Ecos de Amor Perdido
Aoi estava sentada na biblioteca, perdida em meio às páginas de um antigo romance. O cheiro dos livros antigos misturava-se ao silêncio reconfortante do ambiente. Com um café morno ao lado e um marcador entre os dedos, ela sublinhava palavras que pareciam falar diretamente com sua alma.
Souta entrou no recinto, tirando o capuz da jaqueta e sacudindo levemente a chuva fina que havia molhado seus ombros. Seus olhos percorreram as prateleiras à procura de um livro específico, mas, ao passar por uma mesa próxima à janela, seus passos vacilaram.
Aoi ergueu os olhos ao sentir uma presença próxima. Ele a olhava com uma expressão indecifrável, como se tentasse lembrar-se de algo.
— Com licença... — Souta murmurou, hesitante.
— Sim? — Aoi respondeu, inclinando a cabeça.
— Você já leu esse livro antes? — Ele apontou para o exemplar em suas mãos.
Aoi piscou algumas vezes antes de responder:
— Já, mas sempre volto a ele. Há algo nesse livro que me prende.
Souta sorriu de lado.
— Acho que entendo. Algumas histórias parecem nos chamar de volta.
O silêncio pairou entre os dois por um instante. Aoi sentiu um estranho calor familiar na presença daquele rapaz. Era como se já tivessem se visto antes, mas não conseguia se lembrar de onde.
— Você... parece familiar — disse Aoi, franzindo as sobrancelhas.
Souta riu suavemente, puxando uma cadeira e se sentando sem pedir permissão, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Engraçado, eu estava pensando a mesma coisa.
Ela o observou por alguns segundos, tentando encaixar o rosto dele em alguma memória perdida. Nada vinha.
— Será que já nos encontramos antes? — perguntou ela, mordendo o lábio.
— Não sei... Talvez em outra vida.
Aoi riu baixinho.
— Você acredita nisso?
— Acredito que algumas pessoas estão destinadas a se encontrar. Mesmo que seja só para uma conversa em uma biblioteca.
Aoi segurou o riso.
— Essa foi boa. Você sempre solta frases poéticas para estranhos?
— Só para aqueles que seguram um dos meus livros favoritos.
Ela olhou para a capa do livro, surpresa.
— Você gosta desse livro?
— Eu amo esse livro. E você?
— Eu também.
Os olhos de Souta brilharam.
— Então já temos algo em comum.
Eles passaram os minutos seguintes discutindo sobre o livro, cada um oferecendo sua interpretação sobre os personagens e o significado das palavras sublinhadas por Aoi. O tempo parecia desacelerar, e o burburinho suave da biblioteca se tornou um pano de fundo confortável.
— Certo, eu preciso saber seu nome — disse Souta, de repente.
— Aoi. E o seu?
— Souta.
Aoi sorriu.
— Parece nome de protagonista de livro.
— Vou tomar isso como um elogio.
Ela olhou para o relógio e suspirou.
— Preciso ir. Mas... gostei dessa conversa.
— Eu também.
Souta hesitou por um momento antes de falar:
— Se eu disser que adoraria continuar essa conversa em outro lugar, soaria muito precipitado?
Aoi ergueu uma sobrancelha, fingindo analisar a proposta.
— Isso depende. Você é um estranho que acabou de se sentar na minha mesa sem permissão.
— E você é uma garota misteriosa que parece que eu conheço há anos.
Ela riu.
— Você é bom nisso, hein?
— Digamos que eu sou bom em reconhecer coincidências que não são apenas coincidências.
Aoi pegou um pedaço de papel e escreveu um número, deslizando-o para ele.
— Podemos continuar essa conversa outro dia.
Souta pegou o papel com um sorriso satisfeito.
— Eu vou cobrar essa promessa, Aoi.
Ela pegou sua bolsa e, antes de sair, olhou para trás.
— Até logo, Souta.
— Até logo, Aoi.
Ele a observou desaparecer entre as prateleiras. Depois de anos frequentando aquela biblioteca, Souta sabia que nunca mais enxergaria aquele lugar da mesma forma.
Nos dias seguintes, Souta pegava o pedaço de papel com o número de Aoi diversas vezes, hesitando antes de ligar. Ele não queria parecer ansioso, mas a lembrança daquela conversa na biblioteca não saía de sua mente.
Na tarde do terceiro dia, enquanto segurava o telefone, ele finalmente tomou coragem e digitou o número.
Chamou três vezes antes de Aoi atender.
— Alô?
— Aoi? É o Souta.
Ela ficou em silêncio por um instante antes de responder com um sorriso perceptível na voz:
— Demorou, hein?
Ele riu, aliviado.
