A outra criada, mais delicada em seus gestos, pegou um pente e começou a cuidar dos meus cabelos. Senti o toque suave em meus fios, que estavam emaranhados e sujos, agora sendo desembaraçados com paciência. O som do pente passando pelos fios quebrados e ressecados era quase uma sensação reconfortante, como se aquela pequena mudança fosse uma tentativa de me devolver parte da minha dignidade.
Eu observava o movimento meticuloso dela, o jeito cuidadoso como tratava meu cabelo, como se fosse algo valioso. Talvez, para ela, eu fosse apenas mais uma prisioneira que precisava estar apresentável
para alguma reunião com o poder. Mas, para mim, naquele momento, era como se cada gesto delas fosse um lembrete cruel de que, mesmo no pior dos momentos, o controle sempre se mostrava de uma forma inesperada.
Quando terminaram, eu me vi ali, com o cabelo arrumado e um vestido que não era o suficiente para me fazer sentir menos cativa, mas ainda assim, era um sinal de que algo estava se preparando, algo que eu ainda não compreendia completamente. Mas uma coisa era certa: o rei tinha planos para mim.
Eu olhei para ele, sentindo uma mistura de desconforto e confusão. Sua observação parecia mais uma forma de zombaria do que um elogio genuíno, mas ao mesmo tempo, não pude deixar de perceber que algo em sua postura havia mudado. Ele não parecia tão distante ou impessoal, mas ainda assim havia algo de arrogante na maneira como me avaliava, então ele disse:
_Parece mais apresentável.
-Obrigado, vossa graça- respondi, tentando manter a calma e o controle. Não queria mostrar o quão perturbada eu estava com toda a situação. Ele, por outro lado, parecia apenas se certificar de que eu estava em condições de ser apresentada, mas de que forma? Para que tipo de encontro? Eu não sabia.
Ele deu um passo atrás, sinalizando que era hora de seguir. _Vamos_disse ele, com um tom que não deixava espaço para recusa. Eu sabia que não tinha escolha, então apenas o segui, tentando ao máximo manter minha postura e não mostrar minha apreensão.
À medida que nos movíamos, o que antes parecia ser uma simples apresentação para o rei agora tomava contornos muito mais complexos, e eu não fazia ideia do que esperar desse encontro.
O segundo príncipe me observou de cima a baixo. Seu olhar, calculador e frio, passou de um exame cuidadoso para uma leve surpresa, quase imperceptível. Eu, por outro lado, estava igualmente surpresa, não só com a transformação que haviam feito em mim, mas também com a ironia da situação. Eu, uma prisioneira, agora sendo tratada com mais "cuidado" do que qualquer um poderia esperar.
"Eu também, príncipe, estou surpresa", respondi, tentando esconder a tensão da minha voz. Eu sabia que ele não precisava saber o quanto estava desconfortável com tudo aquilo.
Ele parecia indiferente, mas suas palavras quebraram o silêncio:
_Não se iluda só estou comprindo ordens-disse com uma expressão vaga, quase como se fosse um simples comentário sobre uma peça de vestuário que pode fazer o que quiser, e não sobre uma prisioneira que tinha acabado de ser retirada de um estado deplorável.
Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras e o que elas implicavam. Era óbvio que não era o que ele queria estar fazendo, mas uma observação pragmática. Ele me avaliava, como se estivesse ajustando peças de um quebra-cabeça que ainda não conseguia montar completamente.
Eu o segui sem questionar, meus passos ecoando levemente pelos corredores enquanto ele liderava o caminho. A tensão que sentia estava começando a se manifestar de forma mais intensa, como um peso crescente em meu peito. A mudança no comportamento do príncipe me confundia, e suas palavras, embora curtas, carregavam algo que eu não conseguia decifrar completamente.
A cada passo, meu cérebro tentava calcular possibilidades, tentar entender o que aquele encontro com o rei significava para mim. O fato de estar sendo tratada com uma preocupação repentina me fazia pensar que havia algo mais por trás disso, algo que ainda não estava claro. Eu não podia me dar ao luxo de ser ingênua, ainda mais agora, quando tudo parecia estar sendo manipulado por forças que eu mal começava a compreender.
-Por que está me levando até o rei?-, perguntei, finalmente quebrando o silêncio que se arrastava entre nós. Minha voz estava controlada, mas a ansiedade era palpável. Ele não respondeu de imediato, apenas olhou para frente, os olhos fixos em um ponto distante.
Ele finalmente falou, sua voz baixa, quase como se estivesse se permitindo uma rara franqueza. -Não sou eu quem decide. Há forças maiores em jogo.-
A resposta enigmática não me deu a clareza que eu esperava, mas, ao menos, me fez perceber que, de alguma forma, o príncipe também estava jogando um jogo que não controlava completamente. Se ele estava falando a verdade, isso só complicava ainda mais as coisas.
Chegamos a uma grande porta de madeira escura, guardada por dois soldados. O príncipe se aproximou e fez um gesto com a mão, indicando que eu entrasse. Quando a porta se abriu, o que vi lá dentro fez meu coração acelerar.
O rei estava sentado em um trono imponente, sua presença dominando a sala, e ao seu lado, um homem de aparência severa observava atentamente. O ambiente era pesado, carregado de um silêncio que quase fazia a sala parecer menor.
-Entre, prisioneira. Vamos ver o que você tem a oferecer-, disse o rei, sua voz grave reverberando na sala.
Fiquei parada por um momento, congelada pela dúvida. O tom do rei não me ajudava a entender se ele estava sendo irônico ou genuíno. Seus olhos, frios e calculistas, percorriam meu corpo de maneira desconfortante, como se estivesse analisando não apenas minha aparência, mas algo mais profundo, algo que eu não podia identificar.
-Eu... agradeço, vossa majestade,- respondi, tentando manter a compostura. A última coisa que queria era parecer vulnerável diante dele, mas minha mente estava a mil, tentando processar o que aquilo significava.
O rei deu um pequeno sorriso, mas era um sorriso vazio, sem calor. “Não se engane, garota. Eu disse que você era bonita, não que fosse inteligente. As duas coisas raramente andam juntas. Mas você tem algo... um charme sutil. Vamos ver até onde ele te leva.”
O comentário parecia mais uma provocação do que uma observação genuína, e aquilo me incomodou profundamente. Ele estava me medindo, tentando jogar com minha reação, talvez testando se eu cederia à sua manipulação. Tentei não deixar transparecer o quanto estava afetada, mas o desconforto ainda se espalhava pela minha pele.
O príncipe ao meu lado parecia impassível, mas seus olhos estavam atentos, observando o rei e, ao mesmo tempo, me analisando. Ele sabia, assim como eu, que aquele momento não era apenas sobre eu ser apresentada ao rei; era sobre o jogo de poder e controle que estava se desenrolando diante de meus olhos.
-Por que me trouxe até aqui, vossa majestade?- perguntei, minha voz firme, embora meu estômago estivesse revirado. Queria saber o que ele realmente queria de mim.
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Atualizado até capítulo 50
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