A tarde estava tranquila, e o som das folhas secas sendo movidas pelo vento preenchia o silêncio da praça. Souta caminhava devagar, sem rumo específico, tentando clarear os pensamentos. Nos últimos dias, ele se sentia incompleto, como se algo estivesse faltando, mas ele não conseguia identificar o quê. Seus encontros com Aoi sempre lhe davam uma sensação de familiaridade, mas agora ele sentia que havia algo mais, algo além da conexão óbvia entre eles.
Ele parou em frente ao lago da praça, onde o reflexo das árvores dançava na água calma. Era um lugar que ele visitava com frequência, mas hoje algo parecia diferente. A luz do sol que filtrava pelas copas das árvores parecia mais dourada, mais suave, e ele se sentia atraído para o centro da praça, onde havia uma pequena banca de livros usados.
Aoi estava ali, como se o destino os tivesse guiado para se encontrarem novamente. Ela estava folheando um livro antigo, e ao perceber a presença de Souta, levantou os olhos.
— Souta, olha o que encontrei — disse ela, a voz suave e convidativa.
Ele se aproximou, curioso, e olhou para o livro em suas mãos. Era um pequeno volume de capa dura, aparentemente muito antigo.
— O que é isso?
Aoi abriu o livro e, com um sorriso enigmático, apontou para uma página.
— Olha só, é um haiku. Parece simples, mas… não sei, algo nele me parece tão familiar.
Souta se aproximou mais, lendo as palavras escritas com uma caligrafia delicada:
*"O vento canta forte,
nas árvores, uma dor,
silêncio eterno."*
Assim que os olhos de Souta percorreram as palavras, uma onda de déjà vu o envolveu. Ele congelou, sentindo o peso daquelas palavras, como se já as tivesse lido em algum lugar, em algum momento distante. O vento, o som das árvores e o silêncio… tudo parecia ter sido registrado em sua memória, mas de uma maneira distante, quase inatingível.
Ele olhou para Aoi, e ela parecia absorver o mesmo impacto.
— Aoi, onde você encontrou isso? — sua voz saiu quase como um sussurro.
Ela franziu a testa, também tomada pela sensação.
— Eu… não sei. Estava na banca, entre vários outros livros antigos. Mas essas palavras… elas me tocaram de uma forma estranha. Como se eu já as tivesse ouvido antes, em outra vida.
Souta olhou para o céu por um momento, tentando processar a sensação de confusão que o invadia. As palavras do haiku, o vento, o silêncio — tudo isso parecia ter uma ligação com algo que ele ainda não conseguia entender. Ele sentia como se aquele momento fosse uma chave para desbloquear uma memória perdida, algo que estava enterrado dentro dele, esperando para ser revelado.
— Eu… sinto o mesmo — disse ele, sua voz baixa. — Como se essas palavras estivessem guardadas em algum canto da minha mente. Eu… já ouvi esse haiku antes.
Aoi o olhou, seus olhos brilhando com uma mistura de mistério e compreensão.
— É como se o vento estivesse nos chamando, não é? Como se as árvores e o silêncio fossem ecoar nossas próprias lembranças.
Souta assentiu lentamente. Ele sabia que algo profundo estava sendo despertado ali, mas ainda não sabia como. Ele sentiu que, de alguma forma, Aoi e ele estavam mais conectados do que jamais imaginou. O haiku, as palavras simples, mas carregadas de significado, estavam falando diretamente com seus corações, como se fossem sussurros de um passado esquecido.
— Você já sentiu que poderia lembrar de algo mais? — perguntou Aoi, quase como se estivesse pensando em voz alta.
— Sim… como se as palavras do haiku fossem um código. Algo que, uma vez decifrado, nos mostraria a verdade.
Aoi fechou os olhos por um instante, como se tentasse ouvir algo além do som do vento.
— E se isso nos levar a algo importante? A algo que estamos esquecendo, mas que deve ser lembrado?
