O Último outono

Aoi passou os dedos suavemente pelas páginas amareladas do diário, sentindo uma estranha familiaridade com a caligrafia delicada. As palavras, escritas há mais de um século, pareciam gritar para ela, trazendo uma mistura de emoções que iam além da lógica. Ela leu em voz alta, sua voz trêmula:

*"Eu espero por você, Souta. Mesmo que os anos passem, mesmo que este mundo nos separe. No próximo outono, no próximo século, eu estarei esperando."*

Souta, sentado ao seu lado, prendeu a respiração. Ele sentia que já conhecia aquelas palavras. Elas ressoavam em sua alma, como se fossem suas próprias lembranças.

"Isso... Isso é uma despedida?" ele perguntou, sentindo o peso das palavras se afundarem em seu peito.

Aoi virou mais algumas páginas, e então encontrou algo que a fez estremecer.

*"Fomos separados. Eles não nos deixaram ficar juntos. Mas eu prometo, Souta, eu prometo que um dia nossos caminhos se cruzarão novamente."*

As lágrimas escorreram pelos olhos de Aoi. Ela olhou para Souta, e naquele momento, uma lembrança flutuou em sua mente – uma imagem dela correndo por um campo de flores, o coração acelerado, o vento carregando seu nome para um Souta de outra época, que nunca conseguiu alcançá-la.

### **A Maldição da Memória**

"Não é coincidência..." Souta sussurrou, os olhos arregalados. "Aoi, isso não é só uma história. Fomos nós. Nós já vivemos isso antes."

"Mas por que fomos separados?" Aoi segurou o diário com força. "Por que nosso amor sempre termina assim?"

O monge havia dito que forças além do controle deles haviam impedido sua união no passado. Mas o que poderia ser tão poderoso para romper um destino tão forte?

"Talvez... isso seja uma maldição", Souta murmurou. "Talvez estejamos condenados a nos perder sempre que nos encontramos."

Aoi engoliu em seco. A ideia a aterrorizava. Tudo fazia sentido agora – os sonhos, o déjà vu, a dor inexplicável ao olhar para Souta como se tivesse sentido sua perda antes.

"Se for uma maldição", ela disse, determinada, "então nós vamos quebrá-la."

### **O Último Encontro na Biblioteca**

O vento soprava forte quando eles entraram na biblioteca – o mesmo lugar onde tudo havia começado. O cheiro familiar de livros antigos os envolveu, e as estantes pareciam sussurrar histórias esquecidas.

Aoi sentiu um arrepio ao se aproximar da mesma prateleira onde havia encontrado o diário. Algo a guiava, como se uma força invisível estivesse conduzindo seus passos.

Souta parou ao seu lado. "O que estamos procurando?"

Antes que ela pudesse responder, seus olhos encontraram um livro encadernado em couro vermelho, diferente dos demais. Quando ela o puxou, algo inesperado aconteceu.

Um pequeno envelope caiu no chão.

Souta o pegou e o abriu com cuidado. Dentro, havia uma única folha de papel, já envelhecida, mas ainda legível.

*"Se você encontrou isso, significa que nosso destino nos trouxe de volta a este momento. Souta, Aoi, vocês finalmente quebraram o ciclo. Vocês encontraram o caminho de volta um para o outro. Agora, vivam. Amem-se como não pudemos antes. O passado não pode mais separá-los."*

O tempo pareceu parar. Aoi e Souta se entreolharam, o peso de séculos finalmente se dissipando.

"É isso..." Aoi sussurrou, sentindo uma leveza que nunca havia experimentado antes. "Estamos livres."

Souta pegou sua mão, entrelaçando seus dedos nos dela. "Dessa vez, Aoi... nós ficaremos juntos."

E, sob a luz suave da biblioteca, onde suas almas haviam se reencontrado, eles selaram sua promessa com um beijo – um beijo que ecoava no tempo, finalmente rompendo o ciclo de separação.

Aoi segurava a carta com as mãos trêmulas. Apesar das palavras encorajadoras, um medo profundo tomou conta de seu coração.

"E se... e se estivermos errados?" Sua voz saiu baixa, hesitante. "E se a história simplesmente se repetir?"

Souta segurou seu rosto com delicadeza, os olhos cheios de uma ternura que a fez sentir um calor familiar.

