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Ecos de Amor Perdido

O Encontro

Aoi estava sentada na biblioteca, perdida em meio às páginas de um antigo romance. O cheiro dos livros antigos misturava-se ao silêncio reconfortante do ambiente. Com um café morno ao lado e um marcador entre os dedos, ela sublinhava palavras que pareciam falar diretamente com sua alma.

Souta entrou no recinto, tirando o capuz da jaqueta e sacudindo levemente a chuva fina que havia molhado seus ombros. Seus olhos percorreram as prateleiras à procura de um livro específico, mas, ao passar por uma mesa próxima à janela, seus passos vacilaram.

Aoi ergueu os olhos ao sentir uma presença próxima. Ele a olhava com uma expressão indecifrável, como se tentasse lembrar-se de algo.

— Com licença... — Souta murmurou, hesitante.

— Sim? — Aoi respondeu, inclinando a cabeça.

— Você já leu esse livro antes? — Ele apontou para o exemplar em suas mãos.

Aoi piscou algumas vezes antes de responder:

— Já, mas sempre volto a ele. Há algo nesse livro que me prende.

Souta sorriu de lado.

— Acho que entendo. Algumas histórias parecem nos chamar de volta.

O silêncio pairou entre os dois por um instante. Aoi sentiu um estranho calor familiar na presença daquele rapaz. Era como se já tivessem se visto antes, mas não conseguia se lembrar de onde.

— Você... parece familiar — disse Aoi, franzindo as sobrancelhas.

Souta riu suavemente, puxando uma cadeira e se sentando sem pedir permissão, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Engraçado, eu estava pensando a mesma coisa.

Ela o observou por alguns segundos, tentando encaixar o rosto dele em alguma memória perdida. Nada vinha.

— Será que já nos encontramos antes? — perguntou ela, mordendo o lábio.

— Não sei... Talvez em outra vida.

Aoi riu baixinho.

— Você acredita nisso?

— Acredito que algumas pessoas estão destinadas a se encontrar. Mesmo que seja só para uma conversa em uma biblioteca.

Aoi segurou o riso.

— Essa foi boa. Você sempre solta frases poéticas para estranhos?

— Só para aqueles que seguram um dos meus livros favoritos.

Ela olhou para a capa do livro, surpresa.

— Você gosta desse livro?

— Eu amo esse livro. E você?

— Eu também.

Os olhos de Souta brilharam.

— Então já temos algo em comum.

Eles passaram os minutos seguintes discutindo sobre o livro, cada um oferecendo sua interpretação sobre os personagens e o significado das palavras sublinhadas por Aoi. O tempo parecia desacelerar, e o burburinho suave da biblioteca se tornou um pano de fundo confortável.

— Certo, eu preciso saber seu nome — disse Souta, de repente.

— Aoi. E o seu?

— Souta.

Aoi sorriu.

— Parece nome de protagonista de livro.

— Vou tomar isso como um elogio.

Ela olhou para o relógio e suspirou.

— Preciso ir. Mas... gostei dessa conversa.

— Eu também.

Souta hesitou por um momento antes de falar:

— Se eu disser que adoraria continuar essa conversa em outro lugar, soaria muito precipitado?

Aoi ergueu uma sobrancelha, fingindo analisar a proposta.

— Isso depende. Você é um estranho que acabou de se sentar na minha mesa sem permissão.

— E você é uma garota misteriosa que parece que eu conheço há anos.

Ela riu.

— Você é bom nisso, hein?

— Digamos que eu sou bom em reconhecer coincidências que não são apenas coincidências.

Aoi pegou um pedaço de papel e escreveu um número, deslizando-o para ele.

— Podemos continuar essa conversa outro dia.

Souta pegou o papel com um sorriso satisfeito.

— Eu vou cobrar essa promessa, Aoi.

Ela pegou sua bolsa e, antes de sair, olhou para trás.

— Até logo, Souta.

— Até logo, Aoi.

