Ecos na chuva

A tempestade havia chegado sem aviso, seus trovões ecoando como um aviso de que algo profundo estava prestes a acontecer. As primeiras gotas de chuva começaram a bater contra a janela, criando um som suave, mas constante, como uma melodia que parecia tocar diretamente na alma. Aoi estava em casa, sentada ao lado da janela, observando as águas caírem. Algo naquele momento parecia errado. Como se o próprio clima estivesse refletindo um tumulto interior que ela não conseguia entender completamente.

Souta, por outro lado, estava em sua sala de estar, olhando pela janela do outro lado da cidade. Ele estava sozinho, mas não se sentia solitário. O som da tempestade, enquanto avassalador, trazia-lhe uma estranha sensação de familiaridade, como se ele já tivesse ouvido esse som antes, em outra vida, em outra época. Ele apertou os olhos, tentando se concentrar, mas foi então que algo o atingiu com força. Flashbacks.

Lágrimas caíam. Não de dor, mas de saudade. O cheiro de terra molhada, o som da chuva batendo em telhados de papel, risos abafados em algum lugar distante. Ele fechou os olhos, tentando capturar a essência daquela memória. Havia algo mais, algo profundamente pessoal, mas as imagens se desfaziam com a mesma rapidez com que surgiam. Quem eram aquelas pessoas? Onde ele estava? Por que isso lhe parecia tão... real?

Os flashes se intensificaram à medida que a chuva caía mais forte. Souta balançou a cabeça, afastando-se da janela, mas não conseguiu parar de sentir uma crescente sensação de urgência. Algo estava incompleto. Ele sentia como se tivesse perdido algo vital e agora, no meio daquela tempestade, algo o puxava em direção a uma resposta.

Enquanto isso, Aoi sentia uma necessidade crescente de fazer algo, de ir a algum lugar. Algo dentro dela sussurrava que ela havia deixado algo importante para trás, algo que estava escondido nas profundezas de suas memórias. Ela se levantou abruptamente, o coração batendo mais rápido, e começou a andar pela casa, como se estivesse buscando uma pista, algo que a guiasse até a resposta que ela não conseguia entender. Por que agora? Por que quando a tempestade parecia engolir o mundo lá fora, ela sentia que sua mente também estava sendo consumida pela necessidade de algo perdido?

A chuva se intensificava e, com ela, o sentimento de que ela não estava sozinha. Aoi olhou pela janela, seus olhos observando o céu escuro e turbulento. A sensação de déjà vu era forte, mas ela não sabia o que significava. Tudo o que ela sabia era que precisava encontrar algo. Ela não podia simplesmente ignorar isso.

No apartamento de Souta, a luz piscou brevemente, e ele parou no meio da sala, seus olhos se estreitando enquanto sentia uma presença. Não era algo físico, mas uma sensação... algo que tocava seu coração e sua mente de uma maneira que ele não podia compreender. Era como se ele estivesse sendo chamado, puxado em direção a algo distante, mas ao mesmo tempo, inexplicavelmente familiar. Ele sentiu uma onda de calor percorrendo sua espinha enquanto uma visão tomou conta dele.

Era uma paisagem montanhosa, envolta pela neblina, mas ele estava lá, andando por uma trilha escorregadia, com o som da chuva batendo forte ao fundo. Ele se virou para olhar, e ali estava uma figura, de costas, uma silhueta familiar, mas ao mesmo tempo difícil de reconhecer. Ele queria correr até ela, gritar, perguntar quem era, mas as palavras estavam presas. A figura virou-se lentamente, e quando seus olhos se encontraram, a visão desapareceu com um estrondo de trovão.

Souta deu um passo para trás, sua respiração pesada. O que havia sido aquilo? Um sonho? Uma memória? Ele não sabia. Mas a sensação de estar tão perto de algo importante era inegável. Algo dentro dele estava se despertando, e a tempestade lá fora parecia apenas ser o reflexo disso.

Aoi sentiu sua mente rodopiar com a mesma sensação de urgência que agora preenchia o ar. Ela não sabia o que procurar, mas sentia que a resposta estava ali, diante dela, esperando ser descoberta. Ela pegou a primeira coisa que viu, uma caixa de velhos objetos guardados. Dentro, encontrou uma foto de infância, uma imagem que ela não se lembrava de ter visto antes. Havia uma garota na foto, sorrindo alegremente, com um homem ao lado dela. Ela se aproximou mais, o rosto da mulher na foto a surpreendendo. Ela se parecia com... *ela*. Mas como? O homem, por sua vez, tinha um olhar familiar, que fez o coração de Aoi bater mais rápido.

O que significava tudo isso?

Enquanto ela examinava a foto, uma outra lembrança surgiu. Ela estava caminhando por um campo de flores sob uma leve chuva, os passos sendo abafados pela terra molhada. Ao longe, ela podia ver um homem parado, esperando por ela, com um sorriso tranquilo no rosto. Ela sentiu o vento em seu rosto e, de repente, uma sensação de perda profunda. Algo havia sido deixado para trás. Algo que ela havia esquecido.

Ao mesmo tempo, ela teve a nítida sensação de que aquele homem na lembrança era Souta.

Ela guardou a foto com pressa e, como se fosse uma missão urgente, correu para fora de casa, enfrentando a tempestade que ainda caía sem piedade. Ela precisava encontrar respostas, e sentia que Souta seria a chave.

Enquanto ela caminhava, a chuva pesada batia contra seu rosto, e a cidade parecia silenciosa e distorcida pelo som da tempestade. Seus pensamentos estavam agitados, e, a cada passo, ela sentia uma maior necessidade de descobrir a verdade.

Souta, por sua vez, não sabia por que estava se sentindo atraído para o centro da cidade, mas o impulso era forte demais para ser ignorado. Ele vestiu seu casaco e saiu para as ruas, em direção ao ponto onde sentia que algo importante estava prestes a acontecer.

E então, no meio da tempestade, os dois se encontraram. O céu parecia escuro, como se o próprio universo estivesse observando-os, e as gotas de chuva caíam pesadas ao redor. Eles se olharam por um longo momento, como se o tempo tivesse parado, e algo, finalmente, fez sentido. A sensação de déjà vu, as memórias que se misturavam, e a ideia de que seus destinos estavam entrelaçados de alguma forma, tudo isso convergiu no instante que se estendeu entre eles.

Aoi olhou para Souta, seus olhos brilhando com uma mistura de confusão e compreensão.

"Você... você também sente isso, não é?", ela perguntou, a voz baixa, mas cheia de emoção.

Souta apenas assentiu, seu coração batendo forte, sem conseguir encontrar as palavras. Ele sabia o que ela queria dizer. Era como se, naquele momento, a tempestade fosse o último teste, a última prova para revelar algo profundo, algo que ambos haviam esquecido, mas que agora começava a ressurgir.

"Sim", ele disse finalmente, "eu sinto."

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