Capítulo 11 – Sombras e Destino
A primeira coisa que me atingiu foi a imensidão.
O Castelo Negro não era apenas grande; ele era colossal, esmagador, feito para humilhar aqueles que ousassem cruzar seus portões.
Minhas botas tocaram a pedra fria do chão enquanto eu descia da carruagem, o coração acelerado no peito. Eu não conseguia parar de olhar para as torres imensas que se erguiam como lanças contra o céu escuro, suas pontas envoltas na névoa densa que pairava sobre a cidade. A superfície negra e lisa do castelo refletia a luz das tochas, tornando-o ainda mais intimidador, como se estivesse vivo, respirando.
Eu já tinha visto castelos antes—pequenas fortalezas em minha cidade minúscula, feitas de pedra e madeira, humildes e frágeis. Mas isso? Isso era outra coisa.
As portas gigantescas, feitas de ferro negro e adornadas com runas que pareciam se mover por conta própria, se abriram lentamente. O rangido ecoou pelo pátio, e os soldados feéricos se alinharam ao longo das escadarias que levavam à entrada principal. Eles estavam completamente imóveis, como se fossem estátuas vivas, suas armaduras cintilando sob as chamas das tochas.
Mas um deles me olhava.
A sensação de ser analisada fez minha pele arrepiar. Ele usava uma armadura tão escura quanto o próprio castelo, decorada com entalhes dourados. Seus olhos, sombrios e intensos, estavam fixos em mim de um jeito que me fez querer desviar o olhar. Eu não sabia se era curiosidade ou outra coisa.
Antes que eu pudesse decifrar o que aquele olhar significava, um novo movimento chamou minha atenção.
Aron Gardner.
Ele se aproximava das garotas, os passos silenciosos apesar das botas pesadas. Seu manto negro ondulava atrás dele, e seus olhos vermelhos brilhavam na escuridão como brasas vivas.
As outras meninas se encolheram quando ele parou diante delas. Eu permaneci imóvel, observando.
E então, uma nova presença preencheu o espaço.
Duas figuras surgiram no topo das escadarias.
O rei e a rainha.
Eles eram a realeza feérica em sua forma mais pura, e sua presença era esmagadora.
O rei, um homem alto e imponente, trajava um manto pesado de veludo preto, com detalhes em prata que brilhavam à luz das tochas. Seu cabelo era tão escuro quanto a obsidiana, e seus olhos, de um azul profundo, carregavam uma frieza que fazia o ar ao redor parecer mais gélido. Havia algo implacável nele, um peso que me dizia que ele não era um homem que oferecia segundas chances.
Ao lado dele, a rainha era uma visão etérea. Seu vestido prateado parecia feito de névoa, movendo-se suavemente ao redor de seu corpo, e seus cabelos, de um tom dourado quase branco, desciam como seda até a cintura. Mas eram seus olhos que me prenderam—da mesma tonalidade violeta de Aron, porém mais sábios, mais antigos.
Ela não era apenas bela. Ela era algo além da beleza. Algo perigoso.
O rei desceu alguns degraus, sua capa roçando o chão, e parou à frente do filho.
— Aron. — Sua voz era grave, cortante como lâmina afiada. — Por que trouxe humanas para o castelo?
O silêncio se instalou no pátio. Nenhuma das garotas ousou respirar.
Aron não vacilou.
— Elas são de valor. — Sua resposta foi curta, mas carregada de significado.
O rei ergueu uma sobrancelha.
— Valor? Humanos são fracos. Mortais. Fáceis de descartar. Desde quando você coleciona coisas frágeis, meu filho?
A provocação estava ali, afiada, mas Aron permaneceu impassível.
— Elas podem ser úteis. E algumas delas… podem ser mais do que aparentam.
Eu vi os olhos do rei se estreitarem levemente. Ele era um homem que não gostava de enigmas.
A rainha, no entanto, estava olhando para mim.
Diferente do rei, que via Aron como um soldado a ser testado, ela via além. Ela sentia.
Quando seus olhos se prenderam aos meus, um arrepio subiu por minha espinha. Eu sabia que deveria desviar o olhar, mas não consegui.
Seus lábios se entreabriram levemente, e uma ruga se formou entre suas sobrancelhas delicadas.
Foi então que eu vi.
O instante em que ela percebeu.
Seus olhos se arregalaram uma fração de segundo antes de sua expressão se tornar uma máscara de serenidade. Mas eu já tinha visto.
Ela sentiu.
Ela sabia.
Havia algo entre mim e Aron. Algo que nem eu compreendia.
O olhar dela se desviou para o filho, uma avaliação silenciosa que Aron ignorou completamente. Ele parecia mais focado no rei e no desafio implícito em suas palavras.
— E o que exatamente pretende fazer com elas, Aron? — o rei perguntou, um tom de desdém sutil em sua voz.
Aron manteve a postura firme.
— Transformá-las em algo mais. Ou descobrir se já são algo além do que parecem.
O rei soltou um som baixo, quase um riso, mas sem humor algum.
— Interessante. Você acha que pode moldá-las como se molda ferro em uma lâmina? Eu espero que saiba o que está fazendo. Você sabe como lidamos com erros, Aron.
Aron não respondeu, mas a tensão no ar se intensificou.
A rainha deu um passo à frente, sua voz suave cortando o momento como seda afiada.
— E você, meu filho? O que mais descobriu nesta noite além do valor dessas humanas?
Foi uma pergunta delicada, mas carregada de algo mais.
Aron finalmente olhou para ela, e por um breve momento, algo passou entre os dois. Algo que eu não conseguia decifrar.
Eu apenas permaneci ali. Em silêncio. Observando.
Mas algo me dizia que, depois daquela noite, eu nunca mais passaria despercebida.
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