Ele a observou desaparecer entre as prateleiras. Depois de anos frequentando aquela biblioteca, Souta sabia que nunca mais enxergaria aquele lugar da mesma forma.

Nos dias seguintes, Souta pegava o pedaço de papel com o número de Aoi diversas vezes, hesitando antes de ligar. Ele não queria parecer ansioso, mas a lembrança daquela conversa na biblioteca não saía de sua mente.

Na tarde do terceiro dia, enquanto segurava o telefone, ele finalmente tomou coragem e digitou o número.

Chamou três vezes antes de Aoi atender.

— Alô?

— Aoi? É o Souta.

Ela ficou em silêncio por um instante antes de responder com um sorriso perceptível na voz:

— Demorou, hein?

Ele riu, aliviado.

— Eu queria fazer um suspense.

— Ah, claro. Mas e aí, qual a desculpa para me ligar?

— Bom... eu pensei que poderíamos continuar nossa conversa.

— Hm... e onde seria esse segundo capítulo?

— Você gosta de chá?

— Depende. Você está me convidando para um chá?

— Sim. E prometo que a conversa será ainda melhor do que a da biblioteca.

Aoi fingiu pensar.

— Certo. Mas só porque eu sou uma amante de boas conversas.

— Ótimo. Conheço um lugar perfeito. Amanhã, às três?

— Fechado.

No dia seguinte, Souta chegou cedo ao pequeno café escondido entre as ruas movimentadas de Tóquio. Ele escolheu uma mesa próxima à janela, onde a luz dourada da tarde iluminava suavemente o ambiente.

Às 15h em ponto, Aoi apareceu. Ela vestia um suéter azul-claro e um casaco cinza, e trazia consigo aquele mesmo ar misterioso que o intrigava.

— Você realmente escolheu um lugar aconchegante — disse ela, sentando-se à sua frente.

— Achei que combinava com você.

Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.

— E como exatamente você sabe o que combina comigo?

— Chutando. Até agora, estou com sorte.

Aoi riu e pegou o cardápio.

— Vamos ver se seu palpite continua bom.

Eles pediram chá verde e alguns doces tradicionais. Enquanto esperavam, Aoi observou Souta.

— Você vem sempre aqui?

— Sempre que preciso pensar. Esse lugar me ajuda a organizar as ideias.

— E sobre o que você pensa tanto?

Ele deu de ombros.

— Sobre a vida. Histórias. Pessoas que encontro pelo caminho.

— Eu sou uma dessas pessoas?

Souta sorriu.

— Você é uma das mais interessantes.

Aoi sentiu um leve rubor subir ao rosto, mas disfarçou, brincando:

— Você fala assim com todas as garotas que encontra na biblioteca?

— Só com aquelas que parecem que eu já conheci antes.

Ela olhou para ele, intrigada.

— Você ainda tem essa sensação?

Ele assentiu.

— E você?

Aoi mordeu o lábio inferior, pensativa.

— É estranho, mas sim. Como se já tivéssemos conversado antes. Como se já tivéssemos... vivido algo juntos.

Souta se inclinou um pouco mais na mesa.

— Você acredita em destino?

— Não sei. Mas acredito que algumas pessoas aparecem em nossas vidas por um motivo.

— E qual seria o meu motivo para ter aparecido na sua?

Aoi sorriu de canto.

— Talvez você ainda tenha que descobrir.

Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas sentindo a conexão inexplicável que pairava entre eles. O chá chegou, e a conversa continuou, fluindo naturalmente como se fossem velhos amigos.

Ao longo das semanas, os encontros se tornaram frequentes. Biblioteca, cafés, parques... cada conversa revelava um pouco mais sobre suas vidas, mas a sensação estranha de familiaridade entre eles nunca desaparecia.

Certa noite, enquanto caminhavam juntos pelo parque iluminado por lanternas de papel, Souta parou repentinamente.

— Aoi... eu tive um sonho estranho ontem.

— Sobre o quê?

— Sobre nós dois. Mas não era nesse tempo. Parecia... outra época.

Aoi sentiu um calafrio.

