Aoi segurava o papel amarelado pelo tempo. As palavras escritas ali pareciam vibrar diante de seus olhos, como se estivessem tentando se gravar em sua mente. O bilhete era antigo, a caligrafia elegante, mas o conteúdo era o que realmente importava.
*"Se estiver lendo isto, significa que nos encontramos de novo. Mas também significa que o destino tentará nos separar mais uma vez. Não confie no tempo. Não confie no passado. E, acima de tudo, não me deixe ir."*
A assinatura no final fez seu coração parar.
**Souta.**
Ela levou uma mão trêmula à boca, os olhos arregalados. Era a letra dele. Mas aquele bilhete era muito antigo, de uma época que eles não deveriam lembrar.
O que isso significava?
Aoi sentiu o chão tremer sob seus pés. Ela precisava encontrar Souta.
Quando Aoi correu para encontrá-lo, o destino foi cruel.
Souta estava parado no meio da rua de paralelepípedos, os olhos fixos nela com um misto de alívio e desespero. Mas entre eles, uma barreira invisível se formou. O vento girava ao redor, as folhas dançavam como se tivessem vontade própria.
"Não..." Aoi sussurrou, tentando dar um passo à frente. Mas foi empurrada para trás por uma força invisível.
"Souta!"
Ele também tentou avançar, mas foi forçado a recuar. Aoi viu o desespero crescer nos olhos dele.
"Não vamos deixar isso acontecer de novo!" ele gritou.
Mas o destino não lhes deu escolha.
A escuridão se fechou ao redor deles. Um sussurro ecoou no ar, a mesma voz sombria de antes:
*"Vocês desafiaram as regras. Agora, pagarão o preço."*
E então, tudo ficou preto.
Quando Aoi abriu os olhos, estava de volta à biblioteca. O mesmo lugar onde tudo começou. Mas algo estava errado.
Souta não estava ali.
Ela sentiu seu corpo estremecer, a mente girando com a verdade que finalmente a atingiu.
Eles nunca haviam escapado.
Todas as vezes que se reencontravam, o destino os separava de novo. Eles estavam presos nesse ciclo há séculos, sem nunca conseguir um final feliz.
E agora, ela estava sozinha.
Aoi caiu de joelhos, as lágrimas escorrendo por seu rosto. O bilhete de Souta ainda estava em sua mão, amassado, molhado pelas lágrimas.
*"Não me deixe ir."*
Mas ela já o tinha perdido.
O destino venceu de novo.
O vento soprou forte, sacudindo as janelas da biblioteca. Aoi permaneceu no chão, os olhos fixos no bilhete que Souta havia escrito em outra vida.
*"Não me deixe ir."*
Mas ele já não estava mais ali.
Seu corpo tremia, a mente girava em desespero. Tudo havia se repetido. Todas as vidas, todas as vezes em que se encontraram, apenas para serem separados no fim.
Até que algo mudou.
Uma onda de calor percorreu o ambiente. Os livros tremularam nas estantes, e as luzes piscaram. Então, uma voz conhecida ecoou ao seu redor.
“Aoi.”
Seu coração parou.
Ela virou a cabeça devagar, sem acreditar no que ouvia.
Souta estava ali.
Mas não era apenas o Souta que ela conhecia. Era como se todas as versões dele, de todas as vidas que viveram juntos, estivessem reunidas em um só. Seu olhar era intenso, carregado de uma determinação feroz.
“Eu não aceito isso,” ele disse, a voz firme. “Eu não aceito um final trágico.”
Aoi engoliu em seco, o medo e a esperança lutando dentro dela. “Mas o destino—”
“Não significa nada.” Souta deu um passo à frente, e a biblioteca pareceu estremecer com sua presença. “Se o destino sempre nos separa, então eu vou destruí-lo.”
Aoi sentiu um arrepio.
“Mas... como?”
Ele estendeu a mão para ela. “Confiando em nós.”
Havia uma certeza em sua voz que ela nunca tinha ouvido antes. Uma certeza que a fez perceber que talvez, só talvez, eles ainda pudessem mudar tudo.
Ela pegou sua mão.
Naquele instante, um brilho intenso os envolveu. O tempo e o espaço pareceram se retorcer ao redor deles. A biblioteca desapareceu, e eles foram lançados para um lugar entre as eras, entre as memórias, entre tudo que já existiu.
Era ali que o destino se decidia.
E dessa vez, eles não iriam perder.
O brilho ao redor deles cresceu, engolindo tudo em uma luz dourada. Aoi sentiu o chão desaparecer sob seus pés, e por um momento, tudo foi silêncio e vazio.
Então, veio a queda.