Souta sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras dela ressoaram como um eco no fundo da sua mente. Ele sentiu que, de alguma forma, Aoi já sabia o que estava por vir. Era como se as duas almas estivessem em sintonia, como se o haiku fosse uma ponte entre o presente e o passado, uma ponte que eles precisavam atravessar juntos.
— Eu… acho que já sei o que precisamos fazer — disse Souta, a voz firme.
Aoi o olhou com curiosidade.
— O que devemos fazer?
— Precisamos voltar ao lugar que o haiku descreve. O vento, as árvores, o silêncio. Talvez lá possamos encontrar o que estamos buscando.
Aoi sorriu suavemente, como se já soubesse que ele diria isso.
— Então vamos. O destino nos chama, Souta.
Eles caminharam juntos, como se estivessem seguindo uma trilha invisível, uma trilha que os guiava para algo além do entendimento. O haiku, com suas palavras simples, agora parecia mais do que uma poesia qualquer. Era um mapa, uma chave, que os conduzia para uma descoberta que desafiava o tempo e a razão.
O vento que soprava ao redor parecia cantar suas próprias histórias, e as árvores, com seus galhos balançando suavemente, eram testemunhas silenciosas de algo que estava prestes a ser revelado. O silêncio entre eles agora não era vazio; ele estava carregado de significado.
Aoi olhou para Souta, e ele sentiu que, de algum modo, ele já sabia o que ela pensava. Eles estavam no caminho certo, e nada mais importava. O passado, as memórias, tudo estava se alinhando, e o som do vento agora não era apenas o som da natureza. Era o som de algo muito maior. O som de uma história que estava prestes a ser contada novamente.
Enquanto caminhavam, o som do vento parecia se intensificar, como se estivesse acompanhando o ritmo dos passos de Souta e Aoi. A praça que eles haviam atravessado estava agora longe, e o caminho à frente os conduzia por uma trilha mais estreita, cercada por árvores que formavam um corredor verdejante. O céu acima estava tingido de um dourado suave, como se o entardecer quisesse se arrastar eternamente, e o ar estava impregnado com a fragrância de folhas e terra molhada.
Aoi caminhava ao lado de Souta, os olhos fixos à frente, mas seus pensamentos pareciam estar em outro lugar. Ela sentia que, de alguma forma, aquele caminho era mais familiar do que qualquer lugar que já tivesse visitado antes. Havia uma calma imensa em seu interior, uma sensação de que as peças do quebra-cabeça estavam finalmente se encaixando.
— Souta… — disse Aoi, quebrando o silêncio. Sua voz estava baixa, mas havia uma força tranquila nela. — Você já pensou que, talvez, nossas vidas anteriores estejam se entrelaçando agora? Que esse encontro não é apenas uma coincidência?
Souta olhou para ela, e algo na sua pergunta o fez parar por um momento. Ele nunca havia considerado seriamente essa possibilidade, mas agora, ao refletir sobre tudo o que sentia, parecia que havia algo de real naquela ideia. Ele olhou para as árvores ao seu redor, como se procurasse alguma resposta nas folhas que balançavam suavemente.
— Eu não sei — respondeu ele, com sinceridade. — Mas a sensação de que já estive aqui, com você, antes… isso não é algo que eu possa ignorar.
Aoi sorriu levemente, como se soubesse o que ele queria dizer sem que precisasse de mais palavras. Ela havia sentido a mesma coisa desde o momento em que os dois se conheceram na biblioteca. Era uma sensação estranha, uma sensação de que o tempo não tinha limites, de que algo maior estava em jogo. Algo que não podia ser explicado, mas que eles precisavam viver para entender.
Eles continuaram a caminhar, agora em silêncio, enquanto o vento parecia se tornar mais suave, como se o próprio ar estivesse se aquietando para ouvir o que estava prestes a acontecer.