— Eu queria fazer um suspense.
— Ah, claro. Mas e aí, qual a desculpa para me ligar?
— Bom... eu pensei que poderíamos continuar nossa conversa.
— Hm... e onde seria esse segundo capítulo?
— Você gosta de chá?
— Depende. Você está me convidando para um chá?
— Sim. E prometo que a conversa será ainda melhor do que a da biblioteca.
Aoi fingiu pensar.
— Certo. Mas só porque eu sou uma amante de boas conversas.
— Ótimo. Conheço um lugar perfeito. Amanhã, às três?
— Fechado.
No dia seguinte, Souta chegou cedo ao pequeno café escondido entre as ruas movimentadas de Tóquio. Ele escolheu uma mesa próxima à janela, onde a luz dourada da tarde iluminava suavemente o ambiente.
Às 15h em ponto, Aoi apareceu. Ela vestia um suéter azul-claro e um casaco cinza, e trazia consigo aquele mesmo ar misterioso que o intrigava.
— Você realmente escolheu um lugar aconchegante — disse ela, sentando-se à sua frente.
— Achei que combinava com você.
Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.
— E como exatamente você sabe o que combina comigo?
— Chutando. Até agora, estou com sorte.
Aoi riu e pegou o cardápio.
— Vamos ver se seu palpite continua bom.
Eles pediram chá verde e alguns doces tradicionais. Enquanto esperavam, Aoi observou Souta.
— Você vem sempre aqui?
— Sempre que preciso pensar. Esse lugar me ajuda a organizar as ideias.
— E sobre o que você pensa tanto?
Ele deu de ombros.
— Sobre a vida. Histórias. Pessoas que encontro pelo caminho.
— Eu sou uma dessas pessoas?
Souta sorriu.
— Você é uma das mais interessantes.
Aoi sentiu um leve rubor subir ao rosto, mas disfarçou, brincando:
— Você fala assim com todas as garotas que encontra na biblioteca?
— Só com aquelas que parecem que eu já conheci antes.
Ela olhou para ele, intrigada.
— Você ainda tem essa sensação?
Ele assentiu.
— E você?
Aoi mordeu o lábio inferior, pensativa.
— É estranho, mas sim. Como se já tivéssemos conversado antes. Como se já tivéssemos... vivido algo juntos.
Souta se inclinou um pouco mais na mesa.
— Você acredita em destino?
— Não sei. Mas acredito que algumas pessoas aparecem em nossas vidas por um motivo.
— E qual seria o meu motivo para ter aparecido na sua?
Aoi sorriu de canto.
— Talvez você ainda tenha que descobrir.
Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas sentindo a conexão inexplicável que pairava entre eles. O chá chegou, e a conversa continuou, fluindo naturalmente como se fossem velhos amigos.
Ao longo das semanas, os encontros se tornaram frequentes. Biblioteca, cafés, parques... cada conversa revelava um pouco mais sobre suas vidas, mas a sensação estranha de familiaridade entre eles nunca desaparecia.
Certa noite, enquanto caminhavam juntos pelo parque iluminado por lanternas de papel, Souta parou repentinamente.
— Aoi... eu tive um sonho estranho ontem.
— Sobre o quê?
— Sobre nós dois. Mas não era nesse tempo. Parecia... outra época.
Aoi sentiu um calafrio.
— Como assim?
— No sonho, nós vestíamos roupas antigas, como de séculos atrás. Estávamos debaixo de uma cerejeira, e você me entregava algo... um cordão vermelho.
Os olhos de Aoi se arregalaram.
— Souta...
— O que foi?
— Eu também tive um sonho parecido.
Souta ficou imóvel.
— Sério?
Ela assentiu.
— Eu vi uma cena parecida. Mas, no meu sonho, você estava partindo para algum lugar. E eu te dei o cordão para que não me esquecesse.
Eles ficaram em silêncio, absorvendo aquela revelação. O vento balançava as folhas, e o barulho distante da cidade parecia desaparecer.
— Você acha que... — Souta hesitou.
— Que já vivemos algo juntos antes? — completou Aoi.
Ele assentiu.
Ela olhou para ele, sentindo o coração acelerar.
— Se for verdade... então talvez nosso reencontro não seja apenas coincidência.
Souta segurou a mão dela, sentindo um calor reconfortante.
— Seja destino ou acaso, eu sei que não quero perder essa conexão.
Aoi apertou suavemente a mão dele e sorriu.
— Então vamos descobrir juntos.
E sob as luzes suaves do parque, eles sentiram que, de alguma forma, suas almas já haviam se encontrado antes—e agora tinham uma segunda chance.
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Atualizado até capítulo 20
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