Aoi e Souta estavam sentados na grama, sob a copa de uma grande cerejeira, enquanto a brisa da noite balançava as folhas suavemente. Eles já haviam saído juntos inúmeras vezes, mas naquela noite, algo parecia diferente. O céu estava límpido, e o aroma adocicado das flores trazia uma estranha melancolia ao peito de Aoi.
Ela observava Souta de perfil, os traços dele iluminados pela luz suave dos postes do parque. Uma sensação indescritível a invadia toda vez que o olhava. Não era apenas afeição. Era algo mais profundo, algo que ela não conseguia explicar.
— Souta… — ela começou, hesitante.
Ele virou o rosto para ela, um sorriso tranquilo nos lábios.
— O que foi?
Aoi respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu sei que isso vai parecer estranho, mas... tenho sentido algo desde o dia em que te conheci.
— Algo como o quê?
Ela abaixou o olhar para as próprias mãos, que brincavam nervosamente com a barra do casaco.
— Como se eu já te conhecesse. Mas não de agora. De muito antes.
Souta ficou em silêncio por um momento.
— Antes...?
— Sim. Antes dessa vida.
Os olhos dele se arregalaram levemente, mas não havia ceticismo em sua expressão. Apenas surpresa.
— Você quer dizer... vidas passadas?
— Eu não sei. Mas toda vez que estou com você, sinto como se já tivéssemos passado por isso antes. Como se já tivéssemos vivido juntos.
Souta franziu o cenho, absorvendo suas palavras.
— Você acredita em reencarnação?
Aoi hesitou.
— Nunca pensei muito sobre isso... até agora. Mas tem algo em você, Souta. Algo que me faz sentir como se já tivéssemos nos amado antes.
Ele prendeu a respiração por um instante.
— Isso é estranho.
— Eu sabia que você acharia loucura.
— Não, Aoi. — Ele a encarou profundamente. — É estranho porque eu sinto a mesma coisa.
Ela piscou, surpresa.
— O quê?
Souta se encostou na árvore, olhando para o céu.
— Eu nunca disse nada porque achei que era coisa da minha cabeça. Mas, desde o dia na biblioteca, sinto essa conexão inexplicável. Como se eu já te conhecesse há muito tempo. Como se… estivéssemos nos reencontrando.
Aoi sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Você lembra de alguma coisa?
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Não exatamente. Mas às vezes tenho flashes, imagens que não sei de onde vêm. Uma casa antiga, um jardim cercado por lanternas vermelhas… e você, sempre de costas, como se estivesse me esperando.
O coração de Aoi disparou.
— Eu... eu tive um sonho parecido.
Souta virou o rosto para ela, a expressão tomada pelo espanto.
— Como era o seu sonho?
Ela fechou os olhos por um instante, buscando as memórias.
— Eu estava em um jardim, segurando um cordão vermelho. Você estava de frente para mim, mas algo te chamava para longe. Eu chorava, mas mesmo assim te entregava o cordão.
Souta sentiu um nó na garganta.
— No meu sonho... eu pegava esse cordão e prometia voltar para você.
Eles ficaram em silêncio, apenas ouvindo o som do vento passando entre as folhas da cerejeira.
— Isso não pode ser apenas coincidência — murmurou Aoi, a voz tremendo levemente.
— Não pode — Souta concordou, o olhar perdido.
Aoi apertou as mãos com força.
— O que isso significa, Souta?
Ele suspirou, estendendo a mão e segurando a dela.
— Significa que, de alguma forma, fomos separados antes. Mas dessa vez… o destino nos deu outra chance.
Os olhos de Aoi brilharam, uma mistura de emoção e incerteza.
— E se perdermos essa chance também?
Souta sorriu suavemente e apertou a mão dela.
— Então eu te encontrarei de novo. Sempre.
Aoi sentiu seu coração se aquecer, como se as memórias esquecidas sussurrassem que aquelas palavras já haviam sido ditas antes. E, naquele momento, ela soube que não importava quantas vidas passassem—Souta sempre a encontraria.
Aoi estava na biblioteca novamente. Não era uma coincidência. Ela tinha uma atração inexplicável por aquele lugar, por cada estante carregada de livros empoeirados, como se o ar da biblioteca fosse uma cápsula do tempo. Ela sempre sentia uma sensação reconfortante ao passar entre os corredores, mas, naquela tarde, algo estava diferente. Algo a chamava mais intensamente do que nunca.
Ela percorria os corredores em busca de algo específico, mas não sabia exatamente o quê. Era uma sensação vaga, como se algo estivesse à espera dela, entre aquelas prateleiras. O som de seus passos ecoava suavemente, misturando-se com o aroma familiar do papel envelhecido e do couro dos livros antigos.
Ao virar a esquina de uma prateleira escondida, Aoi se deparou com um livro particularmente antigo. A capa era de couro escuro, com inscrições douradas que pareciam brilhar levemente sob a luz suave que penetrava pelas janelas altas. O título estava desgastado, mas ainda legível: **"O Caminho da Memória".**
O título lhe deu um frio na espinha. Algo dentro dela se agitou, como se o livro soubesse mais sobre ela do que ela própria. Com as mãos tremendo levemente, ela o pegou. Quando seus dedos tocaram a capa, uma sensação calorosa percorreu sua pele, uma estranha conexão com o objeto que a fez prender a respiração.
