Magia em Fuga e Talento Também
Felix Lorian encarava o pergaminho amarelado em suas mãos como se nele estivesse inscrita a sentença de sua própria existência. De certo modo, estava. As palavras, em uma caligrafia rebuscada e impiedosa, informavam o que ele já sabia, mas se recusava a aceitar: "Infelizmente, sua candidatura para o cargo de Mago Real foi rejeitada. Agradecemos seu interesse. Boa sorte em futuras empreitadas."
Boa sorte. Como se isso tivesse alguma vez estado ao seu lado.
Suspirando, Felix largou o pergaminho sobre a mesa de madeira do que já fora um quarto digno e agora mais parecia um armazém de itens fracassados. Pilhas de livros de magia intocados, ingredientes alquímicos expirados e uma vassoura encantada que se recusava a varrer acumulavam-se em um cenário de desesperança. A prova final de que seu talento para a magia era comparável ao de uma cenoura.
— Muito bem, Felix — murmurou para si mesmo. — Isso significa apenas que você precisa tentar algo... menos grandioso. Talvez um trabalho menos exigente. Quem precisa ser Mago Real quando existem tantas oportunidades por aí?
Com essa determinação forjada na necessidade e um toque de desespero —, Felix vestiu sua capa um tanto puída e saiu para as ruas de Eldoria. A cidade fervilhava de energia, com magos, mercadores e aventureiros indo e vindo, cada um com sua própria história de sucesso ou, no caso de Felix, de fracasso.
A primeira parada foi na Guilda dos Magos Auxiliares. Um cartaz colorido anunciava:
"Precisa-se de Mago para pequenos encantamentos! Paga-se bem!"
Isso parecia promissor. Felix entrou e foi recebido por um homem de meia-idade com um bigode impressionante e olhos avaliadores.
— Sabe fazer encantos de fortalecimento? — perguntou o homem.
— Claro! — respondeu Felix, tentando parecer confiante.
— Ótimo! Vamos testar. Aquele barril ali — ele apontou para um enorme barril de madeira. — Encante-o para ficar mais resistente.
Felix ergueu as mãos, murmurou um feitiço e lançou a magia. Uma centelha de energia se espalhou pelo barril, que imediatamente...
... explodiu.
Estilhaços voaram por toda parte, deixando o bigodudo coberto de serragem e com uma expressão que oscilava entre choque e desejo de homicídio.
— Eu... er... às vezes acontece um pequeno ajuste de intenção na magia — Felix tentou explicar.
— Fora. Agora.
Felix não precisou de mais palavras. Saiu apressado antes que algum barril vingativo decidisse se materializar para dar o troco.
A segunda tentativa foi em uma loja de poções. O dono, um ancião com ar de alquimista experiente, precisava de um assistente para misturar ingredientes.
— Apenas despeje esse extrato de raiz lunar nesse caldeirão, com cuidado — instruiu o homem.
Felix pegou o frasco, derramou o líquido e... BOOM.
A loja foi preenchida por uma nuvem de fumaça roxa. Quando ela se dissipou, Felix percebeu que o alquimista agora tinha orelhas de coelho.
— Você... você transformou minhas orelhas em algo adorável? — o homem gritou, olhando-se no espelho.
— Eu diria que foi um aprimoramento estilístico...— tentou argumentar Felix.
O alquimista apontou para a porta com um olhar furioso.
Depois de mais algumas tentativas frustradas — incluindo uma breve experiência como encantador de armas (onde fez uma espada começar a recitar poesias amorosas), e um teste na taverna local para aquecer bebidas (onde fez o vinho evaporar instantaneamente) —, Felix se viu sentado na beira da fonte central da cidade, refletindo sobre suas escolhas de vida.
Seria tão ruim assim se tornasse um vendedor de ervas medicinais? Ou talvez um contador? Mas não, ele queria ser um mago! Esse era seu sonho!
Foi então que uma dupla de aventureiros parou próximo a ele. Eles pareciam... moderadamente competentes. Seus equipamentos eram decentes, embora não luxuosos, e carregavam a exaustão de quem tinha acabado de retornar de uma missão.
— Precisamos de um mago, — a elfa de cabelos longos, pele morena e aparentemente entediada falou. — Um feitiçeiro que possa nos apoiar em batalhas.
— Todos os bons já estão ocupados, — resmungou o anão musculoso.
Os olhos de Felix brilharam. Era a sua chance!
Ele se levantou rapidamente e se aproximou.
— Saudações, nobres aventureiros! Ouvia suas preces e digo: o destino vos sorriu! Pois aqui está Felix Lorian, mago de talento inigualável e pronto para servi-los!
Os aventureiros se entreolharam.
— Felix... Lorian? — a elfa questionou, franzindo a testa. — Você não é aquele que explodiu a biblioteca da Academia Arcana ao tentar conjurar um feitiço de luz?
— Há quem diga que foi uma explosão. Eu prefiro chamar de um evento luminoso inesperado. Mas isso é passado! Agora sou um mago maduro e confiável!
Houve um longo silêncio. Os dois aventureiros suspiraram.
— Certo. Sabe usar ao menos magia de suporte?
Felix acenou vigorosamente.
— Excelente! Junte-se a nós. Partimos amanhã ao amanhecer para uma missão de reconhecimento. Nada perigoso. Algo simples.
Felix sorriu, tentando ignorar a sensação de que isso poderia, de alguma forma, acabar terrivelmente errado.
E foi assim que o mago incrivelmente sem talento entrou para um grupo de aventureiros de segunda categoria, sem saber que, no dia seguinte, enfrentaria um monstro mortal… e que sua primeira missão seria um desastre de proporções épicas.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Evandro Miranda
kkkkkkkk
2025-03-04
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