Júlia
Ao chegarmos na festa, a lua cheia brilha intensamente no céu, como se estivesse no auge de seu esplendor apenas para esta noite. Há algo de mágico em sua luz, algo que faz minha pele formigar, como se uma energia invisível pulsasse ao meu redor.
Assim que descemos do carro, sou imediatamente capturada pela agitação ao nosso redor. O parque está tomado por uma multidão animada, lanternas iluminam o espaço com tons dourados e prateados, e uma música ancestral toca ao fundo, embalada pelo som de tambores.
Mas o que realmente prende minha atenção é a forma como os olhares das pessoas recaem sobre nós.
Os cochichos começam quase instantaneamente, as expressões variando entre surpresa e… reverência?
Franzo o cenho, sentindo meu coração acelerar um pouco mais.
— Por que todos parecem surpresos? — murmuro para Dante, sem desviar o olhar dos rostos curiosos ao nosso redor.
Ele permanece impassível ao meu lado, seus olhos analisando a multidão antes de simplesmente responder:
— Porque, em todos esses anos deste festival, eu nunca compareci. Essa é a primeira vez.
Minha cabeça vira bruscamente para encará-lo.
— O quê?
Eu poderia ter dito mais, mas então sinto a pressão firme de sua mão envolvendo a minha.
Só então percebo o homem de estatura baixa e um pouco rechonchudo que se aproxima, seu rosto carregando um sorriso diplomático, mas seus olhos brilhando com algo mais intenso.
— Esse é o prefeito de MonteLunar. Apenas sorria e finja não ser tão sagaz quanto você é. — Dante sussurra em meu ouvido, e antes que eu possa responder, ele inclina a cabeça e deposita um beijo no topo da minha para disfarçar suas palavras.
Este simples gesto parece arrancar um suspiro coletivo da multidão ao redor.
E, pela primeira vez, um calafrio real percorre minha espinha. Algo está acontecendo aqui. Algo que ainda não compreendo.
O prefeito se aproxima com passos firmes, mas sua expressão carrega algo além da mera formalidade. Há um brilho intenso em seu olhar quando ele para diante de nós.
— Dante Blackwood... finalmente nos honra com sua presença. — Ele pronuncia o nome de meu marido como se fosse um título sagrado. Em seguida, seus olhos se voltam para mim, analisando-me de cima a baixo com um interesse disfarçado. — E esta deve ser sua esposa.
Dante mantém sua postura rígida, seu rosto esculpido em uma máscara de indiferença.
— Sim, Júlia Blackwood.
O som do meu novo sobrenome vindo de seus lábios me atinge de um jeito estranho, mas ignoro a sensação, focando no prefeito, que agora me encara com um sorriso quase reverente.
— Seja bem-vinda, senhora Blackwood. Sua presença é... inesperada.
Há algo em sua voz, uma hesitação, um subtexto que não consigo decifrar. Meus olhos vão para Dante, buscando respostas, mas ele apenas mantém sua expressão impassível.
— Espero que aproveitem a festa — continua o prefeito. — Esta noite é especial para todos nós.
Ele me encara por mais um segundo antes de desviar os olhos e se afastar, sendo rapidamente engolido pela multidão.
— O que foi isso? — pergunto, virando-me para Dante.
Ele suspira, seu olhar escuro me analisando antes de dizer:
— Nada com que precise se preocupar.
Nada com que precise me preocupar? É claro que não acredito nisso.
Mas antes que eu possa pressioná-lo por mais respostas, um canto começa a ecoar pelo parque, acompanhado pelo som ritmado dos tambores.
Viro-me para ver um grupo de pessoas vestidas com túnicas leves, seus corpos se movendo com uma sincronia perfeita enquanto a dança se inicia.
A multidão começa a se reunir ao redor, e sou atraída para mais perto, a magia do momento me envolvendo.
Mas, ao meu lado, Dante está tenso.
Sua mandíbula está travada, seus olhos fixos nos dançarinos com uma intensidade perigosa. E quando a lua cheia alcança o ápice no céu, sinto algo no ar mudar. Um arrepio percorre minha espinha.
Meu coração martela em meu peito, acompanhando o ritmo hipnótico dos tambores. O chão sob meus pés parece vibrar, como se a própria terra respondesse ao chamado da lua.
A multidão ao meu redor se dissolve em um turbilhão de cores e sombras. Os rostos passam por mim como borrões indistintos, vozes ecoam e se misturam ao vento que agora sopra com força ao meu redor.
Minha pele arde sob o brilho prateado da lua. Olho para meus braços, e um arrepio me percorre quando noto o brilho sutil que emana de mim, como se minha própria essência estivesse se fundindo com a luz lunar.
— Júlia! — A voz de Dante rasga o ar, carregada de urgência.
Mas eu não consigo parar. Não quero parar.
Algo dentro de mim me puxa para frente, para o centro desse redemoinho de energia pulsante. Meus pés se movem sem minha permissão, girando entre os dançarinos, meu corpo entregue ao chamado invisível que me envolve.
O vento chicoteia meus cabelos, e, de repente, uma presença toma forma ao meu redor. Não a vejo, mas a sinto. Uma energia antiga, selvagem. Um sussurro perdido no tempo, chamando por mim.
— Quem é você?! — grito, minha própria voz parecendo se perder no ar denso.
Os tambores ecoam como batidas de um coração ancestral. O mundo ao meu redor se torna um borrão de luz e escuridão. O som da música e dos cânticos se distancia, como se eu estivesse sendo puxada para outra realidade.
Minha respiração se torna errática, meus sentidos confusos. O brilho da lua se intensifica, ofuscando minha visão por um instante.
— Júlia! — A voz de Dante soa mais distante, como se houvesse uma barreira entre nós.
O vento fica mais forte, girando em espirais ao meu redor, e então… o tempo parece desacelerar.
Meus pés deixam de tocar o chão, uma sensação estranha e ao mesmo tempo familiar me invade. Meus olhos se arregalam quando percebo que estou flutuando, meu corpo entregue a essa força que me chama.
Uma silhueta se forma diante de mim, uma presença etérea que parece feita de puro luar. Sua voz surge dentro da minha mente, como um eco vindo de um passado esquecido.
"Você finalmente ouviu o chamado, filha da lua."
Um calafrio percorre minha espinha.
— Quem… quem está falando? — minha voz sai em um sussurro, quase engolida pelo vento.
"Seu sangue nunca mentiu, Júlia Mildren. A lua sempre foi sua verdadeira mãe. Você apenas precisava despertar."
Meu coração dispara. Algo dentro de mim desperta, uma onda de calor percorre cada célula do meu corpo, como se uma verdade há muito oculta estivesse finalmente vindo à tona.
De repente, mãos fortes agarram meus braços e me puxam para trás. O impacto me traz de volta à realidade, e um rosnado baixo reverbera em meu ouvido.
— Chega. — A voz de Dante é grave, carregada de algo que não consigo decifrar.
Minhas costas batem contra seu peito firme, seus braços me segurando com força, como se estivesse me ancorando de volta ao presente. O vento some, os tambores perdem o som ensurdecedor, e a multidão parece retomar sua forma normal.
Ofegante, olho ao redor, tentando processar o que acabou de acontecer.
Dante se aproxima do meu ouvido e murmura, sua voz rouca e carregada de frustração:
— Você não faz ideia do que acabou de despertar, Júlia.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Jane Silva
ninguém fala nada como ela vai saber
2025-03-15
2
Vivi
mistérios adoro
2025-03-21
1