A noite caía sobre a pequena vila, e as luzes suaves das lanternas refletiam nas pedras da rua, criando um ambiente de serenidade quase mágica. O vento tinha diminuído e o ar fresco de outono penetrava nas roupas de Aoi e Souta enquanto caminhavam lado a lado, o som de seus passos se misturando com os grilos ao longe. Eles estavam em direção ao templo, onde um monge idoso, conhecido por suas histórias antigas, havia prometido lhes contar algo que poderia desvendar os mistérios de suas vidas interligadas.
Ao chegarem, encontraram o monge sentado sob a sombra de uma grande árvore, o semblante calmo e sereno, como se o tempo não tivesse poder sobre ele. Seu olhar estava distante, como se estivesse aguardando por algo ou alguém, e quando viu Aoi e Souta, ele sorriu com uma compreensão silenciosa.
"Eu sabia que vocês viriam", disse o monge, sua voz suave como uma brisa tranquila. "O destino de vocês dois é mais antigo do que imaginam."
Aoi e Souta trocaram olhares, mas antes que pudessem perguntar, o monge continuou.
"Sentem-se", ele pediu, apontando para os bancos de madeira ao redor de uma pequena mesa onde um incenso queimava suavemente, espalhando uma fragrância doce no ar. "Eu lhes contarei uma história, uma história que foi passada de geração em geração, mas que, para muitos, está esquecida. Talvez, hoje, ela faça mais sentido para vocês."
Com um leve gesto, o monge começou a contar.
"A lenda fala de dois espíritos que se encontraram e se apaixonaram em uma época distante. Eles pertenciam a mundos diferentes, mas, como as estrelas no céu, seu destino estava interligado. Um deles era uma jovem chamada Aoi, e o outro era Souta, um jovem determinado e corajoso. Embora seus caminhos se cruzassem em momentos diferentes, o destino os uniu de uma forma misteriosa, pois seus corações eram os mesmos, embora em corpos diferentes."
O monge fez uma pausa, observando os rostos atentos de Aoi e Souta. "Esses dois amores, essas duas almas, haviam se encontrado várias vezes ao longo das vidas, em diferentes encarnações. Cada vez, se amavam profundamente, mas também eram separados, separados por algo que não podiam controlar. Mas a lenda diz que eles eram almas gêmeas, destinadas a se reencontrar, sempre."
Aoi sentiu um arrepio percorrer sua espinha. As palavras do monge ressoavam como se fossem ditas para ela diretamente, e sua mente começou a se agitar com uma sensação de déjà vu.
"Souta", o monge disse, agora virando sua atenção para o jovem. "Você, mais do que ninguém, sabe do que falo. Sua mente está cheia de visões, de imagens e sentimentos que não pertencem a este tempo. Como se você tivesse vivido no passado, com os mesmos olhos, com o mesmo coração. Você sente isso, não sente?"
Souta olhou para Aoi, seus olhos refletindo uma mistura de confusão e compreensão. Ele nunca havia entendido essas visões que o atormentavam. Memórias de uma era antiga, rostos e lugares que não reconhecia, mas que sentia como se fizessem parte dele.
"Eu... sim", ele respondeu, a voz baixa. "Às vezes, eu vejo coisas. Vejo Aoi em lugares antigos, em tempos antigos. E sinto uma conexão com ela, algo que vai além do que explicamos. Como se tivéssemos nos encontrado antes, em outra vida."
O monge sorriu suavemente, seu olhar profundo e cheio de sabedoria.
"Aoi", ele continuou, agora fixando sua atenção nela. "Você é a reencarnação de uma jovem chamada Aoi, que viveu há um século atrás. E sua vida estava entrelaçada com a de Souta, em um amor que não pôde ser cumprido naquela época."
Aoi sentiu o mundo ao seu redor começar a girar. Ela olhou para Souta, seu coração batendo mais rápido. Aquela sensação que ela sentia, de algo perdido, de um amor que jamais havia sido completado, agora parecia mais claro do que nunca. Ela sabia que algo em sua vida anterior estava esperando para ser lembrado.
"Você... você está dizendo que eu sou a mesma pessoa, que vivi antes?", perguntou Aoi, sua voz tremendo.
O monge assentiu lentamente. "Sim. Sua alma é a mesma, embora seu corpo tenha mudado. Mas o destino entre vocês dois nunca se apagou. E agora, depois de tanto tempo, vocês se reencontraram para completar o que foi interrompido."
Souta, ainda em choque, fechou os olhos, tentando processar as palavras do monge. Visões começaram a invadir sua mente com mais intensidade. Ele via Aoi, mais jovem, em um campo de flores, os dois de mãos dadas, mas havia algo sombrio, algo que os separava, uma força que os afastava a cada vida. Ele viu a dor nos olhos dela, e sentiu uma saudade profunda, como se aquilo fosse algo que ele já tivesse vivido.
"Aoi...", ele sussurrou, sua voz cheia de emoção.
Ela olhou para ele, seus olhos cheios de uma tristeza silenciosa. "Eu sinto isso, Souta. Eu sinto que... eu te conheço, que já estive com você antes. Mas por que essa dor, essa separação? O que aconteceu entre nós?"
O monge suspirou, uma tristeza visível em seu olhar.
"Na vida passada, o amor entre vocês dois não foi completo. Aoi, a jovem Aoi, foi separada de Souta por forças além do controle deles. As circunstâncias e os desafios da vida a afastaram, mas seu amor não morreu. Ela deixou este mundo com o coração partido, esperando o retorno de Souta, esperando a chance de finalmente cumprir o que foi prometido."
Aoi sentiu lágrimas quentes escorrerem por seu rosto. Ela não sabia por que, mas sua alma doía com a perda daquela vida. O amor que não havia sido consumado, a promessa que não havia sido cumprida.
"Eu... eu era ela", ela sussurrou. "Eu fui aquela Aoi."
O monge acenou com a cabeça.
"Sim. E agora, a história se repete. Vocês dois se reencontraram, mas a última parte do destino de vocês precisa ser cumprida. O amor que foi interrompido deve ser vivido até o fim. Só assim vocês poderão encontrar a paz, tanto nesta vida quanto nas próximas."
Souta olhou para Aoi, agora com uma compreensão mais profunda de sua conexão. Ele sabia o que precisava fazer. Não podia mais permitir que o destino os separasse novamente.
"Vamos completar nossa história, Aoi", ele disse, a voz cheia de convicção. "Esta vida será diferente. Não importa o que aconteça, nós dois vamos cumprir o que nos foi prometido."
Aoi, com o coração cheio de emoções e uma certeza renovada, assentiu. "Sim, Souta. Agora, finalmente, podemos ficar juntos."
O monge sorriu, e a expressão em seu rosto parecia refletir um alívio antigo, como se, com aquelas palavras, uma longa jornada tivesse chegado ao fim.
"Que a paz de seus corações seja a luz que guiará o caminho de vocês dois", disse ele, antes de desaparecer nas sombras da noite, deixando Aoi e Souta sozinhos, com a certeza de que, finalmente, eles haviam encontrado o que estavam buscando. O amor perdido, a promessa cumprida e o destino selado.
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Atualizado até capítulo 20
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