A biblioteca estava silenciosa, exceto pelo som suave das páginas virando. Souta estava imerso em um livro raro que acabara de encontrar nas prateleiras mais altas, um volume antigo cujas páginas, delicadamente amareladas pelo tempo, exalavam o aroma de histórias esquecidas. Ele havia perdido a noção do tempo enquanto se aprofundava nas palavras daquele livro. Seu interesse se intensificou à medida que a narrativa se desenrolava, mas foi quando ele chegou a uma página particularmente antiga que sua atenção foi completamente capturada.
Havia uma ilustração no meio das páginas, um retrato feito com traços finos e detalhes meticulosos. A imagem era de uma mulher, uma figura graciosa, com cabelos longos e negros como a noite, olhos penetrantes e um sorriso suave, mas enigmático. Souta sentiu seu coração bater mais rápido ao olhar para o rosto da mulher. Ele não conseguia identificar exatamente o porquê, mas aquela imagem lhe era estranhamente familiar. Ele piscou várias vezes, tentando afastar a sensação desconfortável que o envolvia, mas quanto mais observava, mais ele se sentia como se estivesse diante de alguém que já conhecia.
A mulher do retrato tinha a mesma expressão suave, mas decidida, que Aoi costumava ter. As semelhanças eram inegáveis: os traços do rosto, a forma como seus olhos pareciam carregar uma sabedoria além do tempo... Era como olhar para uma versão de Aoi, mas de outra época, uma outra vida. O retrato parecia emanar uma energia que ele não conseguia explicar, mas ele sabia que precisava entender o que isso significava.
Souta tocou a página com os dedos, sentindo uma estranha conexão com aquela imagem. A sensação de déjà vu estava mais intensa do que nunca, como se ele já tivesse visto esse retrato antes, em algum lugar, em algum momento. Mas onde? E por que agora? Ele folheou rapidamente as páginas seguintes, na esperança de encontrar mais informações sobre a mulher do retrato. Mas o livro estava misteriosamente silencioso, como se estivesse guardando um segredo muito antigo.
Foi quando ele ouviu a porta da biblioteca se abrir. Aoi entrou, como sempre, com aquele passo suave e os olhos curiosos. Ela o viu imediatamente, sua expressão ficando séria ao perceber que algo estava diferente. Ela se aproximou silenciosamente de Souta, observando-o enquanto ele ainda olhava fixamente para a imagem no livro.
— O que é isso? — ela perguntou, sua voz baixa, mas carregada de curiosidade. Ela já sabia que algo a incomodava no momento em que entrou, mas o que era, exatamente, ela não conseguia dizer.
Souta não tirou os olhos do retrato, mas sua mente estava a mil por hora. Ele virou a página do livro e colocou-o diante de Aoi, apontando para o retrato.
— Aoi, olha isso... você... você não acha que essa mulher se parece com você? — Ele disse, a voz carregada de uma mistura de surpresa e confusão.
Aoi se inclinou sobre o livro, seus olhos se fixando na imagem. Ela não disse nada por alguns segundos, apenas observando com uma intensidade que fez o coração de Souta bater mais rápido. Ela tocou a página com os dedos, os olhos percorrendo cada detalhe, como se procurasse entender algo que ainda estava fora de seu alcance.
— Isso... isso não pode ser... — Aoi começou, mas sua voz falhou. Ela parecia tentar encontrar as palavras, mas a sensação que a invadia a fazia hesitar. Era como se ela estivesse vendo algo que tinha sido enterrado em algum lugar profundo dentro de si.
— Você sente algo estranho olhando para isso? — Souta perguntou, a inquietação em sua voz agora mais perceptível. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas algo estava se desenrolando entre eles, algo que parecia estar relacionado a essa mulher no retrato.
Aoi olhou para ele com os olhos ligeiramente arregalados, e por um momento, eles ficaram em silêncio. Ela parecia perdida em seus próprios pensamentos, como se algo estivesse tentando emergir de seu subconsciente. Ela finalmente olhou para Souta, e havia uma sensação de vulnerabilidade em seu olhar.
— Eu... — ela hesitou, procurando as palavras certas. — Eu não sei. Há algo familiar nela. Algo que... eu não consigo explicar. Como se eu a conhecesse de algum lugar, de algum momento... mas não lembro de onde.
Souta sentiu um frio na espinha. Ele não conseguia entender, mas sabia que o retrato de alguma forma estava ligado a Aoi, a esse sentimento inexplicável que ambos estavam compartilhando. Ele fechou o livro suavemente, como se estivesse protegendo o segredo que ele ainda não compreendia. Eles ficaram ali, em silêncio, absorvendo a gravidade da situação, cada um imerso nos próprios pensamentos.
Aoi olhou para o livro e depois para Souta, seu olhar se suavizando, mas havia uma tensão crescente entre eles, como se algo estivesse prestes a ser revelado.
— Onde você encontrou isso, Souta? — ela perguntou finalmente, quebrando o silêncio.
— Na biblioteca... um livro raro. Estava escondido entre outras páginas antigas. Não sei como, mas algo me fez procurá-lo. E quando eu vi essa mulher... parecia que eu já a conhecia, como se eu tivesse visto ela em outro lugar... — Souta explicou, sua voz agora um pouco mais baixa.
Aoi ficou pensativa por um momento. Ela olhou para o livro e depois para Souta, um olhar que misturava confusão e uma espécie de medo. O silêncio pairou por mais alguns segundos, até que ela falou com mais firmeza:
— Isso... não é coincidência. Não pode ser. Eu sinto como se fosse uma parte de mim, como se eu fosse essa mulher. Eu sei que isso soa louco, mas... já senti isso antes, em outros momentos, com outras coisas. E agora, com esse retrato, é como se uma parte de mim tivesse sido despertada.
Souta sentiu uma onda de emoção intensa ao ouvir as palavras de Aoi. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que algo muito profundo estava acontecendo entre eles. Algo que não podiam ignorar. O retrato não era apenas uma coincidência. Era como se ele tivesse sido desenhado para eles, para essa conexão inexplicável que estavam vivenciando.
— O que você acha que isso significa, Aoi? — ele perguntou, o coração batendo forte.
Aoi fechou os olhos por um momento, como se estivesse buscando uma resposta em seu interior. Quando abriu os olhos novamente, havia uma determinação calma em seu olhar.
— Eu não sei, Souta. Mas, talvez... talvez nós precisemos descobrir juntos. Talvez esse retrato seja apenas o começo de algo que estamos destinados a entender. Algo que está além do tempo e das palavras. Eu sinto isso.
Souta assentiu lentamente, o coração ainda acelerado. Ele sabia que, a partir daquele momento, as respostas que buscavam estavam mais próximas do que nunca, mas também mais distantes e misteriosas do que poderiam imaginar. E, de alguma forma, ele estava pronto para descobrir onde esse caminho os levaria.
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Atualizado até capítulo 20
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