O rei dispensou-me com um gesto sutil, como se a conversa tivesse chegado ao seu fim. Eu me levantei devagar, sem olhar para ele, sentindo a tensão na sala. Minhas mãos estavam apertadas, e a última palavra dele ainda ressoava em minha mente, como uma ameaça velada. Ele sabia muito mais do que me deixava transparecer.
Ao sair da sala, encontrei Reagar e Kaelion esperando do lado de fora, ambos com olhares que mesclavam desdém e curiosidade. Não disseram uma palavra, mas a tensão era palpável. Eles sabiam que algo acontecera ali, e estavam ansiosos para descobrir o que era. Como se eu fosse uma peça em um jogo que eles não entendiam totalmente.
— Então, o que ele queria, Pérola? — Reagar perguntou, a ironia evidente em sua voz. — Imagino que tenha sido um papo agradável. Ou não?
Kaelion, com um olhar mais calculista, também não poupou palavras. — Vocês já trocaram segredos? Ou será que ainda tem algo para contar?
Eu os ignorei, meu corpo se movendo em direção ao corredor. O silêncio era meu único aliado naquele momento. Eu não estava disposta a dar nenhuma satisfação a eles. As perguntas, as provocações... Tudo o que eles queriam era um motivo para me atacar, para me diminuir. Mas não hoje. Não agora.
Quando passei por eles, pude ver a frustração em seus rostos. Ambos esperavam uma resposta, uma brecha para enfraquecer minha posição. Mas eu não me importava. O que o rei tinha me dito, aquilo era mais importante do que qualquer comentário venenoso dos príncipes.
Não respondi. O simples ato de ignorá-los parecia mais adequado do que qualquer palavra. Caminhei até a minha prisão — ou seria melhor chamar de quarto? Não importava. O lugar sempre me parecia uma prisão, não importa o quanto tentassem me convencer de que era algo diferente. A porta se fechou atrás de mim com um estrondo, como se o destino estivesse novamente me colocando em meu lugar, onde tudo era limitado e controlado.
Deitei-me na cama, o olhar fixo no teto. Meus pensamentos estavam longe. O rei tinha tocado em algo profundo dentro de mim. Algo que eu não estava pronta para enfrentar completamente. Ele sabia que eu guardava mais segredos, e talvez até já soubesse o quanto eu estava ligada àquele livro... Mas ele não sabia tudo. Ainda não.
Agora, a pergunta que ecoava em minha mente era: até onde eu estaria disposta a ir para manter o que restava de minha liberdade?
Demoraram mais ou menos três semanas para os preparativos de minha ida ao reino de Crystallia e para que toda a nossa mentira fosse organizada. Kaelion, como meu noivo, e Reagar, como seu irmão mais velho. Eu sabia que aquela era uma fachada, mas nada mais que isso. Não sabia o que o futuro reservava, mas, naquele momento, não passava de um simples jogo, e eu estava pronta para jogar.
Durante esse tempo, o rei insistiu que eu fosse tratada como uma dama. Queria que eu fosse preparada para quando chegasse à tal academia em Crystallia, para que não passasse vergonha. E, claro, o tratamento, com sua pompa e formalidades, já começava a me irritar. Mas o que o rei não sabia — e não faria ideia — era que eu já tinha cursado etiqueta. Meu antigo mestre se certificou disso, assim como me ensinou todas as armas que eu precisaria para me proteger neste mundo de aparências e intrigas.
Enquanto o rei ordenava que eu fosse treinada como uma dama, eu simplesmente sorria e seguia as ordens. Aquelas aulas de etiqueta que ele queria me forçar a tomar eram mais uma tentativa de me controlar, de me moldar para se encaixar na sua visão de como eu deveria ser. Mas, no fundo, ele estava apenas prolongando uma farsa, porque eu já sabia o que fazer. Meu mestre sempre acreditou que eu deveria ser mais do que apenas uma mulher bonita e decorativa. Ele me ensinou a ser útil em qualquer situação — e a etiqueta era apenas uma das ferramentas que ele acreditava que eu deveria dominar.
Por mais que as aulas de etiqueta fossem um fardo, eu sabia que tinha que continuar com a performance. A qualquer momento, o rei poderia observar, e eu não queria que ele visse que eu não estava cumprindo suas expectativas. Mas, em minha mente, eu já estava longe de tudo aquilo. Eu não era mais uma simples prisioneira. As peças estavam se movendo, e eu precisava me certificar de que o jogo que eu estava jogando tinha mais chances de me favorecer do que a ele.
Por mais que eu tentasse esconder a frustração, algo dentro de mim sabia que essa era a oportunidade que eu tinha para sair de seu alcance. E, de algum modo, isso me dava forças. O poder do livro ainda estava comigo, e eu sabia que, cedo ou tarde, ele seria a chave para eu finalmente escapar de todas as armadilhas que estavam sendo preparadas ao meu redor.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Elisiane Gomes
acho que ela é filha do rei de cristalia
2025-03-30
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