A neve caía suavemente lá fora, cobrindo tudo com seu manto branco. O vento gelado sussurrava contra as janelas da pequena casa, e o silêncio da noite era quebrado apenas pelo som do fogo crepitando na lareira. Aoi estava sentada perto da janela, observando as flocos de neve que dançavam no ar, como se fossem pequenos fantasmas perdidos no tempo. Era uma noite tranquila, mas algo em seu coração a fazia sentir uma inquietação crescente, como se algo estivesse prestes a acontecer.
Ela havia se deitado cedo naquela noite, depois de um dia cheio de pensamentos confusos e uma sensação estranha de déjà vu que a acompanhava desde a última vez que ela e Souta haviam se encontrado na biblioteca. Mas, ao adormecer, ela não podia imaginar que a noite traria com ela um sonho que mudaria tudo.
Aoi se encontrou em um lugar estranho. Estava em uma estação de trem coberta de neve, as trilhas de ferro estavam vazias, e o céu acima dela era cinza e sombrio. O ar estava frio, cortante, e ela podia sentir o peso da neve sobre os ombros como uma carga invisível. Mas o que mais a incomodava não era o frio, nem a paisagem desolada — era a sensação de que ela estava esperando por algo. Ou melhor, por alguém.
Ela caminhou até a borda da plataforma, olhando fixamente para o horizonte, como se esperando ver algo, ou alguém, aparecer a qualquer momento. O trem que ela esperava não estava ali, mas o som de um motor distante começou a se aproximar, ecoando no ar. O som, metálico e grave, parecia um presságio de algo que ela não conseguia compreender.
De repente, ela viu uma figura ao longe. Era uma sombra, uma silhueta envolta pela neblina que se formava ao redor do trilho. Aoi não soube como, mas ela soubera quem era antes mesmo de ver seu rosto. Seu coração bateu mais forte, e uma sensação de aperto se formou em seu peito.
Souta.
Ele se aproximava lentamente, seus passos suaves sobre a neve. Ele parecia diferente, como se estivesse distante, como se fosse uma versão dele mesmo que vinha de um lugar muito longe. Seu olhar era sério, mas cheio de uma melancolia profunda. Quando ele chegou perto, Aoi tentou falar, mas as palavras não saíam. Algo estava errado. O silêncio era ensurdecedor.
Souta olhou para ela, seu olhar carregado de tristeza e uma dor silenciosa que ela não entendia. Ele estendeu a mão para ela, como se quisesse tocá-la, mas havia algo entre eles, uma barreira invisível que os impedia de se tocar.
— Souta... — Aoi sussurrou, mas a voz dela parecia abafada, como se o vento a estivesse engolindo. — O que está acontecendo?
Ele não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele apenas olhou para ela com um sorriso triste e, de repente, tudo ao redor deles começou a desvanecer. O trem chegou, mas não era um trem comum. Era uma carruagem fantasmagórica, sua cor fosca e sombria, como se fosse feita de poeira e tempo perdido.
Souta deu um passo para trás, e Aoi sentiu uma onda de pânico tomar conta de seu corpo. Ela se aproximou dele, tentando alcançá-lo, mas seus pés estavam pesados, como se o chão fosse feito de neve molhada que a impedisse de avançar.
— Não vá... — ela disse, sua voz quebrada pela emoção. — Não me deixe aqui sozinha.
Souta olhou para ela pela última vez, e seu olhar, embora cheio de amor, estava repleto de uma despedida silenciosa. Ele não disse nada, mas a expressão em seu rosto era clara. Havia algo que ele precisava fazer, algo que não podia evitar. Ele subiu na carruagem, e a porta se fechou atrás dele. Aoi correu até ele, mas quando chegou à porta do trem, ela não conseguiu abri-la. Era como se ele estivesse em um outro mundo, em um tempo distante, fora de seu alcance.
A carruagem começou a se mover lentamente, afastando-se de Aoi. Ela estendeu a mão para ele, mas a neve começou a cair mais forte, e a visão dele se tornou borrada, até que tudo o que restou foi um vazio absoluto. O trem desapareceu na neblina, e Aoi ficou ali, sozinha, no meio da estação deserta, com a sensação de que havia perdido algo irremediável.
Ela acordou com um sobressalto, seu corpo suado e o coração batendo forte. Aoi se sentou na cama, a respiração ainda ofegante, e olhou ao redor, tentando se orientar. A luz suave da manhã começava a entrar pela janela, mas a sensação de desconforto não desaparecia. O sonho havia sido tão vívido, tão real, e o sentimento de perda que ele deixou era esmagador.
Ela se levantou da cama e caminhou até a janela, olhando para a neve que ainda cobria o mundo lá fora. Era uma manhã tranquila, mas ela não podia afastar a sensação de que algo havia mudado dentro dela. O sonho parecia ser mais do que apenas uma ilusão. Era como se ele carregasse uma mensagem, algo importante que ela ainda não entendia.
No fundo de seu coração, ela sentia que o que o sonho havia mostrado a ela não era apenas uma despedida, mas algo que estava prestes a acontecer. Algo que ela não poderia evitar. Ela não sabia o que era, mas sabia que não poderia ignorar aquela sensação. A conexão que ela tinha com Souta era mais profunda do que ela imaginava, mais complexa e misteriosa, como se fosse marcada por algo que transcendia o tempo.
Enquanto ela olhava para a neve caindo, Aoi sussurrou para si mesma, como se procurasse uma resposta em suas próprias palavras:
— Não posso perder você... Não importa o que aconteça, Souta.
Ela sabia que o futuro que se aproximava exigiria mais do que ela estava preparada para enfrentar, mas também sabia que, de algum modo, ela e Souta estariam juntos, mesmo que as circunstâncias tentassem separá-los. A nevasca lá fora parecia ser um reflexo das tempestades internas que ela estava prestes a enfrentar, mas ela estava determinada a não se afastar dele. Ela não sabia como nem por que, mas sentia que, de alguma forma, o destino os uniria novamente, apesar de tudo.
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Atualizado até capítulo 20
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