A Prisioneira

A Prisioneira

Capítulo 1

Era imundo, era fedorento. O calabouço onde me colocaram há 7 anos era meu lar, se é que isso pode ser chamado de lar. Suas paredes de pedra úmidas, cobertas por uma camada espessa de mofo, exalavam o cheiro de decomposição e sujeira. O chão, de latas enferrujadas, estava coberto de fezes, urina e detritos, misturados em um terreno lamacento e pegajoso que grudava em minha pele cada vez que eu tentava me mover. As correntes em meus pulsos e tornozelos estavam enferrujadas e cortavam minha carne, fazendo mais feridas do que eu conseguia curar. Minha magia, minha única esperança de fuga, estava confinada a um colar que retinha toda a minha energia, como se fosse um mero adorno inútil. Não havia mais nada além da escuridão e do som abafado dos risos cruéis dos guardas, que me lembravam constantemente de que esse lugar só me restava a morte.

Os risos dos guardas me faziam o coração gelar, como se estivessem se divertindo com a minha dor. Eles se aproveitavam de cada momento de fraqueza minha. Um cheiro pungente de sujeira e sangue misturado invadia minhas narinas a cada respiração, e o calabouço parecia se alimentar de minha miséria. Em um canto escuro, o eco de meus próprios gemidos se misturava aos risos deles, como se o calabouço fosse um organismo vivo, sedento pela minha dor.

Um pedaço de metal no chão me chamou a atenção. Era uma lata velha, cheia de imundície, e logo percebi que ela fazia parte do cenário repulsivo que me rodeava. Eles jogavam em mim aquilo com a mesma indiferença de quem alimenta um animal enfraquecido. Eu era a diversão deles, um espetáculo diário de sofrimento. A única razão pela qual ainda não haviam feito algo pior era que eu fedia o suficiente para mantê-los longe, mas isso não era garantia de nada. Me virei, dando as costas a eles, e foi quando, com risadas rudes, jogaram toda aquela porcaria em minha direção. O cheiro era insuportável, a textura nojenta, como se quisessem me esmagar com o peso da minha própria humilhação.

Um dos guardas falou, com uma voz áspera e cheia de desprezo:

— Agora que já tomou seu banho, vai deitar, cadeia fedida.

Eu estava de costas, mas sabia que, se não obedecesse, ele me chicoteava, e eu não queria aquilo de novo. Deitei no chão frio, no único pedaço do calabouço que não estava coberto de excremento. Ali, naquele pequeno espaço, a sujeira parecia se acumular, mas não tanto quanto no resto da cela. Fechei os olhos, tentando esquecer onde estava, mas aquela era minha realidade, um pesadelo sem fim. Não havia mais nada a perder.

Ouvi passos vindo em minha direção. Não os reconheci, mas o tom de autoridade na maneira como ecoavam pelo calabouço me fez perceber que significavam problemas. Achei que finalmente seria minha sentença de morte, o fim da minha tortura, mas então, uma voz familiar cortou o ar:

— A prisioneira do Lorde Demônio ainda está viva?

Aquelas palavras soaram como um eco distante, reafirmando o que eu já sabia: tinham se esquecido de mim naquele lugar. Como se eu fosse nada mais que uma sombra, uma lembrança vaga. O guarda, com um tom indiferente, concordou e eu ouvi sua voz rascante:

— Ela está ali.

Aquela frase, dita de forma tão desdenhosa, como se eu fosse uma simples coisa em um canto sujo, me fez sentir uma mistura de desdém e indiferença, mas eu já não me importava mais. O desprezo, embora claro, já não me afetava como antes. Foi quando uma voz inesperada me surpreendeu:

— Pérola?

Fui tomada de um susto. Já fazia anos que ninguém usava meu nome. Sempre era "sua vadia", "sua cadeia", ou "coisas" ainda mais "asquerosas". Ouvir meu nome, claro e simples, foi mais chocante do que qualquer insulto que me jogassem. Eu congelei por um momento, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir.

Me levantei lentamente, meu corpo doendo a cada movimento. Olhei em direção à voz, e, ao ver a figura que se aproximava, meu coração deu um salto. Era um homem alto, com músculos definidos, olhos azuis penetrantes e cabelos loiros, quase dourados, que caíam suavemente sobre seus ombros. A luz da cela fazia com que seu cabelo brilhasse como ouro. Eu o reconheci imediatamente. Ele... ele era meu oponente. Lutei contra ele antes de meu mestre cair morto. Ele era forte, muito forte, e foi ele quem colocou esse maldito colar em mim. O que ele queria agora? Por que estava aqui depois de tanto tempo?.

Olhei para ele e, sem palavras, não consegui responder. Ele tampou o nariz, claramente incomodado com o fedor do calabouço, e disse, com uma expressão de desgosto:

— Esse lugar fede. Não quero falar com ela aqui.

Fiquei sem entender. O que ele queria conversar? Por que esse comportamento repentino? Ele olhou para os guardas, e com um gesto impaciente, ordenou:

— Dêem um banho nela e tragam-na para a prisão do palácio.

O quê? Não podia ser possível. Depois de todos esses anos, por que isso agora? Só me vinha à mente uma coisa: meu mestre. Só poderia ser isso. Mas, ainda assim, eu não conseguia entender o porquê.

Os guardas ficaram se olhando, claramente desconcertados, até que o homem, com um grito autoritário, os pressionou:

— Andem logo! Não estou falando com ratos, estou falando com vocês!

Eles deram um salto, apressados, para obedecer à ordem. Não os culpo. Nem eu mesma conseguia acreditar que, após todos esses anos, finalmente alguém pensava em me dar um banho... ou melhor, que eu iria sair desse buraco. Eu estava em choque, uma mistura de incredulidade e uma esperança distante, mas era real. Algo estava prestes a mudar.

Me jogaram quatro baldes de água fria, com um barulho que ecoou pela cela, e, com um movimento brusco, colocaram as correntes para que eu saísse da cela. Finalmente, acorrentada, me conduziram até um paredão frio e úmido. Ali, duas mulheres se aproximaram, e sem qualquer consideração, rasgaram minhas roupas com brutalidade. Não tive tempo para reagir. Com um gesto eficiente, elas despejaram três baldes de água com sabão, esfregando meu corpo com força. A água suja se misturava com a sujeira incrustada em minha pele, enquanto as mulheres continuavam a lavar.

Jogaram água limpa em seguida, e, a cada gota que caía sobre mim, a imundície parecia desaparecer, deixando minha pele nua e vulnerável, mas finalmente limpa. Uma das mulheres, com uma voz impessoal, me orientou a colocar as mãos de uma certa maneira, fazendo com que a pressão cortasse as unhas dos meus dedos das mãos e dos pés. Eu gemia de dor, mas não havia como evitar. Elas me esfregaram mais uma vez e depois enxaguaram tudo.

A sensação da água limpa sobre minha pele era tão diferente da podridão que carregava há tanto tempo. Eu não me lembrava de como era sentir isso. Meus cabelos, que antes estavam amassados e sujos, agora estavam limpos, apesar de ainda carregarem a marca de anos de descuido. Olhei para o lado e vi um vestido velho, sujo, mas parecia ser a única opção. As mulheres, sem qualquer cerimônia, pegaram o vestido e me ajudaram a vesti-lo, e claro que estava estranho eu estava sendo bem tratada, o que era tudo aquilo afinal. No entanto, percebi que um guarda não desviava os olhos de meu corpo nu. Um desconforto imediato percorreu minha espinha, mas não pude fazer nada. Coloquei o vestido o mais rápido possível, com pressa para cobrir meu corpo, pois eu não era um espetáculo. Assim que terminei, ele voltou a colocar as correntes em meus tornozelos e pulsos, com um gesto mecânico, como se fosse apenas mais uma obrigação.

Fui conduzida até a prisão do palácio, e, comparado ao calabouço, aquele lugar era puro luxo. O ambiente era bem mais arejado, as paredes estavam limpas e o ar parecia mais fresco. Um homem vestido com trajes oficiais me guiava, acompanhado por dois guardas que seguiam de perto, como se eu fosse uma ameaça iminente. Achei desnecessário, considerando que o colar que usava reprimia toda a minha magia, me tornando praticamente inofensiva.

Enquanto caminhávamos pelos corredores, analisei os trajetos. O homem à minha frente, em silêncio, parecia me observar de canto de olho, embora não dissesse uma palavra sequer. Quando chegamos à cela real, ele finalmente quebrou o silêncio e, com um tom impessoal, disse:

— Por gentileza, as mãos.

Levantei as mãos sem hesitar, e ele retirou as algemas com cuidado. Logo depois, se abaixou para retirar as algemas de meus pés. Eu olhei para trás, e os guardas estavam com as mãos firmemente sobre as espadas, prontos para agir a qualquer momento. Não era difícil perceber que aquilo era um teste. O mais lógico seria que eu mesma me virasse para retirar as algemas dos meus pés antes de me livrar das das mãos, mas, naquele momento, algo me dizia que ele estava me observando, esperando por uma reação específica.

A confirmação do meu pressentimento veio logo em seguida. Ele me olhou nos olhos, com um leve sorriso nos lábios, e disse:

— Que bom, está colaborando, senhorita.

Aquelas palavras foram ditas com um tom de aprovação, mas algo em sua expressão me fez desconfiar. Antes que eu pudesse reagir, ele completou:

— O segundo príncipe já vem falar com você.

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