuis. Magra, suja, mas ainda assim… magnífica.
Eu nunca havia sentido algo assim antes. Nunca havia experimentado essa força, essa conexão que me puxava para ela como se nada mais no mundo importasse.
Victória Elaine.
O nome dela pulsou na minha mente como uma verdade absoluta.
As outras garotas gritaram de medo quando dei um passo à frente, como se pudessem sentir a mudança no ar. Como se soubessem que algo estava acontecendo.
Mas ela…
Ela não gritou.
Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, o mundo inteiro desapareceu.
Ela sentia isso também.
Os murmúrios atrás de mim me trouxeram de volta à realidade.
— Ah, não… — resmungou Lior.
— Diga que isso não está acontecendo — sibilou Aedhan.
— Merda, merda, merda! — Soren cuspiu no chão. — Você está me dizendo que essa humana é sua parceira?!
Eles sabiam. Assim como eu sabia.
O vínculo era inegável.
Eu queria xingar, queria me afastar, queria negar o que estava acontecendo.
Mas não conseguia.
Meus olhos estavam presos nela, e algo dentro de mim sabia que eu jamais conseguiria escapar.
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Comments
Rosária 234 Fonseca
nossa que exitante em kkk tudo de bom
2025-04-01
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