Felix ainda não sabia dizer se estar em um grupo de aventureiros era um sinal de que sua sorte havia melhorado ou se, na verdade, seu azar havia atingido um nível tão absurdo que ele agora era arrastado para desgraças de forma organizada.
Uma semana havia se passado desde a primeira missão com Lyra e Grindor. Ele ainda tinha pesadelos com o golem de pedra e sua inesperada queda — um evento que envolveu uma "bola de fogo" mal calculada que se trasformou em sabonete mágico, o chão se abrindo e Felix sendo atingido pelo impacto e arremessado para longe⁰, um rosto cheio de lama que, segundo Lyra, melhorou sua aparência.
Agora, diante de um novo convite para coletar ervas medicinais em um vale remoto, Felix pensou:
"O que poderia dar errado? É só coletar plantas."
Ah, tolo Felix.
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O trio atravessava uma densa floresta em direção ao Vale das Névoas, um lugar que, segundo os guias de aventura, era um paraíso para ervas raras e um inferno para aventureiros despreparados.
— Bom, pelo menos não são golens de pedra, — murmurou Felix, chutando uma pedrinha.
—Ainda bem,— disse Lyra. — Os monstros daqui são fracos. No máximo um enxame de goblins ou alguns lobos espectrais.
— Ou um enxame de lobos espectrais! — acrescentou Grindor, gargalhando como se essa fosse a coisa mais divertida do mundo. Felix começou a se questionar se o anão entendia o conceito de perigo.
Mas ao chegarem no vale, algo estava... errado.
O lugar estava silencioso. Nenhum monstro, nenhum som de pássaros, nem sequer o farfalhar de folhas ao vento. Era como se a própria floresta estivesse prendendo a respiração.
— Estranho... — murmurou Lyra. — Esse lugar devia estar lotado de goblins.
— Ou lobos espectrais! — completou Grindor novamente.
Felix revirou os olhos.
Caminharam um pouco mais até encontrarem um grande espaço aberto no meio do vale. No centro, uma figura colossal repousava entre as árvores quebradas.
Era um dragão.
Um dragão de verdade.
Gigantesco, escamas de um dourado opaco e desgastado, uma das asas coberta de feridas, o peito subindo e descendo lentamente.
— Por todos os deuses...— sussurrou Felix, sentindo suas pernas ficarem trêmulas.
— É um dragão ancião! — disse Lyra, os olhos brilhando de emoção.
— Tá quase morto! — Grindor bateu no ombro de Felix. — Ei, Fracasso, essa é a sua chance de brilhar! Solta uma magia e termina o serviço.
Felix arregalou os olhos.
— Eu? Vocês enlouqueceram? Eu mal consigo fazer uma bola de fogo sem incendiar a mim mesmo!
— É só mirar! — disse Lyra, empurrando-o para frente.
— Sim, sim! Essa é a missão perfeita pra você! O dragão já tá praticamente morto, é só dar um empurrãozinho! — Grindor sorriu.
Felix olhou para a criatura imensa adormecida e sentiu um calafrio. Era verdade, o dragão parecia à beira da morte. Talvez um feitiço bem lançado fosse o suficiente para garantir a glória para seu nome.
Seria a primeira vez que ele realmente realizaria algo grandioso!
Inspirou fundo, ergueu as mãos e começou a conjurar.
A magia se formou em seus dedos, uma energia brilhante pulsando. Ele sentiu a força do feitiço crescendo, a chance de provar seu valor!
— Vamos lá, Felix. Concentre-se. Poder, destruição, fim do dragão!
E então, ele soltou a magia.
Porém...
Uma luz dourada e suave envolveu o corpo do dragão. Suas feridas começaram a se fechar. A asa antes mutilada se ergueu, totalmente restaurada. Os olhos do monstro se abriram — um brilho ardente e letal.
Lyra e Grindor encararam Felix com puro pânico.
— FELIX, SEU MALDITO!
— Eu errei alguma coisa, né?
O dragão se ergueu em toda sua glória, o brilho de sua ressurreição refletindo nas escamas douradas. Ele inspirou profundamente e soltou um rugido que fez o vale inteiro tremer.
— NÃO É HORA DE FICAR PARADO! CORRE! — gritou Lyra, puxando Felix pelo braço e ativando uma pedra de emergência pra a Guilda de aventureiros.
Os três dispararam pelo vale enquanto o dragão recém-curado se sacudia, como se testasse seu corpo restaurado. Ele olhou ao redor, confuso por um momento, depois fixou os olhos neles.
E então, abriu as asas.
Com um único bater, ele alçou voo, sombras caindo sobre o trio como um presságio de tragédia iminente.
— O QUE A GENTE FAZ?! — Felix gritava enquanto corria, tentando não tropeçar.
— VOCÊ FEZ ISSO, VOCÊ RESOLVE! — respondeu Grindor.
— Eu NÃO SEI como desfazer magia de cura!
O dragão pousou à frente deles, sua presença colossal bloqueando qualquer chance de fuga. Suas narinas soltavam fumaça, os olhos brilhando de fúria... ou talvez confusão?
O monstro abaixou a cabeça, encarando os três como se ponderasse qual devoraria primeiro.
Silêncio.
Então, de repente, o dragão falou:
— Quem... me curou?
Felix, suando frio, levantou a mão trêmula.
— Ahm... foi um... acidente?
O dragão piscou. Olhou para suas próprias patas, suas asas restauradas, e depois para Felix novamente.
— Hmm.
Felix esperou pela morte iminente.
Mas então...
O dragão soltou um suspiro profundo e se sentou.
— Se eu estivesse ferido, significava que estava prestes a morrer, correto?
Os três assentiram freneticamente.
— Então, tecnicamente, você me salvou.
Felix trocou um olhar rápido com Lyra e Grindor.
— Euh... sim?
O dragão ponderou por um instante, depois sorriu, mostrando dentes afiados o suficiente para partir armaduras ao meio.
— Então, como é tradição entre os dragões... eu lhe devo um favor.
O trio ficou boquiaberto.
Felix sentiu as pernas ficarem bambas.
— Espera... o quê?
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Atualizado até capítulo 44
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