Após incontáveis missões absurdas — incluindo o infortúnio de impedir um alquimista senil de transformar uma pacata vila em um campo de guerra de tomates assassinos (e, em troca, receber apenas um punhado de moedas e um "obrigado" que soou mais como uma ameaça velada) — Felix e seu grupo finalmente chegaram a uma conclusão alarmante: estavam miseravelmente pobres.
O ápice da humilhação veio quando perceberam que nem mesmo derrotar um golem lhes rendeu uma recompensa decente. Aparentemente, a população tinha a ilusão de que “um grupo com um mago habilidoso” deveria dar conta de tal criatura com facilidade. Para Felix, essa afirmação era ofensiva em dois níveis: primeiro, insinuava que ele era habilidoso (o que era uma novidade intrigante); segundo, significava que ninguém estava disposto a pagar bem pelo serviço.
Mas o verdadeiro golpe veio quando Grindor encarou melancolicamente o que restava de seu machado, agora uma pilha de lascas metálicas digna de um ferro-velho.
— Preciso de uma arma nova. E dessa vez, algo que não vire farelo no primeiro monstro que eu acertar.
Felix coçou o queixo, assumindo a pose de um grande pensador, embora sua sabedoria em ferreiros e metalurgia fosse comparável à de uma beterraba.
— Você não pode forjar uma para si mesmo? Você não é um anão? Ouvi dizer que seu povo é mestre na arte da forja!
Grindor lhe lançou um olhar gélido, suas sobrancelhas espessas se unindo num arco ameaçador.
— Nem todo anão sabe forjar… — murmurou, cruzando os braços, visivelmente ofendido.
Lyra, sempre disposta a enfiar o dedo na ferida, riu.
— Ah, não precisa se envergonhar, Grindor! Apesar de ser um anão sem talento para forjar armas, ao menos tem força suficiente para destruir as que compra!
Grindor estreitou os olhos, sentindo o peso da provocação.
— Veja quem fala, a elfa sem talento para magia espiritual. Lembro bem que foi expulsa do meio dos elfos.
Lyra arfou, ultrajada.
— Eu não fui expulsa! Saí por livre e espontânea vontade!
— Ah, claro. Vontade de quem? De todos os outros elfos?
E assim, a conversa rapidamente degenerou em uma troca de farpas afiadas sobre ancestralidade, habilidades duvidosas e decisões de vida questionáveis. Felix, por sua vez, assistia ao embate como quem aprecia um espetáculo de gladiadores, até que finalmente decidiu intervir, batendo palmas para chamar a atenção.
— Muito bem, já chega! Vocês podem resolver suas diferenças com uma briga campal depois. No momento, temos prioridades: ganhar dinheiro para que Grindor tenha uma arma decente e para que Lyra possa… sei lá, comprar um espelho para admirar sua própria arrogância.
— Ah, que ideia brilhante, Felix! Por que não caçamos um dragão e pagamos tudo com um dente dele? — Lyra ironizou, revirando os olhos.
— Bem, eu estava pensando em algo um pouquinho mais realista… — Felix rebateu, puxando um panfleto amassado da bolsa. — Missões de alto nível, grandes recompensas…
Grindor e Lyra se entreolharam, agora genuinamente interessados.
— Boa ideia! — admitiu Lyra.
— Finalmente algo inteligente saindo da boca do trapalhão! — comentou Grindor, num raro momento de elogio disfarçado.
— No entanto, há um pequeno problema… — Lyra franziu o cenho, analisando melhor o panfleto. — Leia as letras miúdas. Para pegar essas missões melhores, precisamos ser oficialmente qualificados como aventureiros de alto nível.
Um silêncio incômodo pairou no ar.
Felix suspirou, guardando o panfleto como quem esconde uma esperança frustrada.
— Ótimo… Então antes de ficarmos ricos, precisamos primeiro parecer competentes. Isso vai ser um desafio e tanto.
— Há uma maneira, — disse Grindor, cruzando os braços com ares de quem tinha uma revelação grandiosa. — Todo mês realizam exames para conceder o emblema oficial de aventureiro. Quem o possui pode aceitar qualquer missão na guilda, sem restrições.
— Então… temos que fazer o Exame Oficial de Aventureiros? — Felix repetiu lentamente, franzindo a testa como se dissesse um palavrão em um idioma proibido.
— Exatamente! — confirmou Lyra, animada.
— Ótimo! Vocês dois façam o exame e depois me contem como foi! — Felix deu meia-volta com a rapidez de alguém fugindo de impostos, mas Lyra e Grindor o agarraram pelos ombros antes que pudesse escapar.
— Você também vai participar, — disse Grindor, num tom que não deixava espaço para negociações.
— Por quê?! Eu estou perfeitamente confortável sendo um aventureiro medíocre! — protestou Felix, debatendo-se em vão.
— Porque apenas aventureiros registrados podem formar um grupo oficial, — explicou Lyra, sorrindo com a paciência irônica de quem explica algo óbvio para uma criança teimosa. — Se quisermos missões melhores, precisamos de um mago registrado.
— E, infelizmente, só temos você. — acrescentou Grindor, com um pesar teatral.
Felix piscou, considerando as implicações. — Então, se encontrarmos outro mago, vocês vão me dispensar?
— É uma possibilidade, — respondeu Lyra, sorrindo como uma elfa que adorava atormentar humanos.
Felix suspirou, derrotado.
— Ok, ok! Eu faço o maldito exame.
E lá se ia mais uma esperança de uma vida tranquila.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Evandro Miranda
esse grupo é perfeito kkkkkk
2025-03-07
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