A chuva havia diminuído, mas o vento ainda sibilava nas árvores ao redor da pequena vila. Aoi sentia o ar pesado, como se carregasse o peso de algo esquecido, algo importante. Desde o encontro com Souta, algo dentro dela parecia ter se quebrado, ou talvez, se revelado. Como se o destino tivesse puxado o fio de um velho mistério, forçando-a a ir em direção a algo que ela não conseguia entender completamente. Sentia, no fundo, que havia deixado algo para trás, e o chamado estava se tornando impossível de ignorar.
Ela não sabia por que, mas a vila era o lugar certo. Era como se, ao olhar para cada rua estreita e cada casa de madeira, ela estivesse se lembrando de algo, uma memória fragmentada que a tornava ainda mais inquieta. Cada passo que dava a aproximava de algo, mas o que era? Uma resposta? Uma pessoa? A verdade sobre sua conexão com Souta?
Aoi tomou uma respiração profunda antes de atravessar a ponte de madeira que ligava a parte nova da cidade à antiga vila, um lugar quase intocado pelo tempo. As casas eram simples, com telhados de palha e jardins floridos, mas havia uma calma ali que parecia ter sido preservada por gerações. Ela caminhava lentamente, sentindo o peso daquelas ruas silenciosas, como se as pedras sob seus pés guardassem segredos profundos, segredos que estavam esperando para serem revelados.
Ao longe, Aoi avistou uma pequena loja de antiguidades, com vitrines que exibiam objetos antigos e relíquias cobertas de poeira. Algo a fez parar diante da porta. O interior estava em sombras, mas uma luz suave emanava de dentro, como se convidasse Aoi a entrar. Sem pensar duas vezes, ela empurrou a porta, o sino de vento tocando suavemente.
Dentro, o cheiro de madeira envelhecida e incenso preenchia o ar. O dono da loja, um idoso com olhos que pareciam conhecer o peso de muitas histórias, levantou-se quando a viu. Ele sorriu, mas havia algo misterioso em seu olhar.
"Você está procurando algo em particular?", ele perguntou com uma voz suave, mas firme.
Aoi olhou ao redor, sem saber exatamente o que estava procurando, mas com a sensação de que ali, naquele lugar, poderia estar a chave para sua busca. Ela não sabia o que responder, mas foi então que seus olhos caíram sobre uma caixa de madeira antiga, guardada cuidadosamente sobre uma prateleira. Algo sobre ela chamou sua atenção, como se a caixa estivesse esperando por ela.
"Essa caixa... onde você a encontrou?", Aoi perguntou, sem conseguir desviar o olhar.
O idoso a observou por um momento, sua expressão ficando séria. "Essa caixa tem uma história longa, muito longa. Foi trazida de uma vila distante, há muitos anos. Não é para qualquer um, você sabe."
Aoi aproximou-se da prateleira, tocando delicadamente a caixa. Era leve, mas havia algo dentro que fazia sua alma tremer. Ela a abriu, revelando dentro uma coleção de cartas amareladas e um pequeno objeto que parecia um amuleto.
"Essas cartas... são minhas?", ela murmurou, sem saber por que sentia que aquelas palavras haviam sido escritas para ela. As cartas tinham um estilo de caligrafia antiga, mas algo nelas parecia profundamente familiar.
O homem assentiu, lentamente. "Sim. As cartas falam de um amor perdido, de promessas que não puderam ser cumpridas, e de destinos que se entrelaçam ao longo do tempo. Elas estão ligadas à sua história."
Aoi ficou em silêncio, os olhos fixos nas cartas. As palavras nas páginas começaram a tomar forma em sua mente. Ela sentia uma conexão inexplicável com elas, como se tivesse escrito aquelas cartas em uma vida passada, ou como se o próprio destino estivesse tentando lhe falar através delas.
"O que significa isso?", Aoi perguntou, sua voz trêmula. "Como elas estão ligadas a mim?"
O idoso suspirou, olhando para ela com um olhar grave. "Você já esteve aqui antes, Aoi. Essa vila, essa loja, tudo isso faz parte do seu passado. O seu destino foi selado muito antes de você nascer. E Souta... ele também faz parte disso."
As palavras ecoaram na mente de Aoi como um choque elétrico. Ela olhou para o idoso, tentando compreender o que ele estava dizendo. "Souta... mas... como? Eu mal o conheço."
O homem sorriu suavemente, como se estivesse compartilhando uma verdade dolorosa. "O destino não se apaga, Aoi. Ele se repete. Vocês dois têm uma ligação profunda, que ultrapassa o tempo. O que está perdido deve ser encontrado, e o que foi prometido, deve ser cumprido."
Aoi sentiu seu coração bater mais forte, mas ainda assim, as palavras não faziam sentido completo. Ela olhou para o amuleto na caixa, agora segurando-o em suas mãos. Era pequeno, simples, mas parecia pulsar com uma energia antiga. Algo nela se aquietou, como se o amuleto fosse a chave para o que faltava.
"Você deve voltar à vila", o homem disse, interrompendo seus pensamentos. "Às margens do rio, onde a velha árvore está. Lá, você encontrará o que está procurando."
Sem hesitar, Aoi agradeceu e deixou a loja. Sentia que o ar ao redor dela estava mais denso, mais carregado de significado. As palavras do idoso ainda ressoavam em sua mente. "O que foi prometido deve ser cumprido." Ela sabia que algo estava prestes a mudar.
A caminhada até a margem do rio foi longa, mas ela não se importava. Cada passo parecia a levar mais perto de algo que ela não conseguia identificar, mas sentia profundamente. Quando finalmente chegou à árvore, uma velha cerejeira que parecia ter resistido a mil invernos, ela se ajoelhou no chão. O som da água do rio, suave e constante, parecia ajudá-la a entrar em um estado de meditação, onde as memórias começaram a fluir como um rio desimpedido.
Foi então que ela o viu. Em sua mente, uma visão surgiu, clara e vívida. Ela estava ali, naquela mesma árvore, segurando a mão de um homem. Ele a olhou com olhos de amor e pesar, como se soubesse que ela estava partindo. Aoi sentiu uma onda de saudade imensa e um arrepio percorreu sua espinha.
A imagem desapareceu, mas a sensação permaneceu.
Ela se levantou, olhando ao redor. Não havia nada físico ali, mas a sensação de que algo profundo havia acontecido foi avassaladora. Aoi sabia, então, que havia uma ligação entre ela e aquela vila, entre ela e o homem que havia visto em sua visão. Tudo estava se conectando.
Ela voltou para a cidade, onde as respostas ainda estavam fora de alcance, mas agora sabia que precisava falar com Souta. Ele seria a chave para entender tudo isso.
O destino, ela sentia, finalmente estava se revelando. E não havia mais como voltar atrás.
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Atualizado até capítulo 20
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