Depois de um tempo, chegaram a uma pequena clareira no meio da floresta. O lugar era sereno, com um lago tranquilo no centro, cujas águas refletiam o céu, agora tingido de rosa e lilás pelo pôr do sol. A atmosfera parecia carregada de uma energia tranquila, mas intensa, como se o tempo tivesse parado ali, esperando por eles.
— Aqui… — Aoi murmurou, a voz embargada, como se reconhecesse o lugar de algum lugar profundo dentro dela. — Eu já estive aqui antes.
Souta olhou ao redor, sentindo a mesma sensação. Havia algo no ambiente que parecia puxá-lo, como se ele tivesse alguma memória esquecida ali. Ele caminhou até o lago e se agachou na beira, olhando para a água. Tudo estava em silêncio, mas ele sentiu como se pudesse ouvir algo, como se o próprio lugar estivesse tentando lhe contar uma história.
Foi então que ele viu. Na borda do lago, parcialmente coberto por musgo, havia uma pedra com inscrições. Souta se aproximou, tocando a superfície da pedra com os dedos. O toque era suave, mas havia algo que parecia quase… familiar.
— Aoi… — ele chamou, a voz tremendo de emoção. Ela se aproximou e olhou para a pedra.
As inscrições estavam em japonês antigo, e embora não fossem fáceis de decifrar, algo nas palavras parecia ressoar profundamente em ambos. Aoi se agachou ao lado de Souta, tocando a pedra com reverência.
— Eu já vi isso antes — disse ela, quase em um sussurro. — Essas palavras… elas falam sobre reencontros e sobre a conexão que transcende as vidas passadas.
Souta olhou para ela, surpreso. Ele nunca teria imaginado que Aoi fosse capaz de decifrar aquelas palavras com tanta facilidade, mas agora não havia mais dúvidas. O destino os havia guiado até ali, até aquele lugar, onde tudo começava a fazer sentido.
— "Vidas que se perdem, mas se reencontram em círculos infinitos" — Aoi leu, com uma suavidade na voz. — Eu sabia que essas palavras não eram aleatórias. Estamos aqui, juntos, por uma razão.
Souta sentiu um aperto no peito. As palavras eram tão simples, mas ao mesmo tempo, tão poderosas. Ele sabia que tudo o que estava acontecendo não era uma coincidência. Aquela conexão entre ele e Aoi, aquelas sensações de déjà vu, as memórias fragmentadas… tudo isso estava se alinhando agora, naquele momento.
Ele se virou para ela, os olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e compreensão.
— Aoi… o que isso significa para nós? Para nós dois?
Aoi o olhou nos olhos, o olhar sério, mas ao mesmo tempo, cheio de uma confiança tranquila.
— Significa que não importa o quanto tentemos escapar, sempre voltamos para onde pertencemos. Eu sei que te conheço, e que você me conhece, não apenas nesta vida, mas em todas as que vivemos. Estamos destinados a estar juntos, Souta.
Souta sentiu uma onda de calor e emoção invadir seu coração. Era como se uma porta se abrisse dentro dele, uma porta que ele nem sabia que existia. Ele estendeu a mão para Aoi, e ela a pegou com firmeza, como se o toque de suas mãos fosse o último elo que faltava para completar o círculo que os unia.
O vento soprou mais forte, agora parecendo um sussurro suave, como uma canção de despedida e boas-vindas ao mesmo tempo. O silêncio do lago, o som das folhas ao vento, tudo estava em harmonia, como se a natureza ao redor deles estivesse celebrando aquele reencontro.
E então, como se em um suspiro compartilhado, ambos sentiram o peso de todas as vidas passadas, todas as escolhas, os reencontros, os momentos perdidos e encontrados. Eles estavam juntos novamente, como se nunca tivessem se separado, e esse sentimento os preenchia com uma paz profunda e absoluta.
Aoi sorriu, e Souta sentiu que agora, finalmente, estava em casa.
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Atualizado até capítulo 20
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