Felix jamais havia experimentado o sabor do respeito. Para ser sincero, ele mal sabia como era ser levado a sério. Então, quando se viu ovacionado pela primeira vez na vida, sua mente quase entrou em curto.
Após a confirmação de que a névoa amaldiçoada da floresta havia sido erradicada – um feito que envolveu mais tropeços, explosões acidentais e gritos de pânico do que qualquer um gostaria de admitir –, o rei, com um sorriso satisfeito e uma bolsa de ouro ainda mais generosa, recompensou Felix, Lyra e Grindor por sua "bravura incomparável".
Pela primeira vez desde que se tornaram aventureiros, eles não estavam falidos! Nada mais de pão amanhecido, nada mais de dormir ao relento usando um pedaço de couro como travesseiro. Agora tinham ouro, fama e, pasmem, o respeito da guilda!
E foi um sentimento maravilhoso... por exatamente três dias.
Durante esse curto e glorioso período, ficaram na cidade real aproveitando seu prestígio súbito. As tavernas serviam suas melhores bebidas, os nobres sussurravam sobre "aquele mago excêntrico, mas talentoso" (o que era um progresso considerável em relação a "Felix, o Fracasso"), e até os guardas os cumprimentavam com acenos respeitosos.
Tudo parecia estar finalmente dando certo.
Foi exatamente aí que a realidade decidiu dar um tapa na cara deles.
O mestre da Guilda de Aventureiros os convocou pessoalmente, sorrindo de um jeito suspeito – aquele tipo de sorriso que só precede tragédias.
— Vocês são aventureiros oficiais, não são? — perguntou ele, com um tom casual demais para alguém prestes a arruinar suas vidas.
— S-sim? — murmurou Felix, já desconfiado.
— Excelente! Então aceitam essa missão sem objeções!
— O quê?! Mas nem ouvimos qual é! — protestou Lyra.
— Não precisam. O contrato que vocês assinaram ao aceitar a insígnia de aventureiros oficiais inclui uma cláusula obrigando-os a aceitar qualquer missão designada pela guilda.
Grindor folheou o contrato, encontrou a cláusula escrita em letras tão minúsculas que pareciam feitiçaria e suspirou.
— É... somos obrigados mesmo.
Felix sentiu um arrepio na espinha.
— Por que sempre tem uma maldita cláusula oculta?!
— Isso acontece quando você assina contratos sem ler, gênio — Lyra retrucou, cruzando os braços.
— Eu li! Só... não prestei atenção nas partes chatas.
— Que, por coincidência, eram as partes importantes.
— Mas vocês dois também tinham que ler antes de assinar!
Grindor deu de ombros.
— Bom, pelo menos agora somos oficialmente ricos.
— Seja lá qual for a missão, não pode ser tão ruim assim... certo?
Errado.
A missão era simples no papel: um pântano ao oeste da capital estava devorando tudo ao redor. Árvores, casas, gado, pescadores distraídos... tudo estava desaparecendo na lama negra. Os relatos falavam de um monstro oculto no breu lodoso, sugando qualquer coisa viva para as profundezas.
E, como se isso já não fosse suficiente, a guilda decidiu montar uma equipe para lidar com o problema. Uma equipe composta apenas por aventureiros de reputação duvidosa.
Ou seja: nobres.
Mas não qualquer tipo de nobres. Estes haviam sido delicadamente expulsos da alta sociedade por serem um fardo vergonhoso para suas famílias. Como ato de "misericórdia", seus pais compraram licenças de aventureiro para eles, esperando que morressem em alguma missão impossível e ao menos elevassem o nome da família como "heróis que deram suas vidas pelo reino".
E foi assim que Felix se viu em uma "Equipe de Desajustados."
O primeiro membro era Vaelion, um meio-elfo, irritantemente brlo e com uma expressão eternamente entediada e uma inimizade instantânea com Lyra.
— Olha só, uma elfa rejeitada — Vaelion comentou ao vê-la.
— Olha só, um meio-elfo com metade da habilidade de qualquer elfo comum — Lyra retrucou, sem hesitação.
A tensão no ar poderia ser cortada com uma adaga.
O segundo membro era Tobias, um curador... com uma resistência mágica, digamos, questionável.
— Eu consigo curar ferimentos leves! — ele disse animado.
— E ferimentos graves? — perguntou Felix.
— Não.
— Você pode curar várias pessoas ao mesmo tempo?
— Também não.
— Você pode curar pelo menos duas pessoas seguidas?
— Depende... talvez... se forem cortes pequenos e eu descansar depois...
Felix suspirou e olhou para o céu, buscando paciência nos deuses. Nenhum deles respondeu.
Por fim, havia Magnus, um mago imponente, vestindo uma túnica luxuosa e ostentando um ar de arrogância.
— E você, qual é sua especialidade? — Felix perguntou, esperançoso.
— Sou um especialista em magia elementar! — Magnus declarou com orgulho.
— Ótimo! Que tipos de magia você usa?
— Fogo!
— E... mais alguma?
— Não, apenas fogo. Mas sou muito bom nisso!
— Sabe usar barreira de fogo?
— Não, apenas bolas de fogo!
— Faça uma demonstração. — Felix pediu, já rezando para que ao menos um deles fosse competente.
Magnus ergueu a mão, concentrou-se... e conjurou uma bola de fogo ridiculamente enorme mas fraca, que uma brisa passageira fez a chama desaparecer instantaneamente.
Felix esfregou o rosto com as mãos.
— Qual sua especialidade, Vaelion? — questionou, na esperança de salvar o time.
— Mostrarei em combate!
Felix massageou as têmporas.
— Então — Felix começou, encarando sua nova equipe com um misto de desespero e resignação —, vamos lutar contra um monstro "imortal" com um curandeiro que só serve para arranhões, um mago de fogo que mal consegue acender uma vela e um meio-elfo insuportável. Perfeito!
— Ei! Minhas bolas de fogo podem ser letais! — Magnus protestou.
— Sim, se jogadas em uma poça de óleo. E com paciência o suficiente.
— Você também não tem muito direito de reclamar, Felix — murmurou Lyra.
— Não começa!
E assim, Felix se viu novamente em um pesadelo ambulante, desta vez cercado por nobres rejeitados, rumo a um pântano devorador de vidas.
A vida realmente adorava brincar com suas esperanças.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Evandro Miranda
esquadrão suicida
2025-03-11
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