O impacto não foi físico, mas emocional. Quando abriu os olhos, Aoi percebeu que não estava mais na biblioteca. O cheiro da madeira antiga ainda estava no ar, mas algo parecia diferente.
Ela estava em outro tempo.
Seus pés estavam sobre um piso de tatame, e lanternas de papel iluminavam o ambiente com uma luz suave. O coração dela martelou. Algo estava acontecendo.
E então, ouviu.
"Aoi?"
A voz veio de trás dela, baixa e hesitante.
Ela se virou rapidamente, o peito apertado de expectativa.
Ali, parado à sua frente, estava Souta. Mas não era o Souta que ela conhecia. Suas vestes eram de uma época antiga, um quimono tradicional adornando seu corpo. Seu olhar era o mesmo—intenso, cheio de amor e saudade.
Era ele. Mas em outra vida.
Aoi levou uma mão à boca, os olhos marejados. "Souta..."
Ele se aproximou devagar, como se temesse que ela desaparecesse caso se movesse rápido demais. "Você... voltou para mim?"
As memórias explodiram na mente de Aoi. A separação. A promessa. O destino cruel que os levou embora um do outro. Mas agora, estavam ali, juntos novamente, como se o próprio tempo tivesse lhes dado uma segunda chance.
Aoi correu para ele, sem hesitação. Ele a segurou firme, como se jamais fosse soltá-la novamente.
O inesperado havia acontecido.
Contra todas as probabilidades, contra todas as barreiras do destino—eles haviam voltado um para o outro.
O vento soprou suavemente, carregando o perfume das flores de cerejeira pelo ar. Aoi e Souta estavam à beira de um lago sereno, suas imagens refletidas na água cristalina. O tempo já não importava mais. Eles haviam sido arrancados um do outro tantas vezes, mas agora, finalmente, estavam juntos.
Souta segurou as mãos dela com firmeza, seu olhar ardendo com uma determinação inabalável.
"Aoi," ele murmurou, os dedos acariciando os dela. "Quantas vidas levamos para chegar até aqui?"
Ela sorriu suavemente, os olhos brilhando com emoção. "Incontáveis... Mas não importa mais. Estamos juntos agora."
Ele assentiu, inspirando fundo. "Então, vamos fazer uma promessa. Não importa quantas vezes o destino tente nos separar, não importa quantas vidas venham depois desta... sempre nos encontraremos novamente."
Aoi sentiu as lágrimas queimarem em seus olhos. "Mesmo que tudo desmorone ao nosso redor? Mesmo que o mundo esqueça de nós?"
Souta puxou-a para mais perto, colando sua testa à dela. "Mesmo assim. Porque nosso amor é mais forte que o tempo."
Ela sorriu, e as lágrimas finalmente escorreram por seu rosto. "Então, prometo também. Em qualquer vida, em qualquer era... eu sempre voltarei para você."
No instante em que suas palavras foram ditas, um brilho dourado os envolveu, como se o próprio universo estivesse selando aquele juramento.
O vento soprou mais forte, as cerejeiras derramando suas pétalas ao redor deles, como testemunhas silenciosas da promessa eterna.
E ali, sob aquele céu intemporal, Aoi e Souta souberam que, desta vez, nada os separaria novamente.
O brilho dourado se dissipou lentamente, deixando apenas a brisa leve e o som das folhas sussurrando ao redor. Aoi e Souta ainda estavam de mãos dadas, seus corações batendo em sincronia.
Mas algo mudou.
Aoi olhou ao redor e percebeu que estavam de volta à biblioteca. Não era apenas a biblioteca onde se conheceram — era a mesma de todas as suas vidas. O lugar onde tudo começou.
Souta engoliu em seco, apertando a mão dela. “É como se este lugar estivesse nos esperando desde sempre.”
Aoi assentiu, sentindo um arrepio percorrer sua pele. “Aqui é onde nos encontramos. Onde nos perdemos. E onde sempre voltamos.”
Eles caminharam lentamente entre as estantes, como se estivessem percorrendo as páginas de sua própria história. Os livros ao redor pareciam velhos e novos ao mesmo tempo, como se cada um contivesse um fragmento de suas vidas passadas.
Foi então que Aoi parou diante de uma mesa. Ali, repousava um livro antigo, aberto exatamente na mesma página que ela havia lido no dia em que conheceu Souta.
Ela estendeu a mão hesitante e tocou o papel amarelado. As palavras ali escritas pareciam tremular sob seus dedos, como se estivessem vivas.
Souta se aproximou, lendo em voz baixa:
*"O tempo pode nos separar, mas o amor sempre encontra o caminho de volta."*
O silêncio caiu entre eles. O significado daquelas palavras era claro demais para ser ignorado.
