Cartas de uma vida passada

A tarde estava tranquila, o sol filtrando suas últimas luzes douradas entre as cortinas da sala. Aoi estava em casa, folheando um livro antigo que havia encontrado na biblioteca local. O livro era repleto de histórias sobre o Japão das décadas passadas, uma espécie de crônica das vidas que ali haviam se desenrolado. Mas, ao abrir uma página desgastada pelo tempo, algo peculiar aconteceu. Um pequeno envelope, envelhecido e com bordas amareladas, caiu de dentro do livro, quase como se tivesse sido cuidadosamente guardado ali por alguém.

Curiosa, Aoi pegou o envelope com mãos trêmulas, o rosto tomado por uma sensação inexplicável. Ela olhou para o nome que estava escrito na frente, sem ousar abrir imediatamente: *Aoi Nakamura*. Seu coração disparou. Era o seu nome. Mas o que isso significava? Ela não sabia, mas algo dentro dela a puxava para aquela carta, como se fosse uma chave para algo que estava perdido há muito tempo.

Com cuidado, ela rasgou a extremidade do envelope e retirou o conteúdo. Era uma carta, escrita à mão, com uma caligrafia elegante e cuidadosa. A tinta estava levemente desbotada, mas as palavras ainda eram legíveis. Aoi não pôde deixar de notar que o papel tinha o cheiro suave de algo antigo, um perfume que a fez sentir uma estranha familiaridade. Ela respirou fundo e começou a ler.

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*Querida Aoi,*

*Sei que o tempo tem sido implacável, e há tanto que ainda precisamos dizer um ao outro. As palavras me escapam, como as folhas que caem ao vento, mas sei que, onde quer que você esteja agora, você pode sentir o que sinto. Não importa a distância, porque nosso vínculo é mais forte do que o tempo.*

*Eu sei que ainda nos encontramos nas sombras das nossas memórias, nas ruas que percorremos juntos e nos sorrisos que compartilhamos. O que tivemos, Aoi, não foi uma mera coincidência. Eu sinto isso no fundo da minha alma. Eu ainda te espero, mesmo que o mundo tenha mudado ao nosso redor. Não importa quanto tempo passe, eu sempre esperarei.*

*Eu te amo,*

*Hiroshi.*

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Aoi congelou, o papel escorregando de suas mãos e caindo lentamente no chão. Seu coração estava batendo tão rápido que ela mal conseguia respirar. *Hiroshi*. O nome a atingiu com força. Era como se uma memória apagada estivesse voltando à tona, uma lembrança que ela não conseguia identificar, mas que a fazia sentir uma dor antiga, uma saudade que ela não entendia.

Ela pegou a carta do chão com mãos trêmulas, os olhos correndo novamente pelas palavras escritas. Mas, por mais que tentasse, não conseguia se lembrar de quem era Hiroshi, ou de qualquer momento que pudesse ter compartilhado com ele. O nome a soava tão familiar, mas a memória não se alinhava. Era como se uma parte de sua alma estivesse tentando se reconectar, mas as peças do quebra-cabeça estavam faltando.

Aoi levantou-se e caminhou até a janela, olhando para o céu cinza que começava a cobrir a cidade. Uma sensação de desamparo tomou conta dela. Por que essa carta havia aparecido agora, em sua vida? Por que seu nome estava ali, em uma correspondência de décadas atrás? Ela sentia uma conexão inexplicável com as palavras de Hiroshi, como se ele estivesse falando diretamente para ela, atravessando o tempo e o espaço. Mas, ao mesmo tempo, o peso da dúvida a sufocava. Era um amor do passado? Ou algo mais?

Ela pegou a carta novamente e olhou para o envelope. Não havia data, mas o papel, a caligrafia, tudo parecia de outro tempo, talvez de muitos anos atrás. Algo naquele momento lhe dizia que aquilo era uma pista. Uma pista de algo que ela já havia vivido, mas que não conseguia lembrar. Era como se, de algum modo, ela tivesse sido forçada a esquecer aquela história, aquelas memórias.

Se ela fechasse os olhos por um momento, poderia jurar que podia ouvir a voz de Hiroshi, suave e reconfortante, chamando-a. Como um eco, como uma lembrança de um amor que não teve chance de florescer. Mas a voz estava distante, e a realidade a puxava de volta para o presente. Ela não sabia o que fazer com aquilo. O que essa carta significava para ela agora?

De repente, uma sensação forte de déjà vu tomou conta de Aoi. Como se ela já tivesse vivido aquele momento antes, como se já tivesse segurado a carta, já tivesse lido aquelas palavras e experimentado a dor e a saudade que estavam impressas nela. Era uma sensação quase sobrenatural, como se o próprio tempo estivesse se esticando e se dobrando, deixando-a presa entre duas existências diferentes.

Aoi respirou fundo e decidiu que não poderia ignorar isso. Algo dentro dela gritava para que ela encontrasse mais respostas, que seguisse essa linha de memória fragmentada que começava a se desenrolar diante dela. O que ela procurava estava mais próximo do que ela imaginava. Ela pegou o envelope e a carta, guardando-os com cuidado. O que quer que tivesse acontecido naquele passado distante, ela precisava descobrir.

Aoi se virou para a mesa, onde estavam outros livros antigos e papéis espalhados. Entre as pilhas, algo mais chamou sua atenção. Um livro com a capa desgastada, de um tom marrom profundo. Ela o abriu, e, à medida que as páginas eram viradas, seus olhos caíram em uma fotografia antiga, em preto e branco, presa na folha final do livro. O rosto na foto era jovem, sorrindo, com olhos que ela conhecia muito bem. Era Hiroshi.

O coração de Aoi disparou. Ela sentiu a conexão mais forte agora. Era como se tudo finalmente começasse a fazer sentido. Ela se lembrou de algo, uma cena fugaz de sua infância, onde ela e Hiroshi caminhavam juntos pelas ruas de uma cidade antiga. A sensação era vívida, tão real, que ela podia quase sentir o calor do sol em sua pele e o som de suas risadas.

Mas a imagem se desfez rapidamente, como uma névoa. Aoi ficou ali, com o retrato em mãos, o coração cheio de perguntas e uma urgência de descobrir o que aconteceu entre ela e Hiroshi, naquela vida passada. Ela não sabia como, mas sentia que ele ainda estava lá, em algum lugar, esperando por ela.

Agora, mais do que nunca, Aoi estava determinada a desvendar os mistérios que estavam ligados a ela e a Hiroshi. Algo do passado não havia sido cumprido, uma promessa talvez, uma história que precisava ser revelada. Ela fechou o livro, com o retrato dentro, e respirou fundo. Não haveria descanso até que ela encontrasse as respostas.

Porque, de algum jeito, ela sabia que, no fim, o amor que uniu ela e Hiroshi não poderia ser apagado, mesmo que o tempo tentasse fazer isso.

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