Respirei fundo, sentindo o peso da situação. O colar ao redor do meu pescoço era um lembrete constante de que eu ainda era uma prisioneira, mesmo que agora estivesse em um quarto mais confortável. Mas isso também significava algo importante: eles precisavam de mim.
E eu pretendia usar isso a meu favor.
Se eu queria recuperar o livro do meu mestre e quebrar essa maldita coleira, precisava começar a agir.
A primeira coisa seria testar meus limites.
Fechei os olhos e concentrei minha energia, tentando invocar um pequeno fragmento de magia.
Nada.
Tentei de novo, dessa vez canalizando o fluxo de forma diferente. Uma leve pulsação surgiu na ponta dos meus dedos, mas desapareceu em seguida, como se algo sugasse minha energia antes que eu pudesse controlá-la.
Então era assim que funcionava…
A coleira não apenas selava minha magia, mas drenava qualquer tentativa de ativá-la.
Me afastei do espelho, frustrada, mas não surpresa.
— Isso vai ser mais difícil do que pensei — murmurei para mim mesma.
Me virei e caminhei até a cama, sentando-me na beirada. Precisava de um plano.
Eu precisava me adaptar, agora que minhas condições estavam começando a mudar. Em dois dias, o rei me chamaria novamente, e eu precisava me preparar ao máximo.
Decidida, estabeleci uma rotina para sair do sedentarismo. No dia seguinte, comecei com alongamentos para avaliar até que ponto meus músculos estavam atrofiados. Para minha surpresa, não estavam tão fracos quanto imaginei.
No entanto, quando testei minha força com algumas flexões, percebi que havia perdido bastante resistência. Isso seria um problema. Sem magia e sem força, eu estaria em uma posição vulnerável.
Respirei fundo. Tinha que recuperar minha resistência o mais rápido possível.
No meio dos meus exercícios, ouvi passos do lado de fora.
Imediatamente, me levantei e me organizei.
Não podiam me ver treinando. Eu já estava chamando atenção demais.
Os passos se aproximaram e, logo em seguida, a porta se abriu. Uma criada entrou carregando uma bandeja com o café da manhã, acompanhada por um guarda que a escoltava.
Olhei rapidamente para a comida. Pão fresco, um pedaço de queijo e uma tigela de mingau. Nada luxuoso, mas, comparado ao que eu comia no calabouço, parecia um banquete.
A criada evitava olhar diretamente para mim, apenas deixou a bandeja sobre a mesa e recuou. O guarda, por outro lado, me observava atentamente.
Peguei o pão e o parti em pedaços menores. O cheiro era bom, e a textura macia indicava que havia sido feito naquela manhã. Dei uma mordida, mastigando devagar. Meu corpo ainda estava se reacostumando a comidas decentes.
O guarda continuava ali, imóvel, analisando cada um dos meus movimentos.
— Vou ter que me acostumar com esse olhar o tempo todo? — perguntei, sem me dar ao trabalho de erguer os olhos.
O silêncio foi minha única resposta. Ele não se deu ao trabalho de falar, mas também não desviou o olhar.
Suspirei e continuei comendo.
Eles queriam me manter sob controle, mas não percebiam que, a cada concessão que faziam, me davam mais espaço para manobrar.
E eu pretendia usar isso muito bem.
Terminei de comer sem pressa, aproveitando cada mordida. Fazia anos que eu não tinha uma refeição decente assim, mas não podia me dar ao luxo de parecer impressionada.
Depois de beber um pouco da água servida junto com o café da manhã, me recostei na cadeira e olhei para o guarda. Ele continuava imóvel, firme como uma estátua, mas seus olhos não desviavam de mim.
— Então, é isso? Vai me vigiar enquanto como? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
Dessa vez, ele esboçou um sorriso de canto, mas não respondeu.
Ótimo. Mais um dos soldados arrogantes que se acham acima de qualquer coisa.
Levantei-me e empurrei a cadeira para trás, estalando os dedos das mãos. Meu corpo ainda precisava de muito para se recuperar, mas eu sentia que estava ganhando mais força a cada dia.
O guarda continuava ali, me observando.
— Você quer alguma coisa? — perguntei, cruzando os braços.
Ele finalmente abriu a boca, mas sua resposta foi seca:
— Apenas cumprindo ordens.
Ah, claro. Como se eu acreditasse que ele estava aqui apenas por isso.
Me aproximei da cama e sentei na beirada, ignorando sua presença. Precisava manter a mente afiada. Ficar entediada era o pior cenário possível.
Assim que terminei minha refeição, empurrei o prato para longe e me recostei na cadeira. Estava satisfeita, mas sem exageros. Comer bem era um privilégio que eu não tinha há muito tempo, mas não podia me dar ao luxo de parecer grata.
O guarda deu um passo à frente e falou com sua voz firme e monótona:
— Você vai tomar banho agora.
Arqueei uma sobrancelha.
— Ah, é mesmo? E se eu não quiser?
Ele não se abalou com minha provocação. Apenas apontou para a porta do banheiro com um gesto firme.
— Essas são as ordens.
Cruzei os braços, analisando a situação. Tomar banho não era um problema para mim. Pelo contrário, eu preferia estar limpa, mas o fato de ele estar insistindo nisso significava algo. Eles ainda queriam me manter em condições decentes. E isso significava que pelo menos eu teria o mínimo de higiene.
Suspirei, fingindo cansaço, e me levantei devagar.
— Tudo bem, guarda. Já entendi. Não precisa se preocupar, eu não vou fugir pelo ralo.
Ele não reagiu à provocação, apenas deu um passo para trás para me dar espaço. Caminhei até o banheiro e fechei a porta atrás de mim.
Antes de abrir a torneira, me olhei no espelho. Meu reflexo ainda parecia estranho. Era como se eu estivesse me vendo pela primeira vez em anos.
Toquei de leve no colar amaldiçoado em meu pescoço. Aquilo precisava sair de mim.
Mas, por enquanto, eu teria que jogar o jogo deles.
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Atualizado até capítulo 50
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