Capítulo 8 – Victória
O som suave da madeira rangendo me acordou de um sono profundo e reconfortante. A pousada onde havíamos passado a noite era simples, mas acolhedora. Eu tinha me entregado ao cansaço depois de tantos dias de viagem, cativeiro e incerteza. A cama de palha não era perfeita, mas depois de tudo o que passamos, era o paraíso.
Abri os olhos lentamente, sentindo a luz suave da manhã entrando pela janela. As outras garotas ainda dormiam ao meu redor, e eu podia ouvir o som suave da respiração delas. O cheiro do café vindo de uma mesa próxima era inebriante, e por um momento, a sensação de estar longe da jaula, do medo, parecia quase surreal. Porém, o que mais me chamou a atenção foi um som que começou a invadir o ambiente – cascos de cavalos batendo forte contra o chão, seguidos por gritos e movimentação do lado de fora da pousada.
Levantei-me rapidamente, as garotas ao meu redor também acordando. Uma delas, a mais loira e inquieta, foi a primeira a olhar pela janela. O rosto dela ficou pálido, e ela se virou para mim com um olhar de pavor.
— Victória… algo está acontecendo lá fora.
Corri até a janela, tentando espiar pela fresta. O que vi fez meu coração disparar. Carruagens majestosas, com detalhes dourados, estavam alinhadas nas ruas, e enormes cavalos, cujos cascos faziam um som ensurdecedor, estavam sendo conduzidos por feéricos em armaduras douradas. O brilho das armaduras refletia a luz suave da manhã, e as figuras imponentes dos cavalos e dos guerreiros feéricos só aumentavam a grandiosidade da cena.
Os feéricos estavam montados nas criaturas imensas, com uma postura tão rígida e austera que parecia que estavam prontos para um grande evento ou batalha. A atmosfera estava carregada de uma tensão palpável, e as garotas ao meu redor estavam visivelmente assustadas. Elas começaram a se apressar, tentando se esconder nos cantos ou se distanciar do movimento, mas eu estava parada, observando.
No meio da comoção, eu vi Aron. Ele estava lá, em sua postura altiva, os cabelos negros presos atrás da cabeça, com sua capa escura e os olhos violeta brilhando intensamente, como se ele fosse uma figura central nesse caos. Os feéricos ao redor dele se curvavam com respeito, e a reverência que demonstravam a ele me deixou ainda mais intrigada.
O que era aquilo?
Fiquei sem palavras, sentindo um misto de fascinação e temor. O som dos cascos e a movimentação dos feéricos pareciam envolver a pousada inteira. Quando eu saí para dar uma olhada mais de perto, um dos feéricos se aproximou e fez um gesto com a mão, indicando que nós, as garotas, devíamos ficar afastadas. A cena estava em total alvoroço.
Um homem em uma armadura dourada desceu de seu cavalo imponente. Ele não tinha asas, mas sua postura e a maneira como se movia deixavam claro que era uma figura de autoridade, provavelmente um líder. O fato de ele não ter asas me chamou a atenção, pois todos os outros feéricos ali possuíam, exceto ele. Era como se ele fosse uma exceção. O homem avançou até Aron, e os outros feéricos que estavam ao redor, como uma pequena delegação, se curvaram diante dele.
— Grã Senhor da Corte Vantharis — o homem disse com uma voz profunda, reverente. — Estamos à sua disposição, como sempre.
Corte Vantharis? O nome ressoou em minha mente, mas eu não fazia a menor ideia de o que isso significava. Corte? Como assim? Havia uma hierarquia feérica além de Aron? Um título, uma posição, algo que ele estava comandando? Meu pensamento era como um turbilhão de perguntas.
Aron não respondeu de imediato, mas seus olhos estavam fixos no homem diante dele. Quando o grã senhor da corte se curvou, vi um sorriso pequeno se formar nos lábios de Aron, mas não era um sorriso gentil. Era algo mais como um reconhecimento frio, como se ele estivesse simplesmente cumprindo um protocolo.
— O que deseja, delegado da Corte Vantharis? — Aron perguntou, sua voz ainda grave e imponente, mas com um toque de desdém.
Aquele homem, com sua armadura dourada e postura inflexível, parecia tão imponente quanto Aron, se não mais. Mas ele não tinha asas como os outros feéricos. Era algo que me intrigava. Quem era esse homem e por que estava se dirigindo a Aron com tanto respeito?
Eu olhei ao redor, tentando entender o que estava acontecendo. Um pensamento me ocorreu: os feéricos, com suas guerras, suas divisões e seus castelos, eram muito mais complexos do que eu havia imaginado. Não era apenas um lugar cheio de magia, mas um mundo com poderosos governantes, disputas de poder e… alianças.
E, no meio de tudo isso, Aron estava de alguma forma no centro. Ele não era apenas um feérico de alta posição; ele era alguém de grande influência.
Mas o que me intrigava ainda mais era o nome que o homem usou – Corte Vantharis. Eu nunca tinha ouvido falar dessa corte, mas de alguma forma sabia que era algo de grande importância.
O grã senhor da corte olhou para mim, e eu pude ver um interesse estranho em seus olhos. Não era um interesse comum, mas algo mais profundo. Ele parecia curioso, como se tivesse notado a tensão em meu corpo ou a maneira como eu observava tudo ao meu redor.
— Quem é ela? — o homem perguntou, com um olhar atento voltado para mim.
Aron olhou para mim, e por um momento, nossos olhares se cruzaram. Eu não sabia o que pensar, mas havia uma pressão no ar, algo palpável, como se a atmosfera tivesse mudado. Eu sabia que o que estava acontecendo agora não era apenas sobre nós, as garotas, mas sobre algo muito maior. Algo que eu mal conseguia entender.
— Ela é… importante — Aron disse, sua voz grave e inexpressiva. Ele não parecia muito entusiasmado em falar sobre isso, mas ao mesmo tempo, seu tom deixou claro que ele estava se referindo a algo sério.
Aquelas palavras ecoaram em minha mente.
Importante? O que ele queria dizer com isso? O que estava acontecendo? Eu ainda não sabia, mas algo dentro de mim começou a entender que havia muito mais em jogo do que simplesmente nossa viagem ou até mesmo essa “parceria” que Aron mencionou.
Eu apenas olhei para ele, tentando processar tudo o que estava acontecendo. As perguntas começaram a se formar novamente, com ainda mais força. Quem eram esses feéricos? O que significava o “Grã Senhor da Corte Vantharis”? E, o mais importante, qual era meu papel nesse jogo de poder feérico que se desdobrava à minha frente?
Não havia respostas ainda. Mas eu sabia que minha jornada estava apenas começando.
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Comments
Rosária 234 Fonseca
eu também estou curiosa pra saber
2025-04-01
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