"Dessa vez, não," ele afirmou. "Nós sabemos da verdade agora. Sabemos o que nos separou. E mais importante... nós escolhemos ficar juntos."

Aoi queria acreditar nisso, mas um peso invisível parecia pressioná-la. As memórias de outra vida ainda estavam lá, sussurrando que o destino poderia ser cruel.

"Mas e se..." Ela não conseguiu terminar a frase. O medo de perder Souta de novo era esmagador.

Ele apertou sua mão. "Então lutaremos. Mesmo que o destino tente nos separar, eu prometo, Aoi. Não importa o que aconteça, eu sempre voltarei para você."

Ela o olhou, seu coração martelando no peito. Tantas vidas, tantos encontros e despedidas... mas dessa vez, algo era diferente.

Ela sentiu isso.

E pela primeira vez, Aoi decidiu acreditar.

O outono chegou novamente. As folhas douradas caiam lentamente, cobrindo as ruas com um tapete macio de lembranças e promessas.

Aoi e Souta estavam no mesmo parque onde, há um século, haviam sido separados pela última vez. Mas agora, algo era diferente.

Eles estavam juntos.

Ela olhou para Souta e viu um brilho novo em seus olhos. Não era mais o olhar de um homem destinado a perdê-la. Era o olhar de alguém que havia quebrado o ciclo.

"Está vendo?" Souta sorriu, segurando sua mão. "As folhas caem, mas nós continuamos aqui."

Aoi sentiu uma lágrima quente escorrer por sua bochecha, mas dessa vez, não era tristeza.

Era alívio.

Era amor.

O passado não podia mais separá-los. O futuro era deles.

E enquanto as folhas caíam ao redor, embaladas pelo vento suave do outono, Aoi e Souta finalmente viveram o que sempre foi negado a eles:

Uma vida juntos.

O vento soprou forte, levantando as folhas secas ao redor deles. O céu, que antes estava azul, começou a se fechar em um tom acinzentado. Aoi sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo estava errado.

Souta também percebeu. Ele apertou a mão dela com mais força.

"Aoi, você sente isso?"

Ela assentiu, o coração acelerado. Era como se uma presença invisível estivesse se movendo ao redor deles, algo antigo e poderoso. De repente, um frio intenso tomou conta do parque, e Aoi sentiu suas pernas fraquejarem.

"Não..." uma voz sussurrou no vento. "Isso não deveria acontecer."

Souta puxou Aoi para mais perto, protegendo-a com o corpo.

"Quem está aí?" ele exigiu, a raiva crescendo dentro dele.

O ar pareceu vibrar ao redor deles, e uma figura começou a se formar no meio das folhas giratórias. Não era um ser humano, mas uma sombra sem rosto, um espectro que emanava uma energia densa e sufocante.

"Vocês quebraram o ciclo," a voz ecoou. "Mas o destino não pode ser desafiado tão facilmente."

Aoi ofegou. "O que quer dizer com isso?"

A sombra se moveu lentamente ao redor deles. "Vocês foram destinados a se perder. Uma e outra vez. É assim que deve ser."

"Não!" Souta gritou. "Nós escolhemos ficar juntos! Não importa quantas vidas passem, não importa quantas vezes tentem nos separar. Nós sempre nos encontraremos!"

Aoi olhou para Souta, sentindo o peso das palavras dele. Ela sabia que era verdade. Eles estavam ali, juntos, apesar de tudo.

A sombra pareceu hesitar. "O destino não pode ser desafiado..."

"Pode sim," Aoi disse, com firmeza. "E nós já o fizemos."

O vento soprou novamente, mas dessa vez, parecia mais fraco. O espectro começou a se dissipar, como se sua força estivesse se esgotando.

"Se vocês realmente acreditam nisso..." a voz sussurrou pela última vez, antes de desaparecer completamente.

O silêncio voltou ao parque. As folhas caíram suavemente ao redor deles. O ar frio foi substituído por uma brisa leve e morna.

Souta puxou Aoi para um abraço apertado. "Acabou."

Ela enterrou o rosto no peito dele, finalmente sentindo que a luta havia terminado.

O destino tentou separá-los, mas o amor deles era mais forte.

E dessa vez, nada os impediria de ficarem juntos.

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