O festival das lanternas

O som suave de tambores e flautas preenchia o ar, acompanhando o murmúrio das vozes animadas da multidão. O céu noturno estava iluminado por centenas de lanternas de papel que flutuavam acima deles, dançando como pequenos vagalumes em uma noite tranquila. Era o Festival das Lanternas, um evento anual que atraía todos na cidade para celebrar a chegada da primavera.

Aoi caminhava ao lado de Souta, os olhos brilhando com a luz das lanternas, mas algo mais parecia pulsar dentro dela. Uma sensação de déjà vu que não conseguia se explicar. O que havia de tão familiar naquela cena? A música suave, as cores vibrantes, os sorrisos ao redor, tudo parecia ser parte de uma memória distante. Como se já tivesse vivido aquele momento antes.

— Souta... você já se sentiu assim? — perguntou Aoi, com a voz levemente trêmula.

Souta, que estava distraído observando uma das lanternas subindo lentamente ao céu, virou-se para ela, sem entender muito bem o que ela queria dizer. Ele sentiu um arrepio na espinha, mas não sabia explicar.

— Como assim? — ele perguntou, tentando entender o que ela queria dizer.

Aoi olhou para as lanternas que subiam aos poucos, iluminando o céu escuro como estrelas caindo. O vento suave balançava os cabelos dela, e, por um momento, ela se perdeu na imagem. Era como se aquela cena estivesse gravada em sua mente há muito tempo, como um filme que ela já tinha assistido, mas não lembrava do final.

— Como se já tivéssemos vivido isso antes. Como se essas lanternas, essa música, esse momento... tudo já fosse familiar para nós. Como se fôssemos parte dessa história, em outra vida, em outro tempo.

Souta parou, sentindo o peso das palavras dela. Ele olhou para ela, tentando compreender. O olhar de Aoi estava fixo nas lanternas, seus olhos refletindo as luzes e as sombras que dançavam à sua volta.

— Eu... — ele começou, a voz embargada. — Eu também sinto isso. Eu também estou... sentindo que já estive aqui. Com você. Nesse momento.

O silêncio se instalou entre os dois, quebrado apenas pelo som das flautas e dos risos distantes da multidão. Aoi sentiu o coração bater mais forte. Havia algo naquela noite, algo que os unia de uma forma que não podiam entender. As lanternas continuavam a subir, como se esperassem por algo. Talvez uma resposta, talvez uma lembrança.

Aoi olhou para Souta, seus olhos se encontrando em um instante de pura conexão. Ela não precisava dizer mais nada; ele sabia. Eles sabiam. Algo estava acontecendo, algo que ia além do presente, além da lógica. Era como se o destino tivesse os colocado ali, naquele exato momento, para reviver uma memória esquecida.

— Lembra do poema? — Aoi perguntou suavemente, o eco de suas próprias palavras parecendo surgir de algum lugar profundo de sua alma.

Souta assentiu lentamente, o poema que ela havia encontrado vindo à sua mente com clareza. Ele sentia que havia algo mais por trás daquela escrita, algo que se estendia muito além do tempo em que viviam agora.

— Sim. Eu... eu lembro — respondeu ele, as palavras fluindo com naturalidade, como se fizessem parte de sua própria história. — E sinto que aquele Souta, de cem anos atrás, está aqui, conosco. Ele nos trouxe até esse momento. Até esse festival. Como se fosse uma maneira de cumprir a promessa não cumprida.

O vento soprava com mais força, e as lanternas se moviam de forma mais intensa, como se as estrelas no céu estivessem celebrando o reencontro. Aoi fechou os olhos por um momento, tentando processar o que sentia. Mas no instante em que ela os abriu novamente, viu algo no horizonte.

Uma lanterna, maior e mais brilhante que todas as outras, estava subindo, sozinha. Ela parecia se distanciar lentamente da multidão, como se tivesse uma jornada própria. Era como se ela estivesse os guiando, levando-os para algo maior. Aoi sentiu uma pressão no peito, uma sensação de que, ali, naquele instante, algo importante estava prestes a acontecer.

Ela olhou para Souta, seus olhos agora preenchidos com uma mistura de esperança e apreensão.

— Você vê isso? — perguntou ela, apontando para a lanterna solitária.

Souta seguiu o gesto dela, observando a lanterna flutuando lentamente para o alto. Algo no brilho daquela luz o fez sentir uma conexão intensa. Era como se aquela lanterna representasse algo mais — uma promessa, uma jornada, uma memória que estava se desenrolando diante deles.

— Eu vejo — respondeu ele, a voz carregada de uma sensação de urgência. — Acho que é nossa. A nossa.

Com um olhar determinado, Aoi deu um passo à frente, como se algo dentro dela a chamasse para seguir aquele caminho. Ela estendeu a mão para Souta, um gesto silencioso de confiança e compreensão. Souta, sem hesitar, segurou sua mão firmemente. Eles caminharam juntos, seus passos sincronizados, em direção à lanterna que parecia chamá-los. O som da música, as luzes, e o murmúrio da multidão desapareceram à medida que se afastavam do centro do festival.

As lanternas continuavam a subir, mas havia uma sensação de que todas aquelas luzes agora eram apenas um reflexo daquela única, solitária lanterna, que os guiava para um destino que eles ainda não entendiam completamente, mas que sabiam ser deles.

Quando chegaram ao local onde a lanterna estava, uma leve brisa passou por eles, e a lanterna parou. Não subia mais, mas flutuava suavemente, como se esperasse. Aoi e Souta ficaram ali, em silêncio, observando a luz que agora parecia brilhar mais forte do que nunca.

— O que devemos fazer? — perguntou Aoi, sua voz suave e cheia de dúvidas.

Souta olhou para ela, sentindo uma clareza inexplicável em seu coração. Ele sabia que aquele momento era importante, talvez o mais importante de suas vidas.

— Eu acho que... devemos soltá-la — disse ele, a resposta saindo com uma convicção que ele não sabia de onde vinha. — Como se liberássemos a memória. A promessa. O destino.

Aoi olhou para a lanterna e, com um sorriso gentil, estendeu a mão para soltá-la. No momento em que ela tocou a corda, a lanterna subiu novamente, mais rápido do que todas as outras, desaparecendo no céu noturno, levando consigo o peso das memórias antigas e das promessas não cumpridas.

E, enquanto observavam a lanterna se afastar, Aoi e Souta sentiram algo mudar. Algo dentro deles, algo que os conectava de uma forma que ia além do tempo, além da lógica. Eles haviam cumprido uma parte do destino que os unia, e agora, juntos, estavam prontos para desvendar o resto.

A noite continuou, mas para eles, o festival das lanternas era mais do que uma simples celebração. Era a chave para um reencontro, para uma memória esquecida, e para uma promessa que finalmente começava a ser cumprida.

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