Dante
A água quente escorre pela minha pele enquanto esfrego o rosto com as mãos, tentando dissipar a confusão que ainda me consome.
A forma como tudo aconteceu... a maneira como Júlia me olhou, como pronunciou meu nome... aquilo me desestabilizou de um jeito que eu não esperava.
Eu nunca deixo ninguém mexer comigo.
Mas ela...
Solto um suspiro pesado e fecho o chuveiro. O silêncio do banheiro me envolve, quebrado apenas pelo gotejar da água escorrendo do meu corpo.
E então, quando me viro para pegar a toalha, meu coração dá um pulo no peito.
— Caralho! — O palavrão escapa antes que eu possa me conter.
Júlia está ali, parada na porta, me observando com aqueles olhos que parecem ver através de mim.
Minha mandíbula se contrai enquanto pego a toalha e a enrolo na cintura, cobrindo minha nudez. O calor do banho ainda está em minha pele, mas agora não sei dizer se é apenas da água ou da forma como ela me olha.
— O que faz aí parada? Ficou maluca?
Ela não recua. Nem pisca.
— A gente precisa conversar, Dante. Acha que ficar fugindo disso vai resolver alguma coisa?
Bufando, passo por ela e sigo para o quarto, pegando uma toalha menor para secar o cabelo enquanto caminho até o closet.
— Eu não estou fugindo de nada, Júlia.
Ouço seus passos atrás de mim, lentos, mas determinados.
Ela para no batente da porta do closet, cruzando os braços e me olhando como se enxergasse algo dentro de mim que eu mesmo não quero ver.
— Ah, não está? Então vai me ouvir.
Solto um riso curto e irônico enquanto pego uma cueca qualquer, tentando ignorar a sensação estranha de ter ela aqui, tão perto.
— Não tenho tempo para joguinhos.
Ela solta um longo suspiro, e sua voz vem baixa, mas firme.
— Eu quero te pedir desculpas, Dante.
Isso me faz parar por um segundo.
— Desculpas? — Visto a cueca rapidamente e viro para encará-la.
Ela segura meu olhar sem hesitar.
— Quero pedir desculpas por tudo. Pelas cartas que te mandei, pelo meu comportamento quando cheguei. Enfim, por tudo.
Cruzo os braços, minha expressão endurecendo.
— Ué, cadê aquela garota debochada que chegou aqui cuspindo fogo? Isso tudo é um jogo, não é? Esse seu teatrinho de boa moça, de esposa exemplar... Qual é, Júlia. Conta outra. Até dias atrás, você me detestava.
Ela revira os olhos e solta um suspiro impaciente.
— Eu realmente não nego que sou debochada, Dante. Mas não fala de mim como se me conhecesse.
Ela dá um passo à frente, sua voz agora carregada de algo mais profundo.
— Sim, sou provocativa, tenho um humor ácido e não abaixo a cabeça para qualquer um. Mas isso não significa que não tenho um coração.
Seus olhos brilham quando ela continua:
— Posso ser debochada, mas sou uma debochada com sentimentos.
Minha respiração se torna mais lenta. Algo no tom dela me atinge como um soco invisível.
— E, por mais difícil que seja para você aceitar, minhas desculpas são sinceras.
Ela me encara, como se estivesse me desafiando a duvidar dela.
E o pior?
Eu não consigo.
— Você está nitidamente perdido, Dante Blackwood — ela sussurra. — E isso ficou bem claro para mim.
O silêncio se instala entre nós.
Meus punhos se fecham ao lado do corpo.
Eu deveria responder.
Deveria rir da cara dela, jogar outra provocação, empurrá-la para longe da minha mente. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu não sei o que dizer.
Ela avança lentamente, seus passos leves contra o chão, mas cada um deles pesa sobre mim de um jeito que não consigo explicar.
Seus olhos seguem presos aos meus, cheios de uma determinação silenciosa que me desarma mais do que qualquer ataque físico.
Então ela para bem diante de mim.
Tão perto.
Seus ombros parecem frágeis perto dos meus, sua altura contrastando com a minha, mas há algo nela... algo inquebrável, como se nada no mundo pudesse fazê-la recuar.
Minha respiração se torna mais pesada quando vejo suas mãos se erguerem no ar.
Lentas.
Hesitantes.
Mas firmes.
E então, seus dedos tocam minha pele.
Minhas costas enrijecem no mesmo instante.
Ela repousa as mãos sobre meu peito nu, bem sobre meu coração.
Seu toque é quente. Suave.
Mas é o peso invisível do que este gesto significa que me atinge como um soco.
Minha pulsação acelera, traindo qualquer controle que eu achava que ainda tinha.
Ela pressiona levemente as palmas contra minha pele, como se pudesse sentir cada batida irregular. E então, sua voz vem.
Baixa.
Suave.
E, ainda assim, tão forte que quase me dobra no meio.
— Seu coração me pede socorro, Dante Blackwood.
Meu peito sobe e desce com um peso esmagador.
Ela continua:
— A cada batida que ele dá, um grito é ouvido.
Engulo em seco.
— Me deixe ajudá-lo. — Ela diz.
Seus olhos queimam dentro dos meus.
— Me deixe ajudá-lo a ver com clareza.
Meu maxilar se contrai.
Minha mente grita para afastá-la. Para jogá-la longe, para destruí-la antes que ela me destrua.
Mas meu corpo?
Meu corpo permanece aqui.
Rígido.
Preso.
Incandescente sob suas mãos.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Jane Silva
eita já era
2025-03-12
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