A tensão ainda pairava sobre o trio enquanto seguiam rumo à grandiosa capital, mas a vitória sobre o espectro parecia ter infundido uma nova energia em seus espíritos.
Lyra, animada com a perspectiva de um banquete real, não conseguia evitar lançar olhares furtivos para Grindor, que, por sua vez, permanecia indiferente a qualquer celebração. Seu olhar estava fixo no objeto amaldiçoado que trazia consigo, como se tentasse decifrar um enigma insolúvel.
— Se bem me lembro, a última vez que estive na capital foi um evento grandioso — comentou Grindor, soltando uma risada baixa. — Mas nada que tenha me feito sentir que pertenço àqueles salões dourados.
Felix ergueu uma sobrancelha. — Espera aí… Você já esteve na capital antes? Nunca mencionou isso.
Grindor apenas assentiu de forma enigmática, como se fosse um homem envolto em mistérios profundos, mas provavelmente só estivesse tentando evitar mais conversa.
— Certo, mas uma questão muito mais importante — interrompeu Lyra. — Quem vai carregar o broche amaldiçoado até lá? Porque, sinceramente, não quero ter nada a ver com essa coisa. Aposto que no meio da corte real ele vai se manifestar, soltar um grito fantasmagórico, fazer um nobre desmaiar e, no final, a culpa vai cair em cima de mim.
Grindor lançou um sorriso sutil. — Não se preocupe, Lyra, eu cuido disso. Mas sobre o banquete… Bem, se tem uma coisa que aprendi ao longo dos anos é que nenhum banquete real acontece sem uma boa dose de caos.
Felix soltou uma risada. — Ah, disso eu não tenho dúvida. Se nada der errado naturalmente, de alguma forma eu acabo fazendo isso acontecer.
E assim, entre risos nervosos e a persistente sensação de que o destino ainda lhes reservava surpresas, o trio seguiu para a capital.
Uma Pequena Confusão Temporal
As grandes portas da capital se abriram, revelando a majestosa cidade e, ao fundo, o imponente Castelo Real. O som de celebrações já ecoava pelo ar, fazendo Felix se sentir momentaneamente esmagado pela grandiosidade do local.
Sem perder tempo, os três partiram direto para o palácio. Tinham chegado três dias antes do banquete — ou pelo menos era isso que acreditavam — e confiavam que, como convidados de honra, receberiam um quarto confortável e uma boa refeição. A verdade? Estavam completamente falidos e contavam desesperadamente com a "gentileza da nobreza" para garantir uma estadia gratuita.
Entretanto, antes que pudessem atravessar os portões do castelo, um cavaleiro surgiu com uma expressão séria e imponente.
— Alto lá! Quem são vocês?! — bradou o guarda, lançando-lhes um olhar desconfiado.
— Somos aventureiros oficiais — declarou Grindor, mostrando as insígnias que carregavam. — Fomos convidados para o banquete real daqui a três dias.
O guarda os observou de cima a baixo. Sujos da viagem, com roupas desgastadas e ares exaustos, pareciam mais três andarilhos desabrigados do que convidados de honra.
— Não me façam rir! Saiam daqui antes que eu perca a paciência! — resmungou o guarda com impaciência.
— Mas que audácia! — exclamou Lyra, indignada. — Nós fomos convidados diretamente pelo rei!
O guarda simplesmente bufou, cruzando os braços.
Felix, mais diplomático (ou simplesmente mais desesperado por comida), sacou um envelope e o ergueu. — Aqui está o convite, senhor cavaleiro.
O homem pegou o pergaminho e, ao ver o selo real, sua expressão congelou. Depois de alguns segundos de silêncio constrangedor, pigarreou e tentou se recompor.
— Ah… Hum… Peço mil desculpas! Pensei que fossem mendigos!
O trio ficou em silêncio por um momento. Felix e Lyra piscaram, processando a ofensa, enquanto Grindor cruzava os braços, claramente ofendido.
Mas o guarda não percebeu o impacto de suas palavras, pois logo soltou uma nova bomba:
— Mas por que falaram que o banquete é daqui a três dias? Ele é hoje! Começa em uma hora!
A tensão ficou tão densa que parecia possível cortá-la com uma faca. Os três se entreolharam, trocando olhares desesperados.
— Como assim?! — protestou Lyra. — Nós chegamos três dias antes!
— Não, chegaram exatamente no dia marcado — corrigiu o guarda, com um tom de evidente impaciência. — Podem passar. Mostrem o convite na entrada lateral do castelo, os criados os levarão aos seus aposentos.
Antes que o grupo pudesse fazer mais perguntas, o guarda saiu correndo para apartar uma briga entre dois velhos que acontecia na praça em frente ao castelo.
— A única explicação para isso… — começou Grindor, estreitando os olhos. — É que ficamos presos naquela névoa espectral por três dias.
— Mas parecia que foram só alguns minutos! — disse Felix, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
— Magia espiritual… — murmurou Lyra, cruzando os braços. — Odeio quando isso acontece.
Mas não havia tempo para lamentações. Outro guarda se aproximou e, com um tom apressado, os empurrou em direção à entrada.
— Vamos, vamos! O banquete começa em menos de uma hora!
E assim, sem tempo para refletir sobre a distorção temporal, os três se dirigiram ao castelo para se arrumar.
Um Banquete… e um Problema
O Palácio Real era tudo o que Felix esperava — e mais um pouco. Pilares de mármore reluzentes, grandes janelas que refletiam a luz das estrelas, tapeçarias finíssimas e jardins que pareciam ter sido esculpidos por deuses.
Lyra andava de um lado para o outro, maravilhada com a opulência. Felix tentava disfarçar seu nervosismo, enquanto Grindor resmungava sobre a única coisa que realmente lhe importava naquele momento:
— Como um castelo desse tamanho não tem uma latrina decente?! Isso é um ultraje.
Quando finalmente chegaram ao salão principal, encontraram o banquete em plena preparação. O rei de Eldoria, um homem imponente de longos cabelos dourados e uma barba majestosa, os observava de seu trono com um sorriso largo.
— Bem-vindos, heróis de Eldoria! — disse ele, sua voz ressoando pelo salão. — Estou ansioso para conhecer as habilidades dos meus novos aventureiros preferidos!
Felix congelou.
"A-há", pensou. "Lá vem problema."
Porque, entre todas as palavras que o rei poderia ter dito, havia uma que fazia sua alma querer fugir de seu corpo.
Habilidades.
Ele queria ver suas habilidades.
E o que Felix faria? O que poderia mostrar?! Sua magia era, no mínimo, um espetáculo de horrores e caos. Como, em nome dos deuses, ele impressionaria aquele homem sem transformar o salão real em um desastre mágico?
Enquanto todos se acomodavam à mesa, Felix tentava formular um plano. E só havia uma coisa da qual tinha certeza:
Isso ia dar muito errado.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Evandro Miranda
kkkkkk
2025-03-11
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Evandro Miranda
ainda humilha
2025-03-11
0