Aoi levantou os olhos para Souta, sentindo uma pressão invisível ao redor. "Será que este é o fim... ou apenas o começo?"
Ele respirou fundo, segurando seu rosto com delicadeza. "Talvez seja os dois."
Mas antes que pudessem dizer mais alguma coisa, um vento forte atravessou a biblioteca. As velas apagaram-se de repente, e as estantes estremeceram como se algo estivesse se movendo entre elas.
Aoi e Souta se viraram ao mesmo tempo.
Algo estava prestes a acontecer.
O vento soprou mais forte, agitando os livros nas estantes e fazendo as páginas do antigo manuscrito virarem sozinhas. Aoi sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo estava tentando separá-los novamente.
Souta segurou sua mão com força, recusando-se a soltá-la. "Desta vez, não," ele murmurou, os olhos determinados.
A biblioteca pareceu mudar ao redor deles. As paredes tremeram, e a luz dourada que antes os envolvia agora oscilava entre sombras e brilho. Era como se o próprio tempo estivesse testando sua promessa.
Uma voz sussurrou ao redor, carregada pelo vento.
*"O amor sempre encontra o caminho de volta... mas vocês estão dispostos a lutar por ele?"*
Aoi apertou os olhos, sentindo seu corpo ser puxado para trás, como se algo invisível tentasse separá-la de Souta. Seu coração disparou. Não. Não agora. Não depois de tudo.
“Souta!”
Ele a puxou para si, segurando-a firmemente. "Eu não vou deixar isso acontecer."
Mas a força invisível aumentou. Aoi sentiu seus pés saírem do chão, como se estivesse sendo arrastada para longe dele. O desespero preencheu seu peito.
Foi então que Souta fez algo inesperado.
Ele fechou os olhos e puxou Aoi para um abraço apertado.
"E se o destino tentar nos afastar mil vezes..." sua voz era firme, inabalável. "Eu vou encontrá-la mil e uma."
A luz ao redor deles explodiu em um brilho intenso. O vento parou. O tempo pareceu congelar.
Aoi sentiu um calor percorrer seu corpo, e então... tudo ficou em silêncio.
O que quer que estivesse tentando separá-los desapareceu.
O amor deles havia vencido.
Mas algo ainda estava para acontecer.
A biblioteca estava em silêncio absoluto. O vento cessou, e o brilho dourado que os envolvia agora se transformava em uma luz suave, quase melancólica. Aoi e Souta se olharam, ainda de mãos dadas, esperando que finalmente pudessem ficar juntos.
Mas então, as palavras surgiram diante deles.
No antigo livro aberto sobre a mesa, um haiku havia sido escrito como se fosse o desfecho de uma história há muito esquecida:
*"Duas almas perdidas,*
*caminham entre as estrelas,*
*sempre a buscar."*
O peito de Aoi apertou. O significado era claro demais para ser ignorado.
O ciclo não havia sido rompido.
Uma tristeza profunda tomou conta de Souta, mas ele se recusou a soltar Aoi. "Não," ele sussurrou. "Isso não pode estar certo."
Mas, naquele momento, seus corpos começaram a se desvanecer.
Quando Aoi abriu os olhos novamente, não estava mais na biblioteca. Nem Souta.
Eles estavam flutuando sobre um mar infinito de nuvens, envoltos em um céu dourado e sem fim. Havia algo de sereno naquele lugar, mas também algo profundamente triste.
Souta olhou ao redor, confuso. "Onde estamos?"
Aoi tocou o próprio peito, sentindo ainda o calor do último abraço de Souta. "O além..."
Eles não haviam conseguido vencer o ciclo. O destino, teimoso, ainda os mantinha separados.
Mas nem tudo estava perdido.
Diante deles, flutuando no ar como folhas ao vento, estavam cartas. Cartas que eles mesmos haviam escrito, em todas as suas vidas passadas.
Souta pegou uma e leu em voz alta:
*"Se não posso segurar sua mão nesta vida, escreverei meu amor para você através do tempo."*
Lágrimas encheram os olhos de Aoi. "Então é assim que nos encontramos… em palavras. Em promessas. Mesmo que não possamos estar juntos, ainda podemos nos lembrar."
Souta sorriu tristemente, pegando sua própria pena e começando a escrever. "Então, vamos continuar escrevendo. Até o dia em que o destino nos permita finalmente nos encontrar de verdade."
E assim, enquanto suas almas vagavam pelo céu, entre nuvens e memórias, suas palavras permaneceram como a única ponte entre eles.
O amor verdadeiro nunca desaparecia. Mesmo que apenas em cartas, Aoi e Souta continuariam a se encontrar.
Fim
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 20
Comments