Felix acordou naquela manhã sentindo uma mistura estranha de empolgação e terror. Ele havia conseguido um emprego! Como mago de verdade! E tudo o que precisava fazer era ajudar uma dupla de aventureiros em uma caçada.
Nada demais.
Ele pegou seu cajado — que, na verdade, era apenas um pedaço de madeira que ele usava para parecer mais impressionante — e encontrou a dupla no ponto de encontro combinado.
— Bom, bom... você realmente apareceu — disse o Grindor o Anão.— Achei que ia fugir durante a noite.
— Fugir? Eu? Pff! — Felix riu nervosamente. — Claro que não. Magos renomados como eu enfrentam desafios de frente!
Lyra a Elfa arqueou uma sobrancelha.
— Você parece nervoso.
— Eu sempre pareço nervoso. É meu rosto. — Ele sorriu. — Mas confiem em mim, eu sou um profissional.
— Certo... — Grindor falou. — Vamos indo antes que eu mude de ideia.
— A propósito qual é mesmo nossa missão? — questionou Felix.
— É um trabalho simples – respondeu Grindor, enquanto marchavam pela estrada poeirenta. – Um Golem de Pedra foi avistado perto da vila de Bregas. Precisamos destruí-lo antes que cause estragos.
— "Simples" e "Golem de Pedra" não deviam estar na mesma frase – murmurou Felix, já repensando sua vida.
— Você disse alguma coisa? – perguntou Lyra, a elfa arqueira do grupo.
— Não, nada! Apenas refletindo sobre como estou ansioso para ajudar!
Ele estava mentindo descaradamente. Felix nunca tinha enfrentado um monstro de verdade. Na Academia, suas batalhas mais intensas eram contra portas emperradas e o horário de acordar cedo.
Quando chegaram ao campo aberto onde o golem havia sido avistado, Felix suou frio. A criatura era uma montanha ambulante, com braços do tamanho de troncos e olhos brilhando com energia mágica.
— Certo, plano de ataque! – Grindor sacou seu machado. – Eu vou pela frente, Lyra ataca à distância e Felix…
— Eu forneço suporte mágico! – completou Felix, tentando parecer confiante.
— Isso, exatamente. Mas, por favor, não nos mate no processo.
Felix quis protestar, mas Grindor já corria na direção do golem, gritando. Lyra disparou uma flecha encantada, que quicou no ombro da criatura sem causar efeito. O rapaz engoliu em seco.
"Isso vai dar errado!"
Grindor desferiu um golpe poderoso na perna do monstro. O resultado? A lâmina do Machado quebrou. O anão ficou paralisado, segurando o cabo inútil na mão.
— Ah. — Grindor olhou para cima. — Isso não é bom.
— Ok, hora de brilhar! — Felix estalou os desdos e sentiu a energia mágica se formar em suas mãos.
Mas antes que o feitiço fosse concluido e o Raio Arcano lançado, Felix pode ver toda a cena em câmera lenta: o punho do golem descendo, Grindor pulando para o lado, a terra rachando com o impacto e um projétil humano chamado Félix sendo arremessado para trás pelo impacto.
— AAAAH!
Felix aterrissou de cara na lama.
— Ele está bem? – perguntou Lyra, sem tirar os olhos do golem.
— Ele ainda está respirando, então acho que sim — respondeu Grindor, chutando o traseiro de Felix para confirmar.
Felix se ergueu, cuspindo barro. Isso já era humilhante o suficiente, mas piorou quando percebeu que sua magia não havia saído do controle. Pelo contrário… ela não saiu de jeito nenhum.
O golem rugiu e avançou, derrubando Grindor e desviando das flechas de Lyra. A situação estava prestes a virar um massacre.
— Pensa, pensa, pensa! – Felix vasculhou sua mente por qualquer solução.
Ele precisava fazer algo! Mas o quê? Magia não funcionava como ele queria… Espera. E se ele usasse isso a seu favor?
Um sorriso desesperado surgiu em seu rosto.
— Todos, saiam de perto! – gritou ele.
— Você tem um plano?! – Lyra perguntou, duvidosa.
— Absolutamente não! – Felix ergueu as mãos e recitou um feitiço genérico.
— Incendiarius Flamma! — ele pode sentir a magia saindo de seu corpo e começando a brilhar nos seus dedos...
...e então um passarinho pousou na cabeça do golem.
Por algum motivo, Felix perdeu o foco por meio segundo.
Foi o suficiente para a magia sair do controle.
Em vez de um poderoso raio de energia concentrada, um jato de espuma perfumada explodiu das suas mãos, cobrindo o golem de uma substância brilhante e com cheiro de lavanda.
Todos ficaram em silêncio.
Até mesmo o golem.
— O que diabos foi isso?! — Grindor gritou.
— Eu... não faço ideia. — Felix estava tão confuso quanto os outros.
O golem olhou para si mesmo, coberto de espuma mágica. Por algum motivo, ele não gostou nada disso. Rugiu de fúria e avançou na direção de Felix.
— ELE VAI ME MATAR! — Felix correu para trás, tropeçando nos próprios pés.
— Você fez isso, agora lide com isso! — Lyra disparou outra flecha, que mais uma vez não fez nada.
O golem ergueu o punho para esmagar Felix.
Foi então que algo inesperado aconteceu.
Por causa da espuma mágica, o golem escorregou. Suas pernas deslizaram para os Lados, ele tentou recuperar o equilíbrio, mas era um monstro pesado demais para fazer isso.
Ele tombou.
E caiu direto de um penhasco.
Felix piscou.
Lyra piscou.
Grindor coçou a barba.
— Isso... acabou de acontecer? — Lyra perguntou, ainda segurando o arco.
— Acho que sim. — Grindor olhou para Felix. — Você acabou de derrotar um golem gigante com... sabonete mágico?
Felix olhou para as próprias mãos. Então olhou para o penhasco.
— Eu... acho que sim?
Lyra suspirou e guardou suas flechas.
— Seja lá o que for... funcionou.
...****************...
A notícia da "heroica" vitória de Felix sobre o golem espalhou-se mais rápido do que ele gostaria. Antes que pudesse protestar, a guilda já havia transformado sua história em uma lenda, com detalhes exagerados que faziam sua façanha parecer algo entre um ato de bravura e um milagre divino.
— Então você usou uma magia secreta para transformar o golem em pedra-sabão e fazê-lo escorregar? — perguntou um jovem aventureiro impressionado.
— Err... algo assim — Felix murmurou, olhando de canto para Lyra e Grindor, que seguravam o riso.
E foi assim que Felix sobreviveu à sua primeira missão — não por talento, mas porque sua magia falhou de uma maneira tão absurda que virou um milagre.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Evandro Miranda
o talento dele é não ter talento
2025-03-04
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