— Como assim?

— No sonho, nós vestíamos roupas antigas, como de séculos atrás. Estávamos debaixo de uma cerejeira, e você me entregava algo... um cordão vermelho.

Os olhos de Aoi se arregalaram.

— Souta...

— O que foi?

— Eu também tive um sonho parecido.

Souta ficou imóvel.

— Sério?

Ela assentiu.

— Eu vi uma cena parecida. Mas, no meu sonho, você estava partindo para algum lugar. E eu te dei o cordão para que não me esquecesse.

Eles ficaram em silêncio, absorvendo aquela revelação. O vento balançava as folhas, e o barulho distante da cidade parecia desaparecer.

— Você acha que... — Souta hesitou.

— Que já vivemos algo juntos antes? — completou Aoi.

Ele assentiu.

Ela olhou para ele, sentindo o coração acelerar.

— Se for verdade... então talvez nosso reencontro não seja apenas coincidência.

Souta segurou a mão dela, sentindo um calor reconfortante.

— Seja destino ou acaso, eu sei que não quero perder essa conexão.

Aoi apertou suavemente a mão dele e sorriu.

— Então vamos descobrir juntos.

E sob as luzes suaves do parque, eles sentiram que, de alguma forma, suas almas já haviam se encontrado antes—e agora tinham uma segunda chance.

Memórias perdidas

Aoi e Souta estavam sentados na grama, sob a copa de uma grande cerejeira, enquanto a brisa da noite balançava as folhas suavemente. Eles já haviam saído juntos inúmeras vezes, mas naquela noite, algo parecia diferente. O céu estava límpido, e o aroma adocicado das flores trazia uma estranha melancolia ao peito de Aoi.

Ela observava Souta de perfil, os traços dele iluminados pela luz suave dos postes do parque. Uma sensação indescritível a invadia toda vez que o olhava. Não era apenas afeição. Era algo mais profundo, algo que ela não conseguia explicar.

— Souta… — ela começou, hesitante.

Ele virou o rosto para ela, um sorriso tranquilo nos lábios.

— O que foi?

Aoi respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu sei que isso vai parecer estranho, mas... tenho sentido algo desde o dia em que te conheci.

— Algo como o quê?

Ela abaixou o olhar para as próprias mãos, que brincavam nervosamente com a barra do casaco.

— Como se eu já te conhecesse. Mas não de agora. De muito antes.

Souta ficou em silêncio por um momento.

— Antes...?

— Sim. Antes dessa vida.

Os olhos dele se arregalaram levemente, mas não havia ceticismo em sua expressão. Apenas surpresa.

— Você quer dizer... vidas passadas?

— Eu não sei. Mas toda vez que estou com você, sinto como se já tivéssemos passado por isso antes. Como se já tivéssemos vivido juntos.

Souta franziu o cenho, absorvendo suas palavras.

— Você acredita em reencarnação?

Aoi hesitou.

— Nunca pensei muito sobre isso... até agora. Mas tem algo em você, Souta. Algo que me faz sentir como se já tivéssemos nos amado antes.

Ele prendeu a respiração por um instante.

— Isso é estranho.

— Eu sabia que você acharia loucura.

— Não, Aoi. — Ele a encarou profundamente. — É estranho porque eu sinto a mesma coisa.

Ela piscou, surpresa.

— O quê?

Souta se encostou na árvore, olhando para o céu.

— Eu nunca disse nada porque achei que era coisa da minha cabeça. Mas, desde o dia na biblioteca, sinto essa conexão inexplicável. Como se eu já te conhecesse há muito tempo. Como se… estivéssemos nos reencontrando.

Aoi sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— Você lembra de alguma coisa?

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Não exatamente. Mas às vezes tenho flashes, imagens que não sei de onde vêm. Uma casa antiga, um jardim cercado por lanternas vermelhas… e você, sempre de costas, como se estivesse me esperando.

O coração de Aoi disparou.

— Eu... eu tive um sonho parecido.

