O sótão estava silencioso, iluminado apenas pela fraca luz de um pequeno abajur velho. Rafael ainda parecia alerta, como se estivesse pronto para fugir a qualquer momento. Ana, por outro lado, sentia o peso de cada batida do próprio coração.
— Certo — ela quebrou o silêncio. — Vamos começar do começo. Quem exatamente está atrás de você?
Rafael passou a mão pelos cabelos, visivelmente cansado.
— O governo. A polícia cibernética. Agentes que não querem que certas informações venham à tona.
Ana piscou, tentando absorver aquilo.
— Você fez algo… muito ilegal?
Rafael soltou um riso sem humor.
— Depende do ponto de vista. Descobri informações que não deveriam estar escondidas. Corrupção, desvio de dinheiro, espionagem contra civis. Consegui acessar os arquivos de uma organização que trabalha nos bastidores, apagando rastros e silenciando pessoas.
Ana sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— E o que você ia fazer com isso?
Rafael olhou para ela, sério.
— Divulgar.
Ela desviou o olhar, tentando processar.
— Mas você foi pego.
— Quase. — Ele cerrou os punhos. — Eles rastrearam minha localização, mas consegui fugir antes. Só que não foi suficiente.
Ana mordeu o lábio.
— Então, você tá me dizendo que… se alguém te encontrar aqui, minha casa vira alvo?
Rafael abaixou a cabeça por um momento antes de encará-la de novo.
— Sim.
O silêncio se estendeu entre eles.
Ana sentia um turbilhão de emoções. Medo. Ansiedade. Mas, acima de tudo, uma adrenalina estranha, como se estivesse sendo puxada para algo maior do que ela mesma.
Ela suspirou, cruzando os braços.
— Você tem um plano ou só tá sobrevivendo no improviso?
Rafael ergueu uma sobrancelha.
— Eu tinha um plano. Mas ele desmoronou quando fui descoberto. Agora, só estou tentando sobreviver tempo suficiente para recomeçar.
Ana sentiu o peso daquelas palavras.
— Certo. Então… como eu posso ajudar?
Ele franziu o cenho.
— Tem certeza de que quer se envolver nisso?
Ana deu de ombros.
— Eu já estou envolvida, não tô? Se eu quisesse te denunciar, já teria feito.
Rafael observou ela por um instante antes de assentir.
— Preciso de internet. Mas não posso me conectar direto na rede da sua casa. É muito arriscado.
— Então o que sugere?
— Um cabo de rede. Se você conseguir um, posso acessar sem precisar de Wi-Fi.
Ana pensou por um momento.
— O roteador fica na sala, mas eu posso puxar um cabo daqui de cima… Se minha mãe não notar.
Rafael deu um meio sorriso.
— Consegue fazer isso?
— Eu consigo tentar.
Ana se levantou, sentindo o coração acelerar. Ela abriu a porta do sótão e desceu as escadas, caminhando cautelosamente até a sala. A casa estava escura e silenciosa. Sua mãe provavelmente já estava dormindo.
Ela se ajoelhou perto do roteador, estendendo a mão para desconectar um dos cabos de rede. Mas, no momento em que o fez, ouviu um rangido no piso atrás dela.
Seu coração disparou.
Virou-se lentamente.
Nada.
O silêncio da casa era quase opressor.
Respirando fundo, puxou o cabo, enrolou-o na mão e se levantou o mais silenciosamente possível. Subiu as escadas de volta para o sótão, fechando a porta atrás de si.
Rafael a observava atentamente.
— Conseguiu?
Ela mostrou o cabo.
— Aqui está.
Ele sorriu.
— Impressionante.
Ana bufou.
— Não elogia. Isso só me faz sentir mais criminosa.
Rafael pegou o cabo e conectou ao laptop. A tela piscou, e ele começou a digitar rapidamente.
— Agora vamos ver se consigo me conectar sem que me rastreiem.
Ana observou os dedos dele se moverem com precisão assustadora.
