O vento frio da manhã soprava levemente pelas janelas da biblioteca, trazendo consigo o cheiro de folhas secas e a promessa do inverno que logo chegaria. Aoi estava sentada na mesa de leitura, folheando um livro antigo, mas sua mente estava longe das palavras impressas nas páginas. Algo a inquietava, uma sensação de algo não resolvido, algo que ela ainda não conseguira compreender.
Foi então que seus olhos caíram sobre um canto da estante, onde uma capa de couro envelhecido, quase escondida por outros volumes, chamou sua atenção. Sem saber bem por que, ela se levantou e se dirigiu até ali. A capa estava desgastada, como se o tempo tivesse deixado suas marcas, mas algo nela parecia familiar. O diário estava trancado, com uma fechadura simples, mas, ao tocá-lo, Aoi sentiu um arrepio correr por sua espinha. Era como se aquele objeto fosse uma extensão de algo muito maior, algo que ela já conhecia de alguma forma.
Ela hesitou por um momento, mas a curiosidade a levou a abrir a capa com cautela. Dentro, as páginas eram amareladas e frágeis, mas as palavras eram nítidas, como se alguém tivesse escrito recentemente. Aoi sentou-se novamente à mesa, o diário aberto à sua frente. Começou a ler, cada palavra parecendo ecoar em sua mente como uma melodia familiar, mas de algum modo, estranhamente distante.
**“Outubro, 16.**
O outono chegou, e com ele, uma sensação de vazio. O vento traz consigo os suspiros do passado, como se as folhas caídas fossem as lembranças que se recusam a desaparecer. Eu vi seus olhos hoje, como vi em tantas vidas antes. Não sei mais se é destino ou acaso, mas sei que precisamos cumprir o que começamos. Mesmo que o tempo nos separe, nós sempre voltamos. A promessa não cumprida ainda pesa em mim, mas talvez, se nós dois nos encontrarmos novamente, tudo finalmente fará sentido.”**
Aoi sentiu uma pressão no peito enquanto lia as palavras. As frases, tão carregadas de um sentimento íntimo e profundo, ressoavam em sua alma, como se as tivesse escrito ela mesma. Ela franziu a testa, tentando entender por que aquelas palavras a tocavam tão profundamente, como se ela fosse a autora delas. Mas não, não poderia ser. O diário era de outra pessoa, um estranho.
Ela avançou mais na leitura, sentindo os dedos tremerem ligeiramente enquanto suas emoções se embaralhavam.
**“Outubro, 18.**
A promessa ainda está comigo. Fui àquele lugar, onde você e eu costumávamos nos encontrar, mas o vazio tomou conta do espaço. Como se as memórias que compartilhamos estivessem sendo apagadas pelo tempo. Quero acreditar que, quando você voltar, poderemos finalmente preencher as lacunas que nos faltam. Até lá, sigo esperando, sabendo que algo maior nos aguarda.”**
O ar ao redor de Aoi parecia ter se tornado mais espesso, como se as palavras do diário estivessem sendo absorvidas pelo próprio ambiente. Ela fechou os olhos por um momento, uma sensação forte, quase incompreensível, a dominando. O que era aquilo? Ela sentia como se as palavras não fossem apenas de alguém do passado, mas de uma parte de sua própria alma. Como se ela estivesse, de alguma forma, conectada a isso, a essa promessa não cumprida.
“Isso é impossível,” pensou Aoi, com a mente fervendo. Ela sabia que algo estava acontecendo, algo além do que seus olhos conseguiam compreender. Mas o que? Quem teria escrito isso? E por que ela sentia como se as palavras falassem diretamente para ela?
De repente, o som de uma porta se abrindo fez Aoi olhar para cima. Souta entrou na biblioteca, com um sorriso tranquilo, como sempre. Mas, ao vê-la com o diário nas mãos, seu olhar se suavizou, como se ele reconhecesse a gravidade do momento, sem precisar de palavras.
— Aoi, o que você encontrou? — ele perguntou, sua voz carregada de curiosidade, mas também de preocupação. Ele sabia que ela havia se tornado mais introspectiva nos últimos dias, e algo parecia estar a consumindo.
Aoi olhou para Souta, sem saber como explicar o que sentia. As palavras do diário ainda reverberavam em sua mente, e ela sentia que havia algo mais, algo oculto naquelas páginas que ela ainda não conseguira compreender. Ela estendeu o diário para ele, silenciosa, esperando que, talvez, ele pudesse entender o que ela não conseguia.
Souta pegou o diário com cuidado, observando as páginas, seu olhar se aprofundando nas palavras escritas. À medida que ele lia, seu rosto começava a ficar mais sério, os olhos com um brilho de reconhecimento, como se aquelas palavras também tocassem algo em seu próprio ser.
— Aoi... isso é... estranho. — Sua voz falhou por um momento, e ele virou as páginas com mais atenção. — Onde você encontrou isso?
Aoi sentou-se novamente, as mãos repousando sobre as pernas, tentando processar as emoções contraditórias que estavam tomando conta dela.
— Não sei... Ele estava escondido na estante, como se estivesse esperando por mim — respondeu ela, sua voz trêmula. — As palavras... parecem tão familiares. Como se eu já tivesse vivido isso, como se já tivesse sentido isso antes. E o que é essa promessa? O que isso significa, Souta?
Souta olhou para ela, uma expressão de compreensão e inquietação se misturando em seu rosto. Ele se aproximou dela, sentando-se ao seu lado, sem dizer nada por alguns momentos. O silêncio entre eles parecia pesado, como se o próprio ar estivesse aguardando uma revelação.
— Aoi... — ele começou, suas palavras suaves, mas carregadas de emoção. — Às vezes, o tempo não segue uma linha reta. Às vezes, ele é mais como um círculo, e as coisas que parecem distantes, perdidas, podem retornar. Esse diário... pode ser a chave para algo que temos que entender, juntos. Eu não sei o que está acontecendo, mas sinto que essa promessa... talvez seja nossa, de alguma forma.
Aoi olhou para ele, seus olhos agora mais intensos, como se procurassem uma resposta no fundo dos olhos de Souta. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas uma coisa era certa: aquele diário, aquelas palavras, estavam de alguma forma conectadas a ela, a eles. E ela não podia ignorar o que sentia. Algo estava prestes a ser revelado, algo que já havia sido prometido, mas nunca cumprido.
— O que devemos fazer? — ela perguntou, sua voz quase um sussurro.
Souta olhou profundamente nos olhos dela, segurando sua mão com firmeza.
— Eu não sei, Aoi. Mas, se essas palavras são um aviso, se esse diário está tentando nos contar algo, então precisamos descobrir. Precisamos seguir o caminho que ele nos indicou, mesmo que não saibamos onde ele vai nos levar. Porque, de alguma forma, sei que é o caminho certo para nós.
Aoi sentiu o peso daquelas palavras em seu coração. A promessa não cumprida, o mistério que ainda envolvia aquele diário, tudo parecia estar se entrelaçando em torno deles. O que era essa promessa? O que estava prestes a ser revelado? Eles teriam que desvendar juntos, no seu próprio tempo, mas uma coisa era clara: o destino já os havia unido em um laço que nenhuma promessa não cumprida poderia desfazer.
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Atualizado até capítulo 20
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