Fragmentos de outra vida

Era uma tarde calma de outono, e Aoi estava visitando a biblioteca local, como fazia sempre que procurava um pouco de paz. O lugar estava quieto, exceto pelo som suave das páginas sendo viradas e o farfalhar dos casacos de outros visitantes que passavam pelas estantes. Ela gostava de vir ali sozinha, com o aroma da madeira e dos livros antigos preenchendo o ar, sentindo-se confortável e conectada com algo profundo.

Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos, um homem idoso chamou sua atenção. Ele estava sentado em uma das mesas, com um livro aberto na frente dele, mas seu olhar estava fixo nela. O olhar era curioso, mas havia algo mais, algo que ela não podia identificar. Aoi sentiu um calafrio percorrer sua espinha, e seus olhos se encontraram com os dele por um momento. O homem sorriu levemente, um sorriso suave e acolhedor, mas com uma sensação de reconhecimento que a fez parar no lugar.

Ele parecia familiar, mas ela não conseguia se lembrar de onde o tinha visto antes.

Aoi hesitou, mas decidiu se aproximar, seus passos ecoando na quietude da biblioteca. O idoso ainda a observava, e ela sentiu uma estranha sensação de déjà vu, como se aquele encontro fosse predestinado, como se algo em sua alma já o conhecesse.

— Desculpe-me, senhor... — ela começou, com a voz um pouco trêmula, tentando entender o que estava acontecendo.

O homem levantou os olhos lentamente, fixando-os nela com um olhar intenso, mas carinhoso. Ele parecia ter algo a dizer, mas estava hesitante, como se estivesse procurando as palavras certas.

— Aoi... — disse ele, com uma suavidade que fez o nome dela soar como uma melodia familiar. — Você... você está diferente, mas ao mesmo tempo, é como se fosse a mesma.

Aoi sentiu uma onda de confusão invadir sua mente. Como ele sabia seu nome? Nunca tinha visto aquele homem antes, mas havia algo em seus olhos, algo no tom de sua voz que a fazia sentir como se o conhecesse há muito tempo.

— Como sabe o meu nome? — ela perguntou, com a voz quase inaudível, sem saber o que mais dizer. Seu coração batia mais rápido, e ela se sentia desconectada do presente, perdida em um espaço onde o passado parecia estar se sobrepondo ao agora.

O idoso suspirou profundamente, fechando o livro na frente dele e colocando as mãos sobre a mesa, como se estivesse se preparando para contar uma história muito antiga. Ele observou Aoi por mais alguns segundos, como se estivesse ponderando o melhor momento para falar.

— Eu não sei como, mas sinto que... já te conheci, Aoi. De uma vida distante. Eu me lembro de seus olhos, de seu sorriso. Eu... sei que já caminhamos juntos, em algum lugar, em outro tempo.

Aoi ficou paralisada. Aquelas palavras ressoaram dentro dela como um eco distante, uma verdade não dita que parecia ter sido enterrada por muito tempo. Ela olhou para o idoso com uma mistura de incredulidade e curiosidade, mas algo dentro dela dizia que ele estava dizendo a verdade, de alguma forma.

— O que quer dizer com "outra vida"? — ela perguntou, sua voz quase sussurrando. Era como se ela estivesse entrando em um mundo onde as leis do tempo e da realidade se misturavam.

O homem sorriu novamente, dessa vez com uma suavidade que parecia abraçar sua alma. Ele pegou uma foto de um envelope ao lado do livro e a entregou a Aoi. A imagem estava envelhecida, o papel amarelado, mas o que capturava a atenção de Aoi era a mulher na foto — uma mulher jovem, com cabelos negros e um olhar profundo e misterioso. Aoi piscou várias vezes, sentindo seu coração acelerar.

Ela olhou para o idoso, sua mente tentando entender o que estava acontecendo.

— Eu... eu me lembro de você — disse ela, quase sem saber como isso era possível. — De algum lugar. De algum tempo. Mas como?

O homem respirou fundo, como se estivesse aliviado por finalmente poder compartilhar algo que pesava em seu coração há muito tempo.

— Você se lembra de mim, Aoi? Do nome... da nossa história? De quem éramos, antes de nos encontrarmos aqui? — ele perguntou suavemente. Seus olhos estavam cheios de uma tristeza profunda, como se estivesse lamentando algo que havia sido perdido no caminho do tempo.

Aoi olhou para a foto na sua mão, e de repente, flashes de imagens, sons e sentimentos começaram a invadir sua mente. Ela viu imagens fragmentadas — um campo de flores, uma conversa sussurrada à luz de velas, um abraço caloroso. Ela viu ele, o homem na foto, em um lugar distante, em um tempo que não conseguia identificar. Mas sabia que aquele rosto, aquele sorriso, eram familiares.

Ela fechou os olhos por um momento, tentando processar o turbilhão de emoções e memórias que começaram a tomar forma. Quando os abriu novamente, olhou para o idoso e o chamou, como se fosse um reflexo de sua alma.

— É você... Você é o Haruto.

O homem sorriu com os olhos cheios de uma alegria silenciosa, como se tivesse esperado ouvir essas palavras por muito tempo.

— Sim, Aoi. Eu sou Haruto. E nós já estivemos juntos, em uma vida que já se foi. Eu não sei como, mas você sempre esteve comigo, e eu com você. Como se o destino nos tivesse dado outra chance de nos encontrarmos.

O coração de Aoi parecia bater mais rápido. As palavras de Haruto tinham um poder estranho sobre ela, como se algo muito profundo estivesse sendo desbloqueado dentro dela. Ela se inclinou para a frente, seu olhar fixo nele.

— Mas... se já nos conhecemos... por que não me lembro de você?

Haruto suspirou, uma tristeza profunda tomando conta de seu rosto. Ele olhou para as mãos, como se estivesse lembrando de algo doloroso.

— O tempo apaga as memórias, Aoi. Mas o que permanece são os sentimentos, as conexões que fazemos. Mesmo que a memória se apague, a alma nunca esquece. E eu sabia, em algum lugar dentro de mim, que nos encontraríamos de novo. Mesmo que fosse nesta vida, nesta nova oportunidade.

Aoi se sentou na cadeira à frente dele, o livro e a foto ainda em suas mãos, como se ambos fossem a chave para algo que ela não compreendia completamente. Algo sobre seu passado, sobre a vida que vivera antes, que estava agora sendo revelado.

— O que aconteceu conosco, Haruto? Por que não estamos mais juntos? — ela perguntou, sua voz trêmula.

O homem olhou para ela com um sorriso triste, um sorriso cheio de compreensão e dor.

— O destino, Aoi. Às vezes, o destino nos separa para que possamos crescer, para que possamos aprender. Mas eu nunca te esqueci. E agora que nos encontramos, talvez possamos começar de novo. Com todas as nossas memórias, todas as nossas almas conectadas novamente.

Aoi sentiu uma leve brisa entrar pela janela da biblioteca, como se fosse uma resposta silenciosa. Ela olhou para o idoso com uma nova compreensão. De algum modo, ela sabia que este encontro não era apenas uma coincidência. Era uma chance, uma oportunidade de redescobrir algo que tinha sido perdido.

— Talvez, então, possamos reconstruir o que perdemos — ela disse suavemente, sentindo o peso de suas palavras.

Haruto sorriu, e Aoi sentiu, pela primeira vez, que algo dentro dela estava se curando, que o tempo e as lembranças, por mais distantes que fossem, finalmente poderiam ser recuperados.

— Eu sempre estarei aqui, Aoi — respondeu Haruto, sua voz cheia de uma promessa silenciosa.

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