Rafael ficou encarando a tela apagada do mini leitor de dados. A imagem do menino submerso ainda queimava em sua mente.
Ana o observava em silêncio. Ela nunca tinha visto Rafael tão quieto, tão perdido.
— Rafael… — ela tentou chamar sua atenção.
Ele piscou, como se estivesse voltando à realidade.
— Isso muda tudo, não é? — Ana perguntou.
Ele soltou um riso sem humor.
— Isso muda tudo sobre quem eu sou.
Ana mordeu o lábio.
— Você acha que... eles apagaram suas memórias?
Rafael olhou para ela, a expressão sombria.
— É a única explicação. Eu não me lembro de nada antes dos meus doze anos. Sempre achei que era por causa do acidente de carro que matou meus pais adotivos. Mas e se… e se eles nunca foram meus pais?
Ana sentiu um arrepio.
— Então, quem você é de verdade?
Rafael passou a mão pelo rosto, exausto.
— Eu não sei. Mas agora, eu preciso descobrir.
Silêncio.
O vento frio entrava pelas frestas do galpão abandonado onde estavam escondidos. Lá fora, a floresta era apenas uma sombra escura, cheia de perigos invisíveis.
Ana olhou para Rafael, determinada.
— Se eles apagaram suas memórias, talvez possamos recuperá-las.
Rafael arqueou uma sobrancelha.
— Como?
Ana hesitou.
— Bem… no filme que vi uma vez, eles usaram hipnose. Mas também tem técnicas de regressão, estimulação cerebral, até mesmo realidade virtual…
Rafael sorriu levemente.
— Você assiste filmes demais.
— E você acha que hackers não podem usar tecnologia para recuperar memórias?
Ele ficou pensativo.
— Na verdade… talvez.
Ana se animou.
— Sério?
— Existe uma técnica chamada neuromapping. Alguns hackers experimentam isso para desbloquear partes reprimidas da memória. Mas é arriscado.
Ana cruzou os braços.
— Tudo que fizemos até agora é arriscado.
Rafael respirou fundo.
— Precisamos de equipamentos que só existem em um lugar.
— E onde seria isso?
Ele olhou para ela, hesitante.
— No laboratório da Sentinela.
Ana arregalou os olhos.
— Você tá dizendo que a gente precisa invadir a base deles?
— Exatamente.
Ana riu, incrédula.
— Meu Deus, você realmente tem um desejo de morte.
Rafael sorriu de lado.
— Você sabia disso desde o começo.
Ela suspirou.
— Tá. Então, como fazemos isso?
Ele pegou um mapa digital no tablet e mostrou um prédio enorme na tela.
— Esse é o Laboratório Primário da Sentinela. É onde eles fazem os testes de inteligência artificial e controle neural. Aposto que é lá que têm meus arquivos.
Ana analisou a imagem.
— Como você tem esse mapa?
— Eu roubei dos servidores deles meses atrás. Não sabia que um dia ia precisar de verdade.
Ana riu, balançando a cabeça.
— Então, quando invadimos?
Rafael fechou o tablet e se levantou.
— Amanhã.
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Plano de Invasão
Na manhã seguinte, Rafael e Ana estavam escondidos em um estacionamento abandonado, observando o laboratório de longe.
Era um prédio de concreto, rodeado por cercas eletrificadas e câmeras de segurança. Guardas patrulhavam a entrada.
Ana engoliu em seco.
— Parece impossível.
Rafael sorriu.
— Impossível é só uma palavra.
Ele mostrou dois crachás falsificados.
— Vamos entrar como funcionários da manutenção.
Ana pegou um dos crachás.
— Você realmente pensa em tudo.
— Eu prefiro dizer que eu odeio surpresas.
Eles se trocaram rapidamente, vestindo uniformes cinza com o logo da Sentinela.
Antes de sair, Rafael olhou para Ana.
— Se algo der errado…
— Eu sei, eu corro. Mas não vou te deixar para trás.
Ele segurou o olhar dela por um momento antes de assentir.
— Vamos.
Eles caminharam até a entrada lateral do laboratório.
Rafael passou o crachá na leitora.
A luz ficou verde.
A porta destravou.
Ana prendeu a respiração enquanto entravam.
E então, estavam dentro.
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O Subnível Oculto
O interior do laboratório era frio e impessoal. Pessoas de jaleco andavam de um lado para o outro, absortas em seus afazeres.
Rafael segurava um tablet, fingindo conferir ordens de serviço.
Ana sussurrava ao lado dele:
— E agora?
— Precisamos encontrar o subnível 3.
Eles caminharam pelos corredores até acharem um elevador restrito.
Rafael conectou um pequeno dispositivo na leitora de cartões.
A tela piscou.
ACESSO AUTORIZADO.
Ana ficou impressionada.
— Você é assustadoramente bom nisso.
— Eu sei.
Eles entraram no elevador.
Rafael pressionou o botão do subnível 3.
O elevador desceu lentamente.
Ana sentia o coração martelar.
Quando as portas se abriram, eles estavam em um corredor estreito, iluminado por luzes fluorescentes.
E no fim dele, havia uma sala de vidro com servidores enormes.
Rafael sorriu.
— Achei.
Eles correram para dentro.
Rafael se conectou ao sistema e começou a procurar arquivos.
Ana vigiava a porta.
Minutos se passaram em silêncio tenso.
Então, Rafael murmurou:
— Achei algo.
Ana se aproximou.
Na tela, havia um dossiê sobre Rafael.
Ele abriu.
E então, ali estava:
Nome Original: Rafael 001
Projeto: Sentinela - Modelo Alfa
Objetivo: Desenvolvimento de IA preditiva com base em padrões cerebrais humanos avançados.
Memórias: Reconfiguradas para adaptação ao ambiente externo.
Status: ALVO CRÍTICO. RECUPERAÇÃO PRIORITÁRIA.
Ana sentiu um arrepio.
— Eles literalmente te chamam de "Alvo Crítico".
Rafael estava paralisado.
Ele clicou em outro arquivo de vídeo.
Era uma gravação de uma reunião interna.
O homem de terno do hotel aparecia novamente.
— O experimento foi bem-sucedido. O modelo preditivo é 98% eficiente. Precisamos que Rafael 001 retorne para a fase final.
— E se ele resistir?
— Então ele será eliminado.
O vídeo terminou.
Ana e Rafael se entreolharam.
— Isso significa que… — Ana começou.
— Significa que eles não querem apenas me capturar. Querem me apagar.
Ana sentiu a adrenalina disparar.
— Então, saímos daqui agora!
Mas antes que pudessem se mexer…
A porta da sala se abriu.
E o homem do hotel estava ali, ao lado de dois guardas armados.
Ele sorriu friamente.
— Rafael 001. Finalmente nos encontramos.
Rafael puxou Ana para trás, protegendo-a.
— Eu não sou mais seu experimento.
O homem suspirou.
— Eu temo que você não tenha escolha.
Ele acenou para os guardas.
— Levem-no. A garota também.
Ana sentiu o estômago revirar.
Eles estavam encurralados.
Sem saída.
E pela primeira vez…
Rafael não tinha um plano.
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Atualizado até capítulo 22
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