Tentei ignorar o olhar de Reagar, afinal ele já havia deixado bem claro, na cela, o quanto me desprezava. Eu não podia permitir que isso me distraísse. A chance com o rei era a oportunidade que eu precisava, e eu não podia deixá-la escapar.
"Então..." O rei me olhou, seu olhar penetrante, esperando uma resposta.
"Pérola", respondi, tentando manter a voz firme, embora o desconforto começasse a me invadir.
Todos os olhares se voltaram para mim, e me senti exposta, como se tivesse cometido algum erro. A tensão no ar era palpável.
O rei riu, um riso baixo e quase cínico.
"Pérola... Símbolo de pureza e perfeição", ele disse, com um tom quase acadêmico. "Representa a beleza e raridade da joia. É considerada uma das gemas mais valiosas do mundo. Está associada a pessoas com uma personalidade delicada, elegante e de rara beleza."
Eu senti minhas bochechas queimarem de vergonha com aquele discurso. Era como se ele estivesse desnudando minha alma, sem nenhum pudor.
Mas, então, o rei suspendeu o riso e me encarou com mais intensidade.
"A pérola é formada através de sofrimento no interior de uma ostra, trazendo sua beleza na dor. Acho que isso combina mais com você", ele completou, sua voz carregada de uma ironia fina.
Aquelas palavras me atingiram em cheio. Ele tinha razão. A dor e o sofrimento haviam me moldado, e, de certa forma, minha beleza, se é que poderia chamar assim, tinha sido forjada nos momentos mais sombrios da minha vida. Eu não estava ali sem marcas. A morte e o sofrimento que causara, assim como a dor que carregava, haviam me transformado.
Encarei o rei com firmeza, percebendo onde ele queria chegar. Ele estava me avaliando, tentando entender o quanto da minha "pureza" era verdadeira, ou se minha beleza vinha apenas da dor que havia enfrentado. Eu sabia que esse era um jogo perigoso, mas eu estava disposta a jogar.
O ambiente ficou pesado. Eu sabia que o rei estava tentando manipular minhas emoções, testando os limites da minha resistência, tentando me reduzir a algo que ele pudesse controlar. E eu, como sempre, precisava me manter firme, sem demonstrar fraqueza.
O silêncio se arrastou por um momento. Reagar parecia irritado, mas Kaelion, o segundo príncipe, estava mais observando do que intervindo. Seus olhos estavam fixos em mim, como se tentasse decifrar se havia algo mais por trás da minha fachada. O rei parecia satisfeito com a minha resposta, mas eu sabia que ele não desistiria de me empurrar para um canto onde ele pudesse me manipular mais facilmente.
"Você pode achar que é uma pérola, menina", o rei disse, sua voz agora mais baixa, quase ameaçadora, "mas toda pérola tem um preço. Você está disposta a pagar?"
Eu mantive os olhos no rei, tentando não demonstrar nem surpresa nem medo. Tudo ali era uma provocação, um teste para me ver ceder. Ele queria ver até onde eu iria para conquistar a liberdade, ou para sobreviver.
"Todo preço tem seu valor, vossa majestade", respondi, tentando não mostrar que suas palavras me abalavam. "Mas, até agora, o único valor que reconheço é o meu próprio."
O rei arqueou uma sobrancelha, impressionado com minha ousadia. Ele parecia esperar que eu me curvasse ou me sentisse intimida, mas ao contrário, minha postura estava mais ereta do que nunca.
"Eu gosto da sua determinação, Pérola", ele disse, finalmente se inclinando na cadeira, de modo a me observar com mais atenção. "Mas lembre-se, minha querida, o que é valioso não permanece assim para sempre. Pode ser quebrado, corroído... ou perdido."
Eu não sabia o que o rei pretendia, mas sabia que ele estava me jogando em um jogo maior. Um jogo onde cada movimento poderia ser decisivo. A única coisa que eu tinha, nesse momento, era a minha mente afiada, minha capacidade de ler entre as linhas e aproveitar as oportunidades quando elas surgissem.
"Eu estou ciente de que não sou inquebrável, vossa majestade", respondi, mantendo o olhar firme. "Mas também sei que não sou descartável."
O rei sorria agora, mais um sorriso vazio, mas com algo mais, como se tivesse encontrado diversão na minha teimosia.
"Você vai me surpreender, Pérola", ele murmurou, antes de se recostar na cadeira. "E eu adoraria ver até onde você pode ir. Mas lembre-se: o jogo que estamos jogando pode ser fatal."
Eu sabia que aquilo era apenas o começo de algo muito mais profundo. O rei queria me fazer sentir que, apesar da minha aparência, eu ainda estava à mercê dele e de seu poder. Mas eu não estava tão certa disso. Eu tinha algo que ele não sabia ainda. Algo que, quando surgisse, poderia mudar tudo.
O tempo estava a meu favor, e enquanto ele acreditava que me tinha dominado, eu me preparava para mostrar que o jogo dele poderia ser perigoso demais para ele mesmo.
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Atualizado até capítulo 50
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