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Capítulo 6 – Victória

Eu nunca imaginei que chegaria a esse ponto. Aqui estava eu, em um lugar estranho, onde seres que eu nem sabia que existiam estavam me observando e fazendo perguntas sobre coisas que eu mal compreendia.

Mas, ao menos, estava longe dos caçadores, e as outras garotas estavam mais seguras por enquanto. Não que eu me importasse com elas muito, mas era difícil não notar a expressão de alívio nos rostos delas, principalmente depois de todo aquele tempo preso naquela maldita jaula.

Quando Aron nos levou até a pousada, estava claro que ele tinha algum tipo de autoridade entre os feéricos. A maneira como a dona da pousada nos observou, o jeito como os outros feéricos sussurraram, tudo indicava que ele não era alguém com quem se deveria brincar. Mesmo assim, ele me irritava. Eu não conseguia entender o que ele queria comigo, ou o que era esse "elo" que sentia. Algo se formou entre nós desde o momento que nos encontramos, algo que ainda me confunde e me intriga ao mesmo tempo. Eu não entendo por que sinto isso.

As garotas estavam visivelmente aliviadas. Algumas choraram, outras mal podiam esconder o cansaço. A maior parte delas estava parada, em silêncio, esperando ser cuidadas, como se estivessem vivendo em um pesadelo desde que foram capturadas. A única coisa que elas realmente queriam era comer, tomar um banho e descansar. O que, de certo modo, eu também queria.

Eu fui uma das primeiras a ser levada para um dos quartos. A mulher feérica que nos guiava parecia um pouco desconfiada, mas não disse nada enquanto eu a seguia até um grande banheiro de pedra.

Quando a porta se abriu, um vapor quente me atingiu, e o aroma de lavanda e ervas doces invadiu minhas narinas. Eu olhei para a banheira de madeira em um canto, onde a água estava claramente morna, convidativa, e quase não acreditei.

Era tudo o que eu precisava.

— Pode usar à vontade. A comida vai ser trazida logo — a mulher feérica disse com um aceno de cabeça, já começando a sair do quarto.

Eu não disse nada, só fiquei ali, olhando a água com o corpo tenso de sujeira, dor e cansaço. Era como se eu tivesse sido transportada para outro mundo, um mundo onde ninguém me conhecia e onde, por um momento, eu poderia ser apenas eu mesma, sem as expectativas e a pressão de tudo o que havia acontecido.

Com as mãos trêmulas, comecei a tirar as roupas rasgadas e sujas que usava. A água quente me envolveu, e o alívio imediato foi tão grande que eu não consegui segurar um suspiro de prazer. Era estranho. Eu mal sabia o que pensar sobre tudo isso, mas, naquele momento, tudo o que eu queria era esquecer. Esquecer a jaula, os caçadores, a guerra.

A água em torno de mim ficou turva com a sujeira que saía de meu corpo. Eu não sabia por quanto tempo fiquei ali, apenas imersa nos meus próprios pensamentos. Quando finalmente saí da banheira, sentindo minha pele renovada, pude ver um par de roupas que haviam sido deixadas na bancada próxima. Elas pareciam feitas de algum tecido fino, em tons de verde e azul, combinando com o ambiente natural.

Antes de poder sequer tocar nas roupas, a mulher feérica apareceu de novo. Ela estava segurando um conjunto de roupas bem mais simples do que as que eu tinha visto antes, mas, mesmo assim, parecia confortável.

— Essas são para você — disse ela, me entregando as peças com uma suavidade que eu não esperava.

Quando tomei as roupas, ela não se afastou imediatamente. Ficou ali, me observando com um olhar curioso, quase como se estivesse esperando por algo.

Fiquei desconfortável, mas tentei não demonstrar.

— O que você sabe sobre Aron? — ela perguntou, quebrando o silêncio.

Eu a encarei, surpresa com a pergunta. A mulher feérica não parecia ser a tipo de pessoa que faria perguntas sem um motivo.

— Aron? — perguntei, sem esconder a confusão. — Eu… Não sei muito. Ele… ele me salvou e trouxe a gente aqui. Mas… por que você quer saber?

Ela não respondeu de imediato. Ficou quieta por um momento, como se estivesse ponderando minhas palavras.

— Você sabe o que é o elo, não sabe? O que está acontecendo entre vocês dois?

Eu não tinha resposta para isso. A sensação que eu sentia em relação a Aron era estranha. Eu não sabia se estava atraída por ele, ou se aquilo era algo mais profundo. O que quer que fosse, não conseguia ignorar. Mas também não conseguia entender por que ele parecia tão… controlado. Tão irritante.

— Não sei — respondi, por fim. — Só sei que desde que o vi, algo aconteceu. Algo que eu não consigo explicar.

A mulher feérica me observou por mais alguns segundos, os olhos dela atentos.

— Ele tem um castelo. Um lugar seguro para você e as outras garotas. Se ele prometeu levá-las até lá, você deve confiar nele. Não há muitas opções.

Aquela informação me deixou com mais perguntas.

Sim, eu sei que Aron tinha um castelo. Mais onde ficava? E por que ele estava me levando até lá?

— Ele tem um castelo? — perguntei, quase em um sussurro.

A mulher feérica não respondeu imediatamente. Ela apenas olhou para mim com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

— Todos sabem quem ele é — ela disse, mas sua voz estava longe, como se estivesse se lembrando de algo. — O que ele é.

Eu a observei em silêncio, frustrada pela falta de respostas. Mas antes que eu pudesse perguntar mais, ela se afastou, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

Eu olhei para as roupas nas minhas mãos e, depois, para o espelho, vendo o reflexo de uma garota que mal reconhecia mais.

O que estava acontecendo?

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Comments

Nilva Moraes

Nilva Moraes

tô amando autora /Drool/

2025-03-23

0

Jocilene Santos

Jocilene Santos

essa história promete🤩

2025-03-23

0

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