Ana não conseguiu se concentrar na escola naquela manhã. Seus pensamentos estavam presos no sótão, onde Rafael, o hacker fugitivo, estava escondido. A cada toque do celular no bolso, sentia um arrepio. E se ele fosse descoberto? E se alguém já soubesse que ele estava ali?
Quando o último sinal tocou, ela pegou sua mochila e saiu apressada, ignorando os chamados de Júlia, sua melhor amiga. Tinha uma missão a cumprir.
Compras suspeitas
Ana entrou na primeira loja de eletrônicos que encontrou. O plano era simples: comprar um chip novo de celular e um pen drive sem chamar atenção.
Mas tudo nela parecia suspeito.
O atendente, um homem de uns 30 anos com uma barba rala, ergueu as sobrancelhas quando ela pegou um chip pré-pago e um pen drive de alta capacidade.
— Precisa de ajuda, moça?
Ela forçou um sorriso.
— Não, obrigada. É para o meu primo.
O homem assentiu devagar, como se não acreditasse muito.
Ana pagou rapidamente e saiu da loja, o coração disparado. Quando chegou em casa, subiu as escadas o mais silenciosamente possível e fechou a porta do sótão.
Rafael estava sentado no chão, de costas para ela, os olhos fixos na tela do laptop.
— Conseguiu? — ele perguntou sem se virar.
Ana jogou a sacola para ele.
— Tá tudo aí. Mas foi estranho. O cara da loja ficou me olhando esquisito.
Rafael abriu a embalagem do chip e inseriu no celular.
— Eles sempre desconfiam quando alguém compra coisas desse tipo sem fazer perguntas. Mas não se preocupe.
Ana bufou.
— Fácil para você dizer. Eu não sou criminosa profissional.
Ele riu baixo.
— Eu não sou criminoso.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Você é um hacker fugitivo escondido no meu sótão.
— Tecnicamente, você está me ajudando.
Ana revirou os olhos, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso.
Rastreando os rastreadores
Rafael conectou o novo celular e começou a digitar rapidamente. Ana se sentou ao lado dele, observando a tela.
— O que você tá fazendo agora?
— Criando um sistema para detectar qualquer movimentação suspeita perto daqui. Se a polícia cibernética estiver ativa nesta área, quero saber antes que eles cheguem na nossa porta.
Ana sentiu um arrepio.
— Você realmente acha que eles podem nos encontrar?
Rafael a encarou por um momento antes de responder.
— Não acho. Sei que vão.
Ela engoliu em seco.
— Então por que ainda está aqui?
Ele suspirou.
— Porque preciso de tempo. Há algo importante que ainda não consegui decifrar nos arquivos que roubei. Se eu conseguir abrir esses arquivos antes que me encontrem, posso expor tudo de uma vez.
Ana cruzou os braços.
— E se não conseguir?
Rafael sorriu, mas sem humor.
— Então eu só vou correr. Como sempre.
O silêncio caiu entre eles. Ana não sabia o que responder. De certa forma, sentia pena dele. Sempre fugindo, sempre escondido.
De repente, o laptop apitou.
Rafael arregalou os olhos.
— Droga…
— O que foi? — Ana se aproximou.
Na tela, um mapa exibia vários pontos piscando em vermelho.
— Esses são os servidores da polícia cibernética. Eles aumentaram a atividade na nossa cidade.
Ana sentiu o estômago revirar.
— Isso significa que estão perto?
Rafael apertou os lábios.
— Significa que estão procurando. E se aumentarem a busca, vamos precisar sair daqui antes do previsto.
Ana respirou fundo.
— Então o que fazemos?
Ele a encarou, sério.
— Agora, a gente se prepara.
Os primeiros passos da fuga
Durante o resto do dia, Rafael e Ana começaram a traçar um plano.
— Precisamos de dinheiro, mas nada que possa ser rastreado — ele explicou.
Ana franziu a testa.
— Como vou conseguir dinheiro sem ser rastreada?
— Tem caixas eletrônicos que não pedem reconhecimento facial. Vou te passar os endereços. Você pode sacar um pouco por vez.
Ana hesitou.
— Isso não é… ilegal?
Rafael sorriu de canto.
— Você já tá envolvida nisso.
Ela bufou.
— Ótimo. Mais crimes para minha lista.
— Eu prefiro chamar de sobrevivência.
Ana revirou os olhos, mas anotou os endereços.
— E depois?
— Precisamos de um carro.
Ela arregalou os olhos.
— Eu nem sei dirigir.
Rafael riu.
— Eu sei.
— Você é menor de idade!
— Eu sei dirigir.
Ana suspirou, sentindo que estava se metendo cada vez mais fundo na confusão.
— Certo. E onde conseguimos um carro?
Rafael ficou em silêncio por um momento antes de responder.
— Eu tenho um contato. Mas vai ser arriscado.
Ana não gostou do som daquilo.
— O que quer dizer com “arriscado”?
— Quero dizer que é alguém que pode ajudar… ou nos entregar.
Ela cruzou os braços.
— E mesmo assim você quer arriscar?
— Não temos muitas opções, Ana.
Ela suspirou pesadamente.
— Tá bom. Mas se isso der errado, você me deve muito.
Rafael sorriu.
— Fechado.
Uma escolha sem volta
Naquela noite, Ana mal dormiu. A cada barulho que ouvia, sentia um arrepio, achando que a qualquer momento alguém bateria na porta, dizendo que descobriram tudo.
Mas nada aconteceu.
Quando amanheceu, Rafael já estava de pé, organizando algumas coisas em uma mochila.
— Preparada? — ele perguntou.
Ana respirou fundo.
— Não.
Ele sorriu.
— Ótimo. Isso significa que ainda tem juízo.
Ela revirou os olhos e pegou a mochila.
— Vamos logo antes que eu mude de ideia.
Enquanto saíam de casa, Ana sentiu seu coração bater mais rápido.
Aquela era a última vez que teria uma vida normal.
E, estranhamente, ela não sentia mais medo.
Ela sentia que pertencia àquilo.
Que agora, fazia parte daquela fuga.
E não havia mais volta.
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Atualizado até capítulo 22
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