Sentando-se em uma cadeira próxima, ela abriu as páginas, que estavam amareladas pelo tempo. As palavras eram escritas em uma caligrafia elegante, e Aoi sentiu uma onda de déjà vu ao ler as primeiras frases.
*"A memória não se perde, apenas se esconde em lugares mais profundos, onde as almas se encontram."*
Ela fechou os olhos por um momento, sentindo um peso no peito. As palavras a tocaram de uma maneira inexplicável. Era como se elas estivessem falando diretamente com ela, como se ela já soubesse dessas verdades, como se as tivesse vivido.
Com um suspiro, Aoi continuou lendo, e à medida que as palavras se desenrolavam diante de seus olhos, ela começou a perceber flashes de imagens em sua mente. Imagens desconexas de um jardim escuro, uma figura masculina distante, e ela mesma, vestida de branco, de mãos dadas com essa figura sob uma lua cheia.
Ela piscou, tentando afastar as visões, mas elas não desapareciam. Pelo contrário, ficavam mais intensas, mais vívidas.
No livro, ela encontrou uma página que descrevia uma antiga tradição de memórias compartilhadas entre almas gêmeas, uma conexão profunda que transcende o tempo. O texto explicava que, ao longo de várias vidas, essas almas se reencontram, como se houvesse uma ligação invisível que as atrai uma para a outra, mesmo sem saber.
Aoi sentiu um calor crescente dentro de si. Era como se o livro estivesse revelando algo que ela já havia sentido, algo que tinha ficado enterrado nas profundezas de sua mente.
"**Você já o encontrou**", leu ela em voz baixa, parando na última frase da página. Sua respiração acelerou, e seu corpo ficou imóvel, congelado pela revelação.
Ela levantou os olhos, como se estivesse esperando ver algo, ou alguém. Mas estava sozinha.
Ainda assim, algo dentro dela sabia. Sabia que aquelas palavras não estavam ali por acaso. O livro, o título, as palavras, tudo estava ligado ao que ela sentia por Souta, e ao que sentia sempre que ele estava por perto. Como se ele fosse a chave para despertar as memórias que estavam ocultas dentro dela.
Aoi virou a página com uma urgência repentina, as palavras praticamente saltando da página.
*"Quando o coração de uma alma gêmea chama a outra, elas se reconhecem. Não importa o tempo, não importa a distância."*
Aoi estremeceu, seus olhos se arregalaram. O texto a fazia pensar em Souta, nas conversas deles, no vínculo inexplicável que haviam compartilhado desde o primeiro encontro. Ela sentia que ele era o "outro" que faltava, o complemento de algo que havia sido perdido. Mas, por que agora? Por que este livro?
Ela não sabia como, mas sentiu uma necessidade desesperada de encontrá-lo, de falar com ele, de tentar entender o que aquelas palavras significavam para ambos. Mas havia algo mais, algo que ainda não conseguia entender. Algo que a mantinha afastada do entendimento completo de suas memórias.
Aoi se levantou rapidamente, segurando o livro com firmeza. Sua mente estava em turbilhão, e o coração batia com uma intensidade estranha, como se estivesse perto de algo grandioso, mas ao mesmo tempo, de algo que ela não estava pronta para descobrir.
Ela se apressou até a saída da biblioteca, seus passos rápidos e descompassados, sua mente cheia de perguntas. A porta se abriu, e a luz do dia a cegou momentaneamente, mas ela não se importou. Tudo o que ela sabia era que precisava encontrar Souta. Precisava falar com ele, precisava descobrir o que estava acontecendo entre eles.
Quando Aoi chegou à praça onde costumava se encontrar com Souta, ela o viu à distância, sentado em um banco, observando o movimento das pessoas. Seu coração deu um salto, como se ele fosse o centro de um magnetismo invisível que a atraía para ele.
Ela caminhou rapidamente até ele, sem saber exatamente o que dizer, mas com a certeza de que aquelas memórias perdidas estavam prestes a ser reveladas.
Souta levantou os olhos e sorriu assim que a viu. Mas, ao olhar nos olhos dela, algo em seu rosto mudou. Ele pareceu perceber que algo estava diferente nela.
— Aoi, o que aconteceu? Você está... diferente.
Ela respirou fundo, a ansiedade tomando conta dela.
— Eu encontrei algo. Um livro. E, nele, havia algo que… eu não consigo explicar direito, mas tudo isso — ela gesticulou para o espaço ao redor, como se a palavra "tudo" englobasse toda a complexidade da situação — faz sentido agora.
Souta se levantou, aproximando-se dela. Seus olhos estavam atentos, sérios, como se soubesse que algo importante estava prestes a acontecer.
— O que o livro dizia?
Aoi olhou para ele, sentindo a conexão profunda entre eles aumentar a cada palavra.
— Ele falou sobre almas gêmeas. Sobre como, ao longo das vidas, nos reencontramos. E eu… eu sinto que somos nós. Eu sinto que já vivemos juntos antes. E agora… estamos aqui novamente.
Souta olhou-a profundamente, como se estivesse tentando ler algo em seus olhos. Ele tocou sua mão suavemente, com um sorriso que parecia mais sério do que qualquer outro sorriso que ela já tivesse visto nele.
— Eu também senti isso, Aoi. Eu só não sabia como explicar.
Eles ficaram em silêncio por um momento, as palavras pairando no ar. Mas, naquela quietude, algo estava prestes a ser desvendado, algo que se encontrava oculto nas memórias perdidas de ambos.
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Atualizado até capítulo 20
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