Um amor esquecido

Aoi caminhava pela biblioteca em busca de algo novo, algo que fosse capaz de preencher o vazio que, por vezes, tomava conta de seu coração. Já havia se passado algum tempo desde o encontro com Haruto, e, embora o homem idoso tivesse partido, suas palavras ressoavam constantemente em sua mente. A história deles, que parecia tão familiar, mas ao mesmo tempo tão distante, continuava a se desdobrar em sua memória como uma lembrança fragmentada, como se as peças de um quebra-cabeça só estivessem parcialmente visíveis.

Foi então que, ao se deparar com uma prateleira empoeirada, um livro antigo chamou sua atenção. Ele estava encadernado em couro, com o título desbotado, quase ilegível. O cheiro de mofo e papel envelhecido exalava de suas páginas quando ela o abriu. A primeira página continha apenas um nome, um título que fez seu coração bater mais forte: *"Um Amor Esquecido."*

Ela hesitou por um momento, mas algo dentro de si dizia que esse livro tinha algo importante a lhe revelar. Sentou-se em uma cadeira próxima, já sem conseguir resistir à curiosidade, e começou a ler.

O livro descrevia a história de um casal que havia vivido há muitos anos em uma pequena vila no interior do Japão. Eles eram jovens, apaixonados, mas separados pelo destino. A história, escrita de forma poética e melancólica, girava em torno de um homem chamado Kaito e uma mulher chamada Aimi. Eles haviam se conhecido em uma época em que a vida era simples, marcada pela rotina do campo e pela beleza das estações que passavam lentamente.

Aoi, ao ler as palavras, sentia uma estranha familiaridade, como se o próprio sangue em suas veias reconhecesse aquela história. Kaito e Aimi eram almas gêmeas, destinadas a ficarem juntas. Mas, como tantos outros amores perdidos, o destino cruel e implacável os separou. Kaito, o jovem apaixonado, foi chamado para lutar em uma guerra distante. Ele partiu sem prometer nada, pois sabia que seu amor por Aimi transcendia qualquer distância ou tempo. Aimi, por sua vez, aguardou ansiosamente por seu retorno, mas o tempo, como sempre, mostrou sua face cruel.

As páginas seguintes relatavam a dor silenciosa de Aimi. Ela passava os dias olhando para o horizonte, esperando que o homem que ela amava voltasse, mas Kaito nunca retornou. Ela envelheceu sozinha, com o coração marcado por uma saudade que nunca se dissiparia. No final da história, Aimi morre com o nome de Kaito em seus lábios, ainda aguardando por ele, como se a morte fosse apenas uma passagem para reencontrá-lo.

Aoi sentiu uma dor profunda enquanto lia aquelas palavras. Era como se a história de Kaito e Aimi fosse um reflexo de sua própria vida, como se ela estivesse lendo não apenas um conto antigo, mas um relato que, de algum modo, estava ligado a ela. E, à medida que avançava na leitura, a sensação de déjà vu aumentava, até que ela não pôde mais ignorar.

O nome Kaito ressoava dentro dela como uma memória perdida. Ela não sabia como, mas sentia que havia uma conexão, algo inexplicável, que unia sua alma àquela história. Seu coração apertou quando ela leu a última frase, que dizia: "Mesmo separados pelo tempo, nossos corações ainda permanecem entrelaçados, aguardando a hora de se reencontrarem."

Foi então que Aoi se lembrou. O nome Kaito... Haruto. Ele havia dito que já se conheciam, que haviam compartilhado uma vida, um amor perdido. A peça final do quebra-cabeça havia se encaixado, e a verdade começou a surgir em sua mente. Haruto, o idoso, não era apenas um homem com quem ela havia cruzado o caminho naquela vida. Ele era Kaito, o jovem apaixonado, que, assim como o personagem da história, a amava profundamente.

Aoi fechou o livro com força, sentindo uma onda de emoções invadir seu ser. Não era apenas uma história, era *a* história, a sua história com Haruto. Ela havia esperado por ele, assim como Aimi, mesmo sem saber que o estava fazendo. Ela havia perdido a memória, mas o coração, esse nunca esquece.

Era como se os dois tivessem sido condenados a se separar e a se reencontrar, repetidamente, ao longo do tempo. Cada vida que viviam era uma tentativa de encontrar o outro, de reatar um laço que não podia ser quebrado, mesmo pelas forças implacáveis do destino. O amor deles, tão forte e inquebrantável, transcendia o tempo e as circunstâncias.

Aoi sabia agora que a memória de Kaito, ou melhor, de Haruto, estava em seu sangue. E, mesmo que ela não tivesse lembrado disso antes, seu coração sempre soubera. Aquela era uma história que se repetia, que aguardava pacientemente para ser vivida novamente, com todos os seus altos e baixos, suas separações e reencontros.

Ela levantou-se da cadeira e, sem hesitar, saiu da biblioteca. O céu estava nublado, e uma leve brisa soprava, como se o universo estivesse lhe dando permissão para seguir em frente. Cada passo que dava parecia mais firme, mais confiante. Ela sabia agora que o amor perdido, o amor esquecido, não era algo do passado. Ele ainda estava vivo, esperando por ela, esperando por Haruto, esperando por eles.

Quando Aoi chegou em casa, encontrou Haruto sentado em sua varanda, olhando para o horizonte. O mesmo sorriso suave estava em seus lábios, aquele sorriso que ela sempre conhecera. Eles se olharam por um longo momento, sem palavras, apenas sentindo a presença um do outro, como se o mundo ao redor desaparecesse.

Então, Aoi finalmente falou, sua voz cheia de emoção.

— Haruto... Eu lembro de tudo. Eu lembro de nós.

Ele olhou para ela, e seus olhos brilharam com a mesma ternura de sempre. Ele se levantou lentamente e se aproximou dela, suas mãos se encontrando.

— Eu também, Aoi. Eu também.

O amor deles, perdido no tempo, finalmente encontrou o caminho de volta. E, no silêncio da noite que caía suavemente, eles sabiam que nada mais poderia separá-los. O amor deles, aquele amor esquecido, agora estava vivo, pulsando em seus corações, como se o tempo nunca tivesse passado.

Juntos, finalmente, eles estavam completos.

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