Souta virou o rosto para ela, a expressão tomada pelo espanto.

— Como era o seu sonho?

Ela fechou os olhos por um instante, buscando as memórias.

— Eu estava em um jardim, segurando um cordão vermelho. Você estava de frente para mim, mas algo te chamava para longe. Eu chorava, mas mesmo assim te entregava o cordão.

Souta sentiu um nó na garganta.

— No meu sonho... eu pegava esse cordão e prometia voltar para você.

Eles ficaram em silêncio, apenas ouvindo o som do vento passando entre as folhas da cerejeira.

— Isso não pode ser apenas coincidência — murmurou Aoi, a voz tremendo levemente.

— Não pode — Souta concordou, o olhar perdido.

Aoi apertou as mãos com força.

— O que isso significa, Souta?

Ele suspirou, estendendo a mão e segurando a dela.

— Significa que, de alguma forma, fomos separados antes. Mas dessa vez… o destino nos deu outra chance.

Os olhos de Aoi brilharam, uma mistura de emoção e incerteza.

— E se perdermos essa chance também?

Souta sorriu suavemente e apertou a mão dela.

— Então eu te encontrarei de novo. Sempre.

Aoi sentiu seu coração se aquecer, como se as memórias esquecidas sussurrassem que aquelas palavras já haviam sido ditas antes. E, naquele momento, ela soube que não importava quantas vidas passassem—Souta sempre a encontraria.

Aoi estava na biblioteca novamente. Não era uma coincidência. Ela tinha uma atração inexplicável por aquele lugar, por cada estante carregada de livros empoeirados, como se o ar da biblioteca fosse uma cápsula do tempo. Ela sempre sentia uma sensação reconfortante ao passar entre os corredores, mas, naquela tarde, algo estava diferente. Algo a chamava mais intensamente do que nunca.

Ela percorria os corredores em busca de algo específico, mas não sabia exatamente o quê. Era uma sensação vaga, como se algo estivesse à espera dela, entre aquelas prateleiras. O som de seus passos ecoava suavemente, misturando-se com o aroma familiar do papel envelhecido e do couro dos livros antigos.

Ao virar a esquina de uma prateleira escondida, Aoi se deparou com um livro particularmente antigo. A capa era de couro escuro, com inscrições douradas que pareciam brilhar levemente sob a luz suave que penetrava pelas janelas altas. O título estava desgastado, mas ainda legível: **"O Caminho da Memória".**

O título lhe deu um frio na espinha. Algo dentro dela se agitou, como se o livro soubesse mais sobre ela do que ela própria. Com as mãos tremendo levemente, ela o pegou. Quando seus dedos tocaram a capa, uma sensação calorosa percorreu sua pele, uma estranha conexão com o objeto que a fez prender a respiração.

Sentando-se em uma cadeira próxima, ela abriu as páginas, que estavam amareladas pelo tempo. As palavras eram escritas em uma caligrafia elegante, e Aoi sentiu uma onda de déjà vu ao ler as primeiras frases.

*"A memória não se perde, apenas se esconde em lugares mais profundos, onde as almas se encontram."*

Ela fechou os olhos por um momento, sentindo um peso no peito. As palavras a tocaram de uma maneira inexplicável. Era como se elas estivessem falando diretamente com ela, como se ela já soubesse dessas verdades, como se as tivesse vivido.

Com um suspiro, Aoi continuou lendo, e à medida que as palavras se desenrolavam diante de seus olhos, ela começou a perceber flashes de imagens em sua mente. Imagens desconexas de um jardim escuro, uma figura masculina distante, e ela mesma, vestida de branco, de mãos dadas com essa figura sob uma lua cheia.

Ela piscou, tentando afastar as visões, mas elas não desapareciam. Pelo contrário, ficavam mais intensas, mais vívidas.

No livro, ela encontrou uma página que descrevia uma antiga tradição de memórias compartilhadas entre almas gêmeas, uma conexão profunda que transcende o tempo. O texto explicava que, ao longo de várias vidas, essas almas se reencontram, como se houvesse uma ligação invisível que as atrai uma para a outra, mesmo sem saber.

