Entrei na cela sem dizer nada. O ambiente era simples, mas comparado ao calabouço, parecia até um luxo. Havia um colchão e uma privada. Pela primeira vez em anos, eu estava sendo tratada quase como um ser humano.
Então, uma voz inesperada interrompeu meus pensamentos:
— Espero que esteja melhor do que naquele lugar.
Virei-me e vi o mesmo homem do calabouço. Então, ele era o segundo príncipe. O observei sem demonstrar expressão alguma. Minha mente estava focada em uma única pergunta: por que eu estava ali?
O silêncio se estendeu por um momento, até que ele o quebrou:
— Seu nome é mesmo Pérola?
Não respondi. Apenas o encarei, mantendo-me na defensiva. Não era suficiente para me fazer falar.
Ele suspirou e, com um tom de impaciência, acrescentou:
— Olha, prisioneira, se eu realmente não precisasse de você agora, mandaria decapitá-la por não me responder.
Permaneci imóvel, observando-o. Eu ainda não sabia o que ele queria, mas também não podia abrir mão do meu controle.
Então, sua próxima frase fez meu coração parar por um instante:
— Seu mestre tinha um livro onde continha o seu poder.
Meus olhos se arregalaram. Agora sim, ele havia tocado em algo importante. Eu já imaginava que o assunto envolvia meu mestre, mas ouvir sobre esse objeto... isso mudava tudo.
O príncipe virou-se de costas e, por um momento, pareceu massagear a testa, como se estivesse cansado ou frustrado.
Foi então que, finalmente, rompi meu silêncio:
— Sim, ele tinha.
Minha voz soou firme, confirmando suas suspeitas. Quando ele se virou para mim, o fez lentamente, como se estivesse surpreso por eu ter respondido. Talvez, pela primeira vez, estivesse realmente me vendo.
O segundo príncipe me observou por um momento, seus olhos analisando cada detalhe meu, como se estivesse tentando decifrar algo.
— Onde está esse livro? — perguntou, sua voz controlada, mas carregada de expectativa.
Cruzei os braços, recostando-me contra a parede fria da cela. Ainda sentia o cheiro fraco de sabão em minha pele, um contraste gritante com os anos de podridão no calabouço.
— Se eu soubesse, acha que estaria presa por todos esses anos — retruquei, minha voz firme.
Ele apertou a mandíbula, claramente descontente com minha resposta.
— Então, o que sabe sobre ele?
Soltei um suspiro. O que ele queria era algo valioso, e eu não entregaria informações de graça. Ele pode ter me tirado do inferno do calabouço, mas ainda era meu inimigo.
— Sei que era um dos maiores tesouros do meu mestre. Sei que continha segredos e um poder que nem eu compreendia completamente. -eu menti eu sabia muito bem o que aquele poder podia fazer- E sei que, se alguém colocar as mãos nele, essa pessoa se tornara a mais perigosa do que qualquer um poderia imaginar.
O príncipe franziu a testa, pensativo. Sua expressão se suavizou levemente, mas ainda carregava a imponência de um homem que não estava acostumado a ser contrariado.
— Você era a mais leal seguidora do Lorde Demônio. Não me faça acreditar que não sabe onde ele escondeu algo tão importante.
Ri sem humor.
— Eu era uma seguidora, sim. Mas lealdade não significa ter todas as respostas.- Menti de novo não podia entregar tudo a alguém que nem conheço e pior era meu inimigo.
Ele me encarou em silêncio por um instante, depois se afastou, caminhando lentamente até a saída da cela. Antes de cruzar a porta, lançou-me um último olhar.
— Você vai me contar o que sabe, Pérola. Mais cedo ou mais tarde.
E então, ele se foi.
Fiquei ali, sozinha, com o coração acelerado. Ele queria o livro... Mas será que realmente não fui convincente. Fechei os olhos, tentando me lembrar dos últimos momentos ao lado do meu mestre. Algo me dizia que esse livro não estava tão longe quanto todos pensavam.
E se eu quisesse sobreviver, talvez fosse melhor encontrá-lo antes deles.
Minha conexão com a magia era praticamente nula, mas localizar aquele artefato não seria difícil. Afinal, fui eu quem o criou. Coloquei um terço do meu poder nele para amplificar as habilidades do meu mestre. Ainda assim, ele foi derrotado... e eu me rendi.
Nunca imaginei que aquele livro voltaria à tona depois de tanto tempo.
Sentei-me na cama, tentando encaixar as peças desse quebra-cabeça. O segundo príncipe estava preocupado com o livro. Isso significava que ele já estava em uso.
Isso era um problema.
Humanos não são capazes de suportar aquele tipo de energia. O usuário morreria.
Cruzei os braços, puxando os joelhos para perto do peito. Meus pés estavam frios, mas minha mente fervia em pensamentos. Eu precisava descobrir até onde esse livro já tinha sido usado.
Estava tão perdida nessas reflexões que não percebi a cela se abrindo.
— Espero que você colabore, prisioneira.
Levantei os olhos e, por um instante, meu corpo congelou.
Era ele.
O homem que matou meu mestre.
Alto, de corpo forte e esculpido como se os próprios deuses o tivessem moldado. Seus olhos verdes reluziam como esmeraldas afiadas, e os cabelos loiros curtos contrastavam com a barba por fazer. Seu rosto carregava uma expressão de puro desprezo.
De perto, percebi a semelhança com o segundo príncipe. Eles deviam ser irmãos.
— Não me olhe, lixo. — Sua voz saiu carregada de irritação.
Abaixei os olhos imediatamente. Eu não era tola o suficiente para provocá-lo.
Ele soltou um riso seco, quase divertido.
— Quase tive certeza de que você já estava morta. Mas, para minha surpresa, meu irmão descobriu que você ainda respira. Que reviravolta, não é?
Cada palavra carregava escárnio, como se a simples ideia de minha sobrevivência fosse uma afronta.
Já estava claro. Ele me odiava.
E eu sabia que homens como ele não odiavam sem motivo.
Aqui está seu trecho revisado e aprimorado para dar mais impacto e clareza à cena:
Não respondi. Fiquei imóvel.
Não sabia se deveria falar ou sequer o que dizer. Eu conhecia meu lugar naquela situação, e, francamente, se seus insultos se transformassem em agressão física, somados à raiva que transparecia em cada palavra, eu seria morta ali mesmo.
— Lixo, agora te dou permissão para responder algumas perguntas. — O desdém em sua voz deixava claro que, para ele, aquele era meu nome.
Assenti com a cabeça, sem ousar encará-lo.
— Se o livro estiver sendo usado, como saberemos?
Minhas suspeitas estavam certas. Alguém havia tocado no artefato.
Mantive a cabeça baixa e respondi:
— Tal poder se alimenta primeiro do ódio e do fracasso.
Ele franziu a testa, impaciente.
— Explique. — Sua voz veio cortante, carregada de irritação.
A raiva dele era tão grande que parecia odiar até o simples fato de eu falar.
Engoli em seco e tentei ser mais direta:
— A plantação morre. O reino entra em guerra. A violência aumenta. O usuário enlouquece... e morre.
O silêncio que se seguiu foi pesado.
Vi sua mão se cerrar em um pequeno soco. Ele não gostou do que ouviu.
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Atualizado até capítulo 50
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