Senti o príncipe se aproximar de mim e, instantaneamente, o nervosismo tomou conta. Talvez ele fosse me bater. Meu corpo se encolheu involuntariamente, e eu fechei os olhos com força, esperando o impacto.
— Não seja patética, mulher. — A voz dele soou, fria e cortante.
Então senti sua mão levantar meu rosto, forçando-me a olhar para ele.
— Não se preocupe, Pérola. Não vou te agredir. Não me dou ao trabalho de me sujar com lixo. — Sua voz era venenosa. — Mas tenha certeza de uma coisa: se estiver manipulando meu irmão, terei o prazer de te executar imediatamente, assim como fiz com seu mestre.
Ele jogou meu rosto com força para o lado, me fazendo perder o equilíbrio.
Eu sabia que sua ameaça não era apenas palavras vazias; era um aviso claro.
— Você me entendeu? — Ele queria ter a certeza de que sua mensagem havia sido recebida.
— Sim, vossa graça. — Respondi imediatamente, a voz baixa e submissa. Ele realmente me desprezava, e eu podia sentir o peso disso em cada palavra que ele proferia.
Eu sabia que, se algo saísse errado, acabaria de volta no calabouço, ou, no pior dos casos, morta. O príncipe me lançou um olhar gélido antes de sair da cela, e eu senti o peso de suas palavras me esmagando.
O que ele fez, o que me disse, foi mais cruel do que qualquer agressão física. Ele me dava uma faísca de esperança que logo ia apagar, me lembrando da minha insignificância. Aqui, a crueldade era diferente, mais profunda. Não era apenas dor, era uma constante tortura emocional, uma luta entre a esperança e o desespero. Pela primeira vez, não queria morrer. A sensação de que ainda havia algo pelo qual lutar me atravessou como uma lâmina afiada.
O livro de meu mestre estava em mãos de alguém que poderia, talvez, me libertar. Se não fosse o caso, eu poderia me libertar sozinha, mas para isso, teria que dominar esse jogo de poder entre os príncipes. E para isso, precisava jogar muito bem. O problema é que o risco de ser morta por qualquer erro era real. Eles tinham motivos para duvidar de mim, e eu sabia disso.
A verdade era que, se não jogasse com cautela, poderia ser destruída de dentro para fora, como tantas vezes antes. Mas algo dentro de mim, uma faísca de determinação, me dizia que, se eu jogasse o jogo certo, talvez pudesse finalmente controlar o destino que parecia ter sido imposto a mim por tanto tempo.
Respirei fundo, tentando controlar a agitação que tomava conta de mim. Levantei-me e me aproximei de uma pequena janela na prisão, sentindo a brisa suave do vento em meu rosto. Depois de anos de escuridão, aquele toque fresco era algo que eu já havia quase esquecido.
Eu estava certa: saí de um buraco para entrar em outro. Mas, curiosamente, ali era um pouco mais limpo. O ar era diferente, ainda denso com a opressão, mas ao menos não tão fétido quanto o calabouço. Me deitei no chão frio, olhando para o luar. As estrelas estavam alinhadas de uma forma majestosa, como se o universo estivesse observando meu sofrimento com um olhar distante, impassível.
Por um momento, fiquei ali, perdida na beleza daquela visão, sentindo a conexão com algo maior que eu mesma. O silêncio da noite envolvia o lugar, e, quando dei por mim, meus olhos se fecharam, e a exaustão me levou para o sono.
Acordei com o som de um dos guardas jogando minha comida no chão. O barulho da panela batendo no piso frio fez meus olhos se abrirem imediatamente. A visão diante de mim era a de algo asqueroso, como se eu fosse um inseto ou um cachorro de rua. Pensando bem, até os cochos de porcos pareciam mais limpos. Mas, mesmo assim, eu estava faminta, e isso era o suficiente para me fazer engolir o desgosto.
