Os Asas de Couve-Flor chegaram ao Reino dos Elfos com uma sensação de deslocamento e um toque de apreensão. Felix, com sua mente cheia de pensamentos sobre como os elfos provavelmente moravam em castelos flutuantes e palácios feitos de cristal encantado, ficou surpreendido ao ver que a paisagem era bem mais… terrestre do que imaginava.
O reino, embora claramente elegante e repleto de uma beleza natural estonteante, estava longe de ser o paraíso isolado e imaculado que ele tinha em mente. Para sua surpresa, havia muitos humanos e semi-humanos circulando pelas ruas, suas roupas e comportamentos tão variados quanto os habitantes de qualquer grande cidade humana. A mistura de raças era evidente, e as casas e mercados eram mais comuns do que os majestosos palácios que ele esperava.
— Eu definitivamente não esperava isso. — Felix murmurou, olhando ao redor enquanto passavam por um mercado cheio de estandes, onde comerciantes humanos discutiam sobre ervas e poções com elfos com orelhas longas e pontiagudas.
Lyra, que havia permanecido em silêncio desde a chegada, agora parecia um tanto desconcertada. Seus olhos percorriam as ruas movimentadas, mas havia algo em seu olhar que indicava um profundo desconforto, como se estivesse vendo o passado e o presente se chocando de maneiras que ela não entendia.
— Muita coisa mudou… — ela sussurrou, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa.
Grindor, sempre o observador, notou a mudança na postura de Lyra e, com um tom ponderado, disse:
— Os meio-elfos são uma novidade, não é?
Lyra assentiu, a expressão de nostalgia misturada com algo mais pesado.
— Sim. Quando fui expulsa do Reino dos Elfos, havia pouquíssimos meio-elfos aqui. Na verdade, eles eram vistos como uma aber... uma vergonha para o reino. Mas agora... eles estão em todo lugar. Como se os elfos finalmente tivessem aceitado que as raças podem, surpreendentemente, se unir.
Felix, sempre com sua mente curiosa, não pôde deixar de perguntar:
— E você? Você… também é meio-elfa?
Lyra o olhou como se ele tivesse acabado de perguntar se ela sabia andar.
— Não. Eu sou 100% elfa. E, se me chamar de meio-elfa de novo, vou fazer você se arrepender de ter nascido.
Felix ergueu as mãos em defesa, rindo nervosamente.
Após algum tempo de caminhada e surpresas, o grupo finalmente chegou à Guilda dos Aventureiros. O edifício era grandioso, com teto de cristal e pilares adornados com runas místicas. Dentro, uma recepção movimentada de aventureiros de todas as partes do mundo e de raças diferentes, com mais humanos do que Felix teria imaginado. Eles registraram sua chegada, e um dos atendentes lhes entregou um cartão dourado com um selo encantado, explicando que era necessário para passar pelos guardas do portão do Palácio Real.
— Parece que finalmente estamos indo ver minha irmã. — Lyra disse, sua voz estranhamente calma.
O grupo atravessou as ruas até o Palácio Real, cujas muralhas brilhavam sob o sol. A entrada era guardada por elfos de armadura, seus rostos impassíveis como pedras.
Ao passarem pelo portão, Felix não pôde deixar de sentir que algo estava errado. A ausência de magia no ar era palpável, e o silêncio que envolvia o lugar parecia mais profundo do que o normal. Quando chegaram aos corredores interiores, uma porta de prata se abriu e, de dentro, surgiu Myra, a irmã de Lyra.
Ela era tudo o que Felix imaginava: imponente, mas com um sorriso acolhedor que imediatamente suavizou o ambiente. Quando seus olhos se encontraram com Lyra, a expressão de Myra mudou para uma de afeto genuíno, e ela a abraçou com força.
— Lyra! Que bom ver você! — Myra exclamou, apertando-a.
Lyra, por um momento, parecia desconfortável, mas, finalmente, retribuiu o abraço com um sorriso tímido.
— Eu sabia que o destino nos reuniria de novo… — Myra disse, afastando-se para olhar para Lyra. — E eu preciso de sua ajuda.
O tom sério de Myra imediatamente capturou a atenção de todos.
— O Reino está em perigo. Um exército de goblins está se preparando para invadir.
Lyra olhou para ela, sem esconder a incredulidade.
— Goblins? Sério? Não é como se os elfos não pudessem lidar com alguns goblins...
Myra suspirou, seus olhos sombrios.
— Não mais. A magia dos espíritos não está mais conosco. Há mais de 100 anos, os espíritos pararam de emprestar seus poderes aos elfos. Estamos tão estupidamente fracos quanto os humanos agora.
Lyra, chocada, franziu a testa.
— O que aconteceu com os espíritos? Por que não nos ajudam mais?
Myra olhou para o chão, uma sombra de amargura atravessando seu rosto.
— Eu não sei. Talvez eles estejam desiludidos com os elfos. Ou talvez tenham se cansado da nossa dependência. Não importa. O que importa é que agora, estamos vulneráveis. E, como a única elfa com fama de grande aventureira, você é nossa única esperança.
Lyra olhou para ela, seus olhos cheios de raiva reprimida.
— Eu não vou ajudar os elfos. Eles me expulsaram. E agora querem que eu os salve?
Felix, sentindo a tensão no ar, deu um passo à frente.
— Lyra… — ele começou com suavidade. — Não é sobre o que aconteceu no passado. Eles precisam de você agora. E, bem, se você não ajudar, quem vai?
Grindor, com sua sabedoria de séculos, também falou.
— Às vezes, ajudar os outros é o que nos torna mais fortes, Lyra. Não podemos mudar o passado, mas podemos fazer o que é certo agora.
Lyra, embora relutante, olhou para seus amigos e, finalmente, deu um suspiro derrotado.
— Malditos elfos… ok, eu ajudo. Mas depois disso, não espero mais favores.
Myra sorriu com gratidão, mas havia uma sombra em seus olhos.
— Obrigada, Lyra. O reino não será o mesmo sem você.
E assim, com um peso a mais em seus corações e a sensação de que algo muito maior estava em jogo, os Asas de Couve-Flor se prepararam para a batalha à frente.
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Atualizado até capítulo 44
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