O silêncio que se seguiu era tão absoluto que Felix quase podia ouvir seus próprios pensamentos gritando em pânico:
"Eu? Um favor de um dragão? O QUÊ? Como? Por quê? Isso é uma pegadinha? Será que morri e fui parar num plano alternativo onde eu não sou um fracasso? Ou pior… virei um protagonista de uma profecia maluca?!"
Enquanto Felix tentava reorganizar seu cérebro, Grindor foi o primeiro a reagir. Ele cutucou Felix com o cotovelo e abriu um sorriso tão largo que parecia prestes a engolir o próprio rosto.
— Felix, você tem noção do que acabou de acontecer? Um dragão te deve um favor! Você pode pedir QUALQUER COISA!
Felix piscou. Depois piscou de novo, só para garantir que não estava alucinando.
— Ahm... posso pedir para ele não nos matar?
Lyra bufou, revirando os olhos com tanta força que quase viu o próprio cérebro.
— Idiota! Ele já disse que não vai nos matar! Pede algo incrível! Ouro! Tesouros! Poder! Ou, sei lá, uma imunidade contra sua própria magia instável!
— Eu ouvi isso! — retrucou Felix, cruzando os braços com indignação.
O dragão, por sua vez, assistia à cena como quem assiste a um teatro amador de gosto duvidoso.
— Vocês podem decidir logo? Preciso acertar umas contas antes que um certo elfo metido ache que pode me dever dinheiro sem pagar.
Grindor e Lyra imediatamente começaram a discutir sobre o que pedir. Felix, por outro lado, olhou para o enorme ser escamoso diante dele e, sem saber exatamente por quê, soltou a pergunta mais aleatória possível:
— Qual é o seu nome?
O dragão piscou, claramente pego de surpresa. Ele inclinou a cabeça imensa e respondeu:
— Auron.
Felix assentiu. — Então, Auron… você realmente nos deve um favor?
— Dragões anciões seguem um código de honra, — respondeu Auron, esticando as asas de forma majestosa, como quem pratica pose para capa de livro. — Se alguém salva minha vida, eu devo uma retribuição justa. Diga o que desejam, e eu concederei.
Felix olhou para Lyra e Grindor, que ainda debatiam se um castelo com fontes de chocolate mágico era melhor do que uma espada que explode goblins em confetes.
Ele então suspirou.
— Bom... já que estamos aqui para coletar ervas medicinais, você poderia nos indicar onde encontrá-las?
O silêncio caiu de novo.
Auron arregalou os olhos, claramente sem acreditar no que acabara de ouvir.
— Só isso?
Felix coçou a nuca, um pouco constrangido.
— Bom, não sou exatamente bom em lidar com riqueza. Se eu pedisse ouro, provavelmente tropeçaria nele e morreria esmagado. Ou pior, bandidos me roubariam, e eu continuaria pobre e humilhado. E, para ser honesto, nossa missão era só pegar umas plantinhas.
O dragão soltou um suspiro profundo que soou como um trovão cansado.
— Você é um humano… peculiar.
Então, com um gesto dramático, Auron desenhou um símbolo brilhante no chão com a ponta da garra. De repente, a terra à direita deles brilhou, e uma pequena clareira se encheu de ervas resplandecentes—o dobro da quantidade que precisavam.
Felix arregalou os olhos.
— Isso foi… impressionante.
— Considerando que eu poderia ter transformado essa floresta inteira em ouro puro, achei seu pedido, digamos… modesto. — Auron disse, exibindo um sorriso presunçoso.
Lyra e Grindor encararam Felix como se ele tivesse pedido um copo d’água ao invés de um desejo ilimitado.
— VOCÊ PODIA TER PEDIDO UM TESOURO ILIMITADO E PEDIU MATO?!
Felix ergueu as mãos em defesa.
— Ei, vocês queriam que um dragão saísse espalhando ouro pelo mundo? Isso não causaria um colapso econômico?! E, além disso, agora completamos a missão sem precisar enfrentar um enxame de goblins ou lobos espectrais!
Grindor coçou a barba. — Tá, não posso reclamar disso...
Lyra suspirou. — Ainda acho que um castelo teria sido legal.
Auron ergueu as asas, pronto para partir.
— Bem, meu débito está pago. Mas devo admitir, foi uma experiência… diferente. Se um dia precisarem de um dragão ao seu lado, chamem meu nome. E, humano, quando nos vermos novamente, lhe concederei outro desejo. Considere isso um presente.
E com um poderoso bater de asas, Auron disparou para o céu e desapareceu no horizonte.
Felix ficou olhando para o céu, sentindo-se estranhamente… satisfeito. Pela primeira vez em muito tempo, algo que ele fez realmente deu certo.
No entanto, esse breve momento de paz foi interrompido pelo som de armaduras se chocando.
De longe, um grupo de aventureiros se aproximava. Ao avistarem o dragão, pararam de repente, congelados de medo.
— Fomos chamados para a MORTE! — murmurou o líder da incursão de resgate.
Mas, antes que pudessem pensar em um plano de ataque, o dragão já estava longe.
Eles se entreolharam, confusos, e então viraram-se para Felix e seus amigos.
— O que... o que aconteceu aqui?
E assim, mais uma vez, as pessoas entenderam tudo ERRADO. Felix, o Fracassado, começou a ser visto de outra forma. Rumores começaram a circular sobre como ele DOMINAVA DRAGÕES e realizava proezas místicas além da compreensão.
Talvez… só talvez… Felix não fosse um fracasso total.
A volta para a cidade foi tranquila. Ao entregarem as ervas, o contratante da missão ficou boquiaberto.
—Vocês... vocês conseguiram essa quantidade de ervas em um só dia?! Isso é impossível! Como?!
— FELIX, O CURADOR MILAGROSO TEM SEUS MÉTODOS! — Grindor bradou, batendo no ombro de Felix com tanta força que quase desmontou suas articulações.
Lyra cruzou os braços com um sorriso.
— É verdade, nosso querido mago de habilidades únicas realizou uma proeza rara.
Felix estreitou os olhos. — Vocês estão me zoando, não é?
O contratante olhou para Felix com respeito e admiração.
— Então você é o tal… Curador Milagroso?
Felix abriu a boca para protestar, mas foi imediatamente cercado por aventureiros curiosos.
— Ei, ouvi dizer que um mago chamado Felix curou um dragão e fez ele ir embora!
— É verdade que ele pode conjurar feitiços de cura impossíveis?
— Eu ouvi que ele pode curar qualquer coisa, até mesmo maldições de mortos-vivos!
Felix olhou para Lyra e Grindor, que apenas sorriam maliciosamente.
— Por que vocês não negaram nada disso? — ele sussurrou, desesperado.
— Porque é divertido, — respondeu Lyra.
— Porque, se sua fama crescer, podemos cobrar mais caro por missões, — completou Grindor.
Felix colocou as mãos no rosto.
— Ótimo. Agora sou: Felix, o Fracasso, o Criador de Sabão e o Curador Milagroso... e nenhuma dessas reputações condiz com a realidade.
Ele suspirou.
— Bom... pelo menos ninguém morreu desta vez.
E assim, mais uma lenda absurda sobre Felix começava a circular pelo reino.
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Atualizado até capítulo 44
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