Aoi sentiu um calor crescente dentro de si. Era como se o livro estivesse revelando algo que ela já havia sentido, algo que tinha ficado enterrado nas profundezas de sua mente.

"**Você já o encontrou**", leu ela em voz baixa, parando na última frase da página. Sua respiração acelerou, e seu corpo ficou imóvel, congelado pela revelação.

Ela levantou os olhos, como se estivesse esperando ver algo, ou alguém. Mas estava sozinha.

Ainda assim, algo dentro dela sabia. Sabia que aquelas palavras não estavam ali por acaso. O livro, o título, as palavras, tudo estava ligado ao que ela sentia por Souta, e ao que sentia sempre que ele estava por perto. Como se ele fosse a chave para despertar as memórias que estavam ocultas dentro dela.

Aoi virou a página com uma urgência repentina, as palavras praticamente saltando da página.

*"Quando o coração de uma alma gêmea chama a outra, elas se reconhecem. Não importa o tempo, não importa a distância."*

Aoi estremeceu, seus olhos se arregalaram. O texto a fazia pensar em Souta, nas conversas deles, no vínculo inexplicável que haviam compartilhado desde o primeiro encontro. Ela sentia que ele era o "outro" que faltava, o complemento de algo que havia sido perdido. Mas, por que agora? Por que este livro?

Ela não sabia como, mas sentiu uma necessidade desesperada de encontrá-lo, de falar com ele, de tentar entender o que aquelas palavras significavam para ambos. Mas havia algo mais, algo que ainda não conseguia entender. Algo que a mantinha afastada do entendimento completo de suas memórias.

Aoi se levantou rapidamente, segurando o livro com firmeza. Sua mente estava em turbilhão, e o coração batia com uma intensidade estranha, como se estivesse perto de algo grandioso, mas ao mesmo tempo, de algo que ela não estava pronta para descobrir.

Ela se apressou até a saída da biblioteca, seus passos rápidos e descompassados, sua mente cheia de perguntas. A porta se abriu, e a luz do dia a cegou momentaneamente, mas ela não se importou. Tudo o que ela sabia era que precisava encontrar Souta. Precisava falar com ele, precisava descobrir o que estava acontecendo entre eles.

Quando Aoi chegou à praça onde costumava se encontrar com Souta, ela o viu à distância, sentado em um banco, observando o movimento das pessoas. Seu coração deu um salto, como se ele fosse o centro de um magnetismo invisível que a atraía para ele.

Ela caminhou rapidamente até ele, sem saber exatamente o que dizer, mas com a certeza de que aquelas memórias perdidas estavam prestes a ser reveladas.

Souta levantou os olhos e sorriu assim que a viu. Mas, ao olhar nos olhos dela, algo em seu rosto mudou. Ele pareceu perceber que algo estava diferente nela.

— Aoi, o que aconteceu? Você está... diferente.

Ela respirou fundo, a ansiedade tomando conta dela.

— Eu encontrei algo. Um livro. E, nele, havia algo que… eu não consigo explicar direito, mas tudo isso — ela gesticulou para o espaço ao redor, como se a palavra "tudo" englobasse toda a complexidade da situação — faz sentido agora.

Souta se levantou, aproximando-se dela. Seus olhos estavam atentos, sérios, como se soubesse que algo importante estava prestes a acontecer.

— O que o livro dizia?

Aoi olhou para ele, sentindo a conexão profunda entre eles aumentar a cada palavra.

— Ele falou sobre almas gêmeas. Sobre como, ao longo das vidas, nos reencontramos. E eu… eu sinto que somos nós. Eu sinto que já vivemos juntos antes. E agora… estamos aqui novamente.

Souta olhou-a profundamente, como se estivesse tentando ler algo em seus olhos. Ele tocou sua mão suavemente, com um sorriso que parecia mais sério do que qualquer outro sorriso que ela já tivesse visto nele.

— Eu também senti isso, Aoi. Eu só não sabia como explicar.

Eles ficaram em silêncio por um momento, as palavras pairando no ar. Mas, naquela quietude, algo estava prestes a ser desvendado, algo que se encontrava oculto nas memórias perdidas de ambos.

Sons do passado

A tarde estava tranquila, e o som das folhas secas sendo movidas pelo vento preenchia o silêncio da praça. Souta caminhava devagar, sem rumo específico, tentando clarear os pensamentos. Nos últimos dias, ele se sentia incompleto, como se algo estivesse faltando, mas ele não conseguia identificar o quê. Seus encontros com Aoi sempre lhe davam uma sensação de familiaridade, mas agora ele sentia que havia algo mais, algo além da conexão óbvia entre eles.

Ele parou em frente ao lago da praça, onde o reflexo das árvores dançava na água calma. Era um lugar que ele visitava com frequência, mas hoje algo parecia diferente. A luz do sol que filtrava pelas copas das árvores parecia mais dourada, mais suave, e ele se sentia atraído para o centro da praça, onde havia uma pequena banca de livros usados.

Aoi estava ali, como se o destino os tivesse guiado para se encontrarem novamente. Ela estava folheando um livro antigo, e ao perceber a presença de Souta, levantou os olhos.

— Souta, olha o que encontrei — disse ela, a voz suave e convidativa.

Ele se aproximou, curioso, e olhou para o livro em suas mãos. Era um pequeno volume de capa dura, aparentemente muito antigo.

— O que é isso?

Aoi abriu o livro e, com um sorriso enigmático, apontou para uma página.

— Olha só, é um haiku. Parece simples, mas… não sei, algo nele me parece tão familiar.

Souta se aproximou mais, lendo as palavras escritas com uma caligrafia delicada:

*"O vento canta forte,

nas árvores, uma dor,

silêncio eterno."*

Assim que os olhos de Souta percorreram as palavras, uma onda de déjà vu o envolveu. Ele congelou, sentindo o peso daquelas palavras, como se já as tivesse lido em algum lugar, em algum momento distante. O vento, o som das árvores e o silêncio… tudo parecia ter sido registrado em sua memória, mas de uma maneira distante, quase inatingível.

Ele olhou para Aoi, e ela parecia absorver o mesmo impacto.

— Aoi, onde você encontrou isso? — sua voz saiu quase como um sussurro.

Ela franziu a testa, também tomada pela sensação.

— Eu… não sei. Estava na banca, entre vários outros livros antigos. Mas essas palavras… elas me tocaram de uma forma estranha. Como se eu já as tivesse ouvido antes, em outra vida.

Souta olhou para o céu por um momento, tentando processar a sensação de confusão que o invadia. As palavras do haiku, o vento, o silêncio — tudo isso parecia ter uma ligação com algo que ele ainda não conseguia entender. Ele sentia como se aquele momento fosse uma chave para desbloquear uma memória perdida, algo que estava enterrado dentro dele, esperando para ser revelado.

— Eu… sinto o mesmo — disse ele, sua voz baixa. — Como se essas palavras estivessem guardadas em algum canto da minha mente. Eu… já ouvi esse haiku antes.

Aoi o olhou, seus olhos brilhando com uma mistura de mistério e compreensão.

— É como se o vento estivesse nos chamando, não é? Como se as árvores e o silêncio fossem ecoar nossas próprias lembranças.

Souta assentiu lentamente. Ele sabia que algo profundo estava sendo despertado ali, mas ainda não sabia como. Ele sentiu que, de alguma forma, Aoi e ele estavam mais conectados do que jamais imaginou. O haiku, as palavras simples, mas carregadas de significado, estavam falando diretamente com seus corações, como se fossem sussurros de um passado esquecido.

— Você já sentiu que poderia lembrar de algo mais? — perguntou Aoi, quase como se estivesse pensando em voz alta.

— Sim… como se as palavras do haiku fossem um código. Algo que, uma vez decifrado, nos mostraria a verdade.