Eu sabia o que era passar meses sem comer direito, selecionando cuidadosamente o que poderia ser ingerido. Aquela tigela com pão duro parecia uma verdadeira dádiva. Quando me agachei para pegar o que podia do chão, uma presença me fez hesitar. Olhei lentamente para cima, sentindo um frio na espinha.
Era o segundo príncipe.
Ele me observava sem expressão, e por um momento, não soube se aquilo era bom ou ruim. O silêncio entre nós se arrastava até que, finalmente, ele o quebrou.
-Termine de comer, logo em meia hora ficará mais apresentável para ver o rei.
Eu quase deixei a tigela cair, tamanha era minha surpresa.
-Oque, por quê?
Minha voz tremia, uma mistura de confusão e desespero. O que eu tinha feito de errado? Eu estava tentando ser útil, não fazer mais por eles do que já havia feito.
O príncipe, sem nem um pingo de piedade, disse:
-Que eu saiba, prisioneiros não têm direito de escolha. Está surpresa com o quê?
Eu engoli em seco, ainda sem palavras. O que eu tinha feito para merecer esse tipo de tratamento? Como as coisas tinham mudado tão rapidamente? Até ontem, eu estava literalmente na merda, e agora estava sendo tratada quase como se fosse alguém importante.
Só não entendo, vossa graça... por que o rei se importaria comigo?
Ele riu, mas não de forma amigável. Era um riso debochado, como se estivesse se divertindo com a minha ignorância.
-Ele não se importa.
Aquelas palavras caíram sobre mim como uma sentença. O rei não se importava? Mas então por que eu estava aqui? Meu instinto me disse que estava sendo usada para algum propósito, mas o que seria? Eu ainda não sabia, e aquilo me consumia por dentro. O que ele queria de mim?
Era difícil acreditar que tudo isso se resumia ao livro do meu mestre. Parecia óbvio demais, quase simples demais. O rei, os príncipes, todo esse tratamento diferente... algo mais estava em jogo aqui, e eu não estava conseguindo entender qual era a verdadeira razão. O que eles queriam de mim?
O livro era importante, sem dúvida, mas eu sabia que esse artefato poderoso não seria o único motivo pelo qual eu estava sendo mantida viva. Não havia uma explicação lógica para as constantes mudanças na minha situação. A prisão, as ameaças, a tentativa de manipulação... tudo isso não fazia sentido se fosse só sobre um livro. Algo mais estava em jogo. Eu precisava descobrir o que era.
A pergunta era: como fazer isso sem ser jogada novamente em um calabouço ou, pior, ser executada?
As criadas entraram na cela com um olhar impessoal, como se eu fosse apenas mais uma tarefa a ser cumprida. Elas não demonstravam nenhuma emoção ao me olhar, apenas eficiência em seus movimentos. Uma delas trouxe uma jarra de água morna, enquanto outra ajeitava as toalhas. Eu sabia que o banho não era apenas uma questão de limpeza, mas de mostrar que eu estava sendo preparada para algo, talvez uma audiência com o rei ou algum outro membro importante da corte.
Enquanto me lavavam, a água quente escorria pela minha pele suja, trazendo um alívio momentâneo. Sentia que, por um breve instante, estava sendo tratada como alguém com algum valor. Mas logo a realidade voltou a me invadir: tudo isso poderia ser apenas uma jogada para me manter sob controle.
As criadas me vestiram com um vestido simples, mas de qualidade superior ao que eu tinha usado antes. Não era luxo, mas definitivamente me fazia parecer menos uma prisioneira e mais uma pessoa que deveria ser respeitada.
Quando terminaram, me deixaram ali, sozinha por um momento. Eu me observei no pequeno espelho quebrado na parede. O rosto estava cansado, mas algo dentro de mim ainda se mantinha firme. A pergunta era, o que viria agora? O que o rei queria de mim?
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Atualizado até capítulo 50
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