— O que exatamente você está fazendo?
— Roteando minha conexão através de múltiplos servidores ao redor do mundo. Assim, mesmo que alguém tente rastrear, vai levar tempo.
— Isso parece coisa de filme.
Rafael sorriu de canto.
— A vida real pode ser mais perigosa que qualquer ficção.
Ana cruzou os braços.
— E se eles ainda estiverem monitorando você?
Rafael apertou os lábios.
— Então vamos descobrir rápido.
O silêncio voltou a tomar conta do sótão. Ana sentia uma mistura de fascínio e medo enquanto o via trabalhar.
Depois de alguns minutos, Rafael parou, olhando fixamente para a tela.
— O que foi? — ela perguntou, apreensiva.
Ele virou a tela para ela.
— Olha isso.
Na tela, havia um mapa com pontos vermelhos piscando.
— O que é isso?
— Locais onde a polícia cibernética está ativa. E um deles está nesta cidade.
Ana sentiu um frio na espinha.
— Isso significa que eles estão perto?
Rafael assentiu lentamente.
— Sim. Mas ainda não sabem onde estou.
Ela respirou fundo, sentindo a adrenalina aumentar.
— Ok… Então qual o próximo passo?
Ele digitou mais alguns comandos.
— Primeiro, preciso verificar se ainda tenho acesso ao sistema deles. Se conseguir, posso ver o que sabem sobre mim.
Ana franziu a testa.
— Isso não é arriscado?
Rafael sorriu de lado.
— Tudo o que eu faço é arriscado.
Ela bufou.
— Você realmente gosta de viver no limite, hein?
— Não é questão de gostar. É questão de sobrevivência.
Ana ficou em silêncio. De repente, o laptop apitou. Rafael arregalou os olhos.
— Consegui entrar.
Ana se aproximou para olhar a tela. Um banco de dados estava aberto, exibindo múltiplos arquivos com nomes codificados.
— Isso é…?
— Os relatórios deles sobre mim.
Ele começou a abrir os arquivos, e Ana leu em silêncio.
"Indivíduo altamente qualificado em invasão de sistemas. Habilidade de driblar firewalls e criptografias avançadas. Tentativa de acessar dados sigilosos do governo. Considerado uma ameaça de alto risco."
Ela engoliu em seco.
— Eles estão falando de você como se fosse um terrorista.
Rafael fechou os olhos por um momento.
— É assim que funciona. Quando alguém descobre algo que não deveria, se torna um inimigo.
Ana sentiu um peso no peito.
— E o que você vai fazer agora?
Ele olhou para ela, sério.
— Descobrir até onde eles chegaram. E, se possível, usar isso contra eles.
Ela respirou fundo.
— E eu?
Ele hesitou.
— Você não precisa se envolver mais do que já está.
Ana cruzou os braços.
— Eu já estou envolvida. Então me diz logo como posso ajudar.
Rafael a observou por um momento antes de assentir.
— Amanhã, preciso que compre algumas coisas pra mim. Um chip novo de celular, um pen drive e… café. Muito café.
Ana riu, apesar da tensão.
— Café?
Ele sorriu.
— Eu preciso me manter acordado.
Ela suspirou.
— Certo. Mas você me deve explicações melhores depois.
— Combinado.
O silêncio caiu novamente sobre o sótão.
Ana olhou para Rafael, percebendo algo que não tinha notado antes. Apesar da postura confiante e do talento óbvio, ele parecia… cansado.
E, de alguma forma, aquilo a fez confiar nele ainda mais.
Ela se levantou.
— Melhor eu ir dormir antes que minha mãe perceba algo.
Rafael assentiu.
— Boa ideia.
Antes de sair, Ana parou na porta.
— Boa sorte com essa coisa toda.
Ele sorriu de leve.
— Obrigado. Boa noite, Ana.
Ela fechou a porta, sentindo que sua vida tinha mudado completamente.
E que não havia mais volta.
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Atualizado até capítulo 22
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