Depois da gloriosa e absolutamente improvável vitória sobre o monstro do Pântano Sem Fim, Felix, Lyra e Grindor se viram alçados ao estrelato. O feito inacreditável – que envolveu um selo mágico limpado por acidente e uma criatura das trevas evaporada sem explicação lógica – fez com que seus nomes ecoassem por toda Eldoria.
Felix, antes conhecido como "Felix, o Fracasso", agora carregava um novo título: "O Mago Milagreiro". Para ele, honestamente, não era uma grande melhoria. Já Lyra e Grindor não se importavam com os detalhes, pois estavam ocupados aproveitando os benefícios da fama.
Afinal, que melhor maneira de celebrar do que afogar-se em luxo desnecessário?
Com as recompensas recebidas e o dinheiro fluindo como um rio mágico, o trio passou dias em restaurantes sofisticados, hotéis de alto padrão e até adquirindo itens absurdamente inúteis. Lyra comprou um arco de Diamantina – que, além de brilhar como um vaga-lume possuído, não possuía absolutamente nenhuma vantagem em combate. Grindor, por sua vez, adquiriu um machado com lâmina de ouro e cabo de uma árvore aromática, que parecia mais uma peça decorativa do que uma arma digna de batalha. E Felix, sem querer ficar para trás, investiu em uma capa extravagante com símbolos dourados e uma varinha "mágica", que soltava apenas um punhado de purpurina colorida.
O ápice do luxo durou exatamente... duas semanas.
Foi então que veio a descoberta devastadora: estavam falidos novamente e tiveram que vender tudo que compraram, para ao menos ter como pagar uma pousada barata e uma refeição por dia.
— Ah, por que acabamos nesse buraco de novo?! — gemeu Lyra, esparramando-se sobre uma mesa suja de uma taverna suspeita, situada num beco ainda mais suspeito.
— Fomos descuidados com os gastos... — murmurou Felix, tamborilando os dedos, tentando pensar em uma solução milagrosa que, por alguma razão, nunca aparecia quando ele queria.
— Esse lugar não é digno do meu paladar. — Grindor suspirou, enfiando na boca uma colherada de algo que provavelmente era comida. Seu olhar nostálgico denunciava a saudade do seu machado de ouro.
Foi nesse momento que a porta da taverna se escancarou.
E, para o completo desespero do trio, os três Desajustados da missão anterior estavam ali: Vaelion, Tobias e Magnus.
— Finalmente os encontramos! — exclamou Vaelion, aproximando-se com um sorriso triunfante.
— O que vocês querem? E por que estão sorrindo desse jeito idiota? — resmungou Lyra, enterrando ainda mais o rosto nos braços.
A resposta veio rápida e inesperada:
— Decidimos entrar para o grupo de vocês! — anunciou Vaelion, com a aura de alguém que acabara de ganhar um título real.
— E por que, exatamente, deveríamos aceitar vocês? — Lyra ergueu a cabeça, semicerrando os olhos.
— Porque queremos aproveitar a fama de vocês. — respondeu Magnus, sem um pingo de vergonha.
— Nossa fama está prestes a mudar para “os falidos”! — rebateu Grindor, de braços cruzados.
— Isso pode ser resolvido com o dinheiro que estamos recebendo de nossas famílias... — comentou Tobias, meio envergonhado.
A palavra "dinheiro" fez os três aventureiros empobrecidos trocarem olhares. Lyra, que antes estava desanimada, endireitou-se na cadeira com a graça de um gato vendo uma refeição gratuita.
— Sente-se. Queremos saber mais sobre essa proposta. — disse a elfa, repentinamente animada.
— Que mudança repentina de atitude. Isso não combina com a dignidade de um elfo. — alfinetou Vaelion.
— Cale a boca e sente-se. Você é só meio elfo, ou seja, tem metade da minha dignidade! — Lyra rebateu.
— Metade, mas ainda maior do que a sua!
— Dignidade para se aproveitar da fama alheia?
— Nós ajudamos a derrotar aquele monstro!
— "Ajudaram"?! Você ficou pendurado como uma boneca de pano o tempo inteiro!
— Ao menos servi de distração! Mais do que uma elfa incompetente enterrando flechas na lama!
— Ora, seu...!
— CHEGA! — Felix interveio, massageando as têmporas. — Vamos conversar com calma.
Depois de muito rosnado e resmungado, os Desajustados foram para outra mesa para esperar a resposta, enquanto Felix se virou para seus companheiros.
— Então, o que acham?
— Eu acho que precisamos de dinheiro. — disse Grindor, pragmático.
— Hmph. — Lyra bufou. — Não gosto daquele meio-elfo, mas... precisamos "deles".
— Ótimo. Então, pelo bem das nossas finanças, vamos aceitá-los. — Felix sorriu. O que poderia dar errado?
Assim, Vaelion, Magnus e Tobias tornaram-se parte do grupo.
Para celebrar a nova formação, Magnus, magnanimamente, pagou uma rodada de bebidas e comida.
— Finalmente faço parte de um grupo sem precisar ter feito um ato milagroso! — Tobias sorriu, segurando sua caneca de suco de laranja.
— Você está dizendo que nosso antigo grupo não contava? — Magnus resmungou, afundando o rosto na caneca de hidromel.
— Ele esta certo Magnus, antes não conseguíamos completar nem uma missão de coleta de ervas. Agora, até minha mãe me reconheceu! Meu tio, aquele ranzinza, me mandou uma cesta de frutas. — Vaelion ergueu o queixo com orgulho.
— Se você parar de cheirar como um esgoto ambulante, talvez ajude no reconhecimento. — Lyra zombou, bebendo direto da jarra de hidromel.
— Eu já tomei uns trinta banhos!
— Pelo visto, não adiantou muito.
— Como vocês suportam essa criatura?! — Vaelion olhou para Felix e Grindor, que apenas suspiraram.
Depois de algumas horas (e alguns barris de bebida), Felix, já meio inclinado sobre a mesa, teve um momento de clareza absoluta.
— Precisamos de um nome para o grupo.
Foi então que começou um dos debates mais intelectualmente desafiadores da noite.
— Que tal “Os Heróis Improváveis”? — Tobias sugeriu.
— Prefiro “Os Defensores de Eldoria”. — Magnus abanou a mão dramaticamente.
— E que tal “Os Salvadores do Pântano”? — Lyra riu. — Já que nosso último grande feito foi lutar com um monstro de lama.
— Nada disso soa certo. — Felix suspirou. Precisava ser algo ousado. Algo forte. Algo que transmitisse a verdadeira essência do grupo.
— E se fosse... "Asas do Vento"? — ele sugeriu, rindo nervosamente. — Porque estaremos onde o vento nos levar.
Para sua surpresa, o nome foi aprovado.
— Ótimo. Amanhã registramos o grupo e os novos integrantes.
E assim, Felix, antes apenas um fracasso ambulante, agora liderava "As Asas do Vento", um grupo que... bem, ainda não sabia exatamente como era famoso, mas contava com a sorte para continuar assim.
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Atualizado até capítulo 44
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