Aoi fechou os olhos por um instante, como se tentasse ouvir algo além do som do vento.

— E se isso nos levar a algo importante? A algo que estamos esquecendo, mas que deve ser lembrado?

Souta sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras dela ressoaram como um eco no fundo da sua mente. Ele sentiu que, de alguma forma, Aoi já sabia o que estava por vir. Era como se as duas almas estivessem em sintonia, como se o haiku fosse uma ponte entre o presente e o passado, uma ponte que eles precisavam atravessar juntos.

— Eu… acho que já sei o que precisamos fazer — disse Souta, a voz firme.

Aoi o olhou com curiosidade.

— O que devemos fazer?

— Precisamos voltar ao lugar que o haiku descreve. O vento, as árvores, o silêncio. Talvez lá possamos encontrar o que estamos buscando.

Aoi sorriu suavemente, como se já soubesse que ele diria isso.

— Então vamos. O destino nos chama, Souta.

Eles caminharam juntos, como se estivessem seguindo uma trilha invisível, uma trilha que os guiava para algo além do entendimento. O haiku, com suas palavras simples, agora parecia mais do que uma poesia qualquer. Era um mapa, uma chave, que os conduzia para uma descoberta que desafiava o tempo e a razão.

O vento que soprava ao redor parecia cantar suas próprias histórias, e as árvores, com seus galhos balançando suavemente, eram testemunhas silenciosas de algo que estava prestes a ser revelado. O silêncio entre eles agora não era vazio; ele estava carregado de significado.

Aoi olhou para Souta, e ele sentiu que, de algum modo, ele já sabia o que ela pensava. Eles estavam no caminho certo, e nada mais importava. O passado, as memórias, tudo estava se alinhando, e o som do vento agora não era apenas o som da natureza. Era o som de algo muito maior. O som de uma história que estava prestes a ser contada novamente.

Enquanto caminhavam, o som do vento parecia se intensificar, como se estivesse acompanhando o ritmo dos passos de Souta e Aoi. A praça que eles haviam atravessado estava agora longe, e o caminho à frente os conduzia por uma trilha mais estreita, cercada por árvores que formavam um corredor verdejante. O céu acima estava tingido de um dourado suave, como se o entardecer quisesse se arrastar eternamente, e o ar estava impregnado com a fragrância de folhas e terra molhada.

Aoi caminhava ao lado de Souta, os olhos fixos à frente, mas seus pensamentos pareciam estar em outro lugar. Ela sentia que, de alguma forma, aquele caminho era mais familiar do que qualquer lugar que já tivesse visitado antes. Havia uma calma imensa em seu interior, uma sensação de que as peças do quebra-cabeça estavam finalmente se encaixando.

— Souta… — disse Aoi, quebrando o silêncio. Sua voz estava baixa, mas havia uma força tranquila nela. — Você já pensou que, talvez, nossas vidas anteriores estejam se entrelaçando agora? Que esse encontro não é apenas uma coincidência?

Souta olhou para ela, e algo na sua pergunta o fez parar por um momento. Ele nunca havia considerado seriamente essa possibilidade, mas agora, ao refletir sobre tudo o que sentia, parecia que havia algo de real naquela ideia. Ele olhou para as árvores ao seu redor, como se procurasse alguma resposta nas folhas que balançavam suavemente.

— Eu não sei — respondeu ele, com sinceridade. — Mas a sensação de que já estive aqui, com você, antes… isso não é algo que eu possa ignorar.

Aoi sorriu levemente, como se soubesse o que ele queria dizer sem que precisasse de mais palavras. Ela havia sentido a mesma coisa desde o momento em que os dois se conheceram na biblioteca. Era uma sensação estranha, uma sensação de que o tempo não tinha limites, de que algo maior estava em jogo. Algo que não podia ser explicado, mas que eles precisavam viver para entender.

Eles continuaram a caminhar, agora em silêncio, enquanto o vento parecia se tornar mais suave, como se o próprio ar estivesse se aquietando para ouvir o que estava prestes a acontecer.

Depois de um tempo, chegaram a uma pequena clareira no meio da floresta. O lugar era sereno, com um lago tranquilo no centro, cujas águas refletiam o céu, agora tingido de rosa e lilás pelo pôr do sol. A atmosfera parecia carregada de uma energia tranquila, mas intensa, como se o tempo tivesse parado ali, esperando por eles.

— Aqui… — Aoi murmurou, a voz embargada, como se reconhecesse o lugar de algum lugar profundo dentro dela. — Eu já estive aqui antes.

Souta olhou ao redor, sentindo a mesma sensação. Havia algo no ambiente que parecia puxá-lo, como se ele tivesse alguma memória esquecida ali. Ele caminhou até o lago e se agachou na beira, olhando para a água. Tudo estava em silêncio, mas ele sentiu como se pudesse ouvir algo, como se o próprio lugar estivesse tentando lhe contar uma história.

Foi então que ele viu. Na borda do lago, parcialmente coberto por musgo, havia uma pedra com inscrições. Souta se aproximou, tocando a superfície da pedra com os dedos. O toque era suave, mas havia algo que parecia quase… familiar.

— Aoi… — ele chamou, a voz tremendo de emoção. Ela se aproximou e olhou para a pedra.

As inscrições estavam em japonês antigo, e embora não fossem fáceis de decifrar, algo nas palavras parecia ressoar profundamente em ambos. Aoi se agachou ao lado de Souta, tocando a pedra com reverência.

— Eu já vi isso antes — disse ela, quase em um sussurro. — Essas palavras… elas falam sobre reencontros e sobre a conexão que transcende as vidas passadas.

Souta olhou para ela, surpreso. Ele nunca teria imaginado que Aoi fosse capaz de decifrar aquelas palavras com tanta facilidade, mas agora não havia mais dúvidas. O destino os havia guiado até ali, até aquele lugar, onde tudo começava a fazer sentido.

— "Vidas que se perdem, mas se reencontram em círculos infinitos" — Aoi leu, com uma suavidade na voz. — Eu sabia que essas palavras não eram aleatórias. Estamos aqui, juntos, por uma razão.

Souta sentiu um aperto no peito. As palavras eram tão simples, mas ao mesmo tempo, tão poderosas. Ele sabia que tudo o que estava acontecendo não era uma coincidência. Aquela conexão entre ele e Aoi, aquelas sensações de déjà vu, as memórias fragmentadas… tudo isso estava se alinhando agora, naquele momento.

Ele se virou para ela, os olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e compreensão.

— Aoi… o que isso significa para nós? Para nós dois?

Aoi o olhou nos olhos, o olhar sério, mas ao mesmo tempo, cheio de uma confiança tranquila.

— Significa que não importa o quanto tentemos escapar, sempre voltamos para onde pertencemos. Eu sei que te conheço, e que você me conhece, não apenas nesta vida, mas em todas as que vivemos. Estamos destinados a estar juntos, Souta.

Souta sentiu uma onda de calor e emoção invadir seu coração. Era como se uma porta se abrisse dentro dele, uma porta que ele nem sabia que existia. Ele estendeu a mão para Aoi, e ela a pegou com firmeza, como se o toque de suas mãos fosse o último elo que faltava para completar o círculo que os unia.

O vento soprou mais forte, agora parecendo um sussurro suave, como uma canção de despedida e boas-vindas ao mesmo tempo. O silêncio do lago, o som das folhas ao vento, tudo estava em harmonia, como se a natureza ao redor deles estivesse celebrando aquele reencontro.

E então, como se em um suspiro compartilhado, ambos sentiram o peso de todas as vidas passadas, todas as escolhas, os reencontros, os momentos perdidos e encontrados. Eles estavam juntos novamente, como se nunca tivessem se separado, e esse sentimento os preenchia com uma paz profunda e absoluta.

Aoi sorriu, e Souta sentiu que agora, finalmente, estava em casa.

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