A tensão no ar era tão espessa quanto a névoa que se estendia diante deles, como se o próprio destino os aguardasse ali, à beira da misteriosa ponte. A escuridão densa se espalhava até onde a visão podia alcançar, engolindo tudo em seu caminho. O som folhas secas farfalhando ao vento era o único companheiro daquela jornada solitária, enquanto o chão de terra cedia sob os pesados passos dos aventureiros, como se a própria terra estivesse se rendendo.
Grindor, que liderava o grupo com a confiança de um homem que já enfrentara muitos pesadelos, parou na borda da ponte. Seus olhos se fixaram na névoa que os esperava, como se ela tivesse uma mente própria. Felix e Lyra estavam ao seu lado, seus rostos uma mistura de curiosidade e apreensão.
— Está mais espessa do que eu imaginava — murmurou Lyra, a voz tão baixa que parecia que a névoa poderia ouvir e se ofender.
Felix franziu a testa, um instinto sempre alerta em sua natureza. — E esse cheiro? Está… algo como metal enferrujado?
Grindor balançou a cabeça, os músculos do pescoço tensos como se ele estivesse tentando se livrar de uma sensação desconfortável. — Não sei o que é, mas algo está definitivamente errado aqui. Fiquem perto de mim. Não se afastem, por favor. Nenhum ser humano ou monstro de Eldoria jamais atravessou essa névoa e voltou intacto, nem mesmo os magos mais poderosos ou os caçadores mais valentes.
Felix estava inquieto. Ele sempre preferiu ter o controle da situação. — E o plano? Não dá para conjurar algo simples, tipo um feitiço de luz?
Grindor soltou um suspiro profundo, como se o peso da realidade caísse sobre ele. — Não vai adiantar. Essa névoa tem uma magia própria. O melhor que podemos fazer é seguir com cautela.
A névoa os engoliu à medida que caminhavam. Era como se estivessem sendo arrastados para um abismo invisível. O silêncio era absoluto, o ar parecia mais denso a cada passo, como se os estivesse consumindo lentamente.
De repente, o som de passos ecoou pela névoa. Felix parou, os pelos do pescoço se eriçando. — O que foi isso?
Grindor fez um gesto para que ficassem em silêncio. Seus olhos vasculhavam a escuridão, mas nada se revelava. Foi Lyra, com sua visão aguçada, quem primeiro avistou algo.
— Olhem! — ela apontou, sua voz mais firme do que parecia.
Do fundo da névoa, uma figura se materializou. Era uma silhueta esquelética, envolta em um manto negro, com olhos que brilhavam como brasas. A figura estava parada, observando-os com um olhar que parecia atravessar suas almas.
Felix deu um passo atrás, a insegurança tomando conta dele. — O que… o que é isso?!
Grindor, com os punhos cerrados e o semblante feroz, avançou. — Um espectro. Deve ser o guardião da ponte. Não podemos retroceder agora. Já estamos muito perto.
A figura esquelética levantou uma mão, fazendo um gesto que parecia convidar os aventureiros a se aproximarem. Seus olhos ardentes brilhavam com uma luz ameaçadora.
— Quem são vocês, que ousam perturbar o que foi selado? — A voz do espectro soou como um sussurro grave, carregado com o peso de séculos de sofrimento.
Felix, respirando fundo, olhou para Grindor. — O que ele quer de nós?
Grindor olhou a figura com cuidado, sua voz baixa e firme. — Isso é uma sentença. Um desafio. Precisamos provar nossa coragem, ou nunca conseguiremos atravessar esta ponte.
Lyra, com a expressão de quem não tem medo de nada, avançou um passo, o arco firme em suas mãos. — Não temos medo! Se é um desafio, que seja. Estamos prontos!
O espectro sorriu, e de repente, a névoa ao seu redor se agitou. Do vazio, surgiram outras figuras etéreas, cercando-os, criando uma prisão invisível.
— Então provem. Apenas os dignos cruzarão esta ponte. O que está em jogo vai além de suas vidas. É a alma.
A tensão subiu a níveis insustentáveis. Felix olhou para os outros, uma ideia surgindo em sua mente. Ele fez um gesto rápido com as mãos. — Acho que finalmente vamos entender o que aconteceu com os aventureiros que desapareceram aqui.
O espectro ergueu as mãos, e correntes de energia mágica começaram a girar ao seu redor. A batalha estava prestes a começar.
Felix, tentando manter a calma, sabia que suas magias estavam longe de ser confiáveis. Mas, como sempre, ele tinha que tentar. Estendeu as mãos, focando toda a sua energia, e desejou evocar uma luz que dissesse “não à névoa”. Mas, ao invés disso, uma série de ilusões começou a se formar ao redor deles: um dragão gigante, uma tempestade de fogo e até um exército inteiro de soldados. A névoa se agitava, distorcendo as imagens em um turbilhão de caos, e o espectro parecia perder a compostura, suas formas começando a se contorcer.
— Isso não vai funcionar… — resmungou a figura, mas Felix podia ver que ela estava, de fato, um pouco perturbada.
Lyra e Grindor estavam prontos para atacar. A elfa retirou uma flecha de sua aljava, encantando-a com magia do vento, fazendo a névoa se afastar por um breve momento, revelando mais detalhes da figura sombria. Grindor, com os olhos fixos no espectro, procurava uma oportunidade.
Felix continuou manipulando a névoa com suas ilusões, tentando comprar tempo. Mas a figura, com um movimento rápido, estendeu as mãos e a névoa se adensou novamente, ficando quase sólida.
Foi então que Grindor, com um grito de guerra, avançou. Sacou sua machadinha de ferro e a brandiu com força, cortando a névoa como se fosse feita de vidro. Com um estalo, a figura se desfez em uma nuvem de fumaça, e o silêncio retornou à ponte.
— Isso foi… fácil demais! — Felix exclamou, a surpresa evidente.
— Cuidado com o que você diz! — advertiu Lyra.
Antes que eles pudessem relaxar, a figura se materializou novamente. Grindor, impassível, olhou para Lyra. — Lança todas as flechas de vento que puder.
— Isso não vai funcionar! — ela protestou.
— Apenas faça!
A elfa obedeceu, e foi nesse momento que Grindor percebeu. Cada vez que o vento afastava um pouco da névoa, ele via um brilho fraco, mas perceptível, emanando do espectro. Algo sólido, algo que não se desfazia. E foi então, com precisão de um mestre, que Grindor lançou sua machadinha. A lâmina cortou algo metálico no peito da figura, e ela gritou enquanto se desintegrava junto com a névoa, deixando para trás um broche partido ao meio.
— Credo, tudo isso por uma coisinha dessas? — Lyra perguntou, desconcertada.
Grindor abaixou-se, pegando os dois pedaços do broche. Em sua superfície, estava uma inscrição em uma língua tão antiga que nem mesmo ele ou Lyra conseguiram decifrar.
— Então, é isso? Já acabou? E, pelo visto, nenhuma das minhas magias deram errado dessa vez? — Felix se perguntou, satisfeito.
— Claro que deu errado. O que eram aquelas coisas, andando ao nosso redor? Estavam me dando uma dor de cabeça! — resmungou Lyra.
— Isso deve ser um objeto amaldiçoado. Só conseguimos porque estava enfraquecido. Talvez pela falta de energia mágica para ele sugar. — disse Grindor, ainda segurando o broche com um ar de cautela.
— O importante é que vencemos. E agora, vamos chegar à capital com três dias de antecedência! — Felix anunciou com um sorriso satisfeito.
Ao menos era isso que ele pensava.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Evandro Miranda
vão se atrasar muito kkkk
2025-03-11
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