Eu entrei, acompanhada do irmão do segundo príncipe e de servos atrás de mim. O rei estava claramente me analisando de cima a baixo e, então, falou:
— Para uma assassina, você é muito bonita, garota.
Congelei. Aquilo era um elogio ou um insulto?
O rei permaneceu em silêncio por um momento, o sorriso esboçado desaparecendo à medida que ele ponderava sobre a minha pergunta. Seu olhar continuava frio e penetrante, mas havia algo mais ali, como se estivesse considerando a melhor forma de manipular a situação a seu favor. Ele se recostou em sua cadeira, observando-me com uma calma quase calculista.
“Ah, direto ao ponto. Eu gosto disso em uma mulher. O que eu quero de você, garota, ainda é uma questão em aberto. Você foi trazida aqui por um motivo, mas não pense que terá respostas fáceis. O que posso garantir é que não será um caminho tranquilo. Quem sabe, talvez você sirva para algo mais do que eu inicialmente imaginei.”
O rei inclinou-se ligeiramente para frente, seus olhos fixos nos meus, tentando quebrar qualquer defesa que eu tivesse, como se estivesse tentando me forçar a ceder ao medo ou à dúvida. Eu mantive a postura, apesar do desconforto crescente, sabendo que qualquer sinal de fraqueza poderia ser explorado contra mim.
O príncipe ao meu lado não fez nenhum movimento, mas sua presença era palpável, como se ele estivesse aguardando para ver qual direção o jogo tomaria. Eu podia sentir sua observação, sem saber se ele era um espectador ou um participante ativo dessa cena.
“Mas... você tem um certo valor, isso é inegável”, continuou o rei, com um tom mais suave, como se estivesse ponderando. “E eu gosto de manter pessoas úteis por perto, especialmente aquelas que sabem esconder suas intenções. Só o tempo dirá o que você pode realmente oferecer.”
Suas palavras estavam carregadas de um duplo sentido, e eu sabia que o jogo estava apenas começando. Não era apenas uma questão de minha aparência ou do que eu representava, mas o que eu podia fazer para garantir minha sobrevivência e, talvez, um lugar nesse novo enredo em que eu me via envolvida.
Eu estava cansada de tantos jogos. Precisava arriscar.
"Se entendo bem, majestade, você está com problemas. E ao que me parece, o livro do meu mestre sumiu da sua vista, e estão acontecendo coisas que fazem desconfiar que alguém bem próximo está usando-o."
O rei, que até então estava bebendo seu vinho, parou abruptamente. Seus olhos se estreitaram, e a tensão na sala se tornou palpável. Era como se ele estivesse processando o que eu acabara de dizer, tentando pesar minhas palavras e, mais importante, tentando decidir se eu realmente sabia o que estava acontecendo ou se estava apenas fazendo suposições.
A atenção dele estava totalmente voltada para mim agora, e a mudança em sua postura não passou despercebida. O tom de desafio na minha voz parecia ter captado sua curiosidade, e ele, um homem acostumado a estar no controle, claramente não gostava de ser pego de surpresa.
"Você fala do livro como se soubesse mais do que deveria", disse ele com a voz mais grave, seu olhar agora fixo e implacável. O vinho na taça continuava ali, esquecido, enquanto ele me estudava de perto. "Mas me diga, como uma prisioneira, você acha mesmo que tem algo de relevante a oferecer sobre esse assunto?"
O clima mudou de imediato. A sala estava agora cheia de uma tensão quase elétrica, e eu sabia que estava andando na linha tênue entre o sucesso e a ruína. Tudo dependia de como eu jogaria as próximas palavras, e eu não podia dar o braço a torcer.
Ótimo, era uma excelente chance, uma oportunidade perfeita. Mas, antes que eu pudesse aproveitar totalmente o momento, uma voz cortou o silêncio que tomava o salão.
"Pai, tenho certeza de que essa mulher só está se aproveitando da oportunidade."
Era o irmão do segundo príncipe. Ele estava claramente tentando minar minha credibilidade, sugerindo que eu estava enrolando o rei. A tensão aumentou instantaneamente.
"Reagar, o que quer dizer com isso?" O rei questionou, o tom de voz mais baixo, mas ainda assim autoritário.
Então, o nome do príncipe era Reagar. Que nome estranho, pensei, mas logo percebi que ele estava sendo bastante hostil comigo. Reagar não parecia disposto a me dar uma chance, e suas palavras eram afiadas, como se quisesse desacreditar tudo o que eu acabara de dizer.
"Como ela poderia saber de tais coisas, se esteve confinada e quase morta por sete anos?" ele continuou, sua voz carregada de desdém, apontando minha condição de prisioneira e ignorando por completo o que eu poderia ter percebido ou deduzido nesse tempo.
O ar estava carregado de tensão, e o olhar do rei se manteve fixo em mim, agora parecendo mais calculista, enquanto a oposição de Reagar parecia ser uma tentativa clara de me desestabilizar.
Mas, para minha surpresa, o segundo príncipe logo se manifestou.
"Irmão, fui até ela perguntando sobre seu mestre. Não acha que, se fosse realmente ingênua, ela não teria deduzido nada?"
Finalmente, alguém sensato que parecia compreender, pelo menos um pouco, quem eu realmente era. Não estava ali para ser uma simples peça no jogo deles.
O rei, então, interveio, quebrando o silêncio que pairava no ambiente.
"Afinal, ela não é tão ingênua assim, Kaelion."
Parece que o nome do segundo príncipe era Kaelion. Ele me olhou de cima a baixo, como se me avaliasse, e, com um sorriso sutil, disse:
"Parece que a ingenuidade está no meu irmão mais velho."
Reagar travou a mandíbula, e pude ver seus punhos se cerrando com força. Sua irritação era nítida. Ele parecia um homem prestes a explodir, e seu olhar agora era carregado de desdém, como se eu tivesse de alguma forma o exposto ao ridículo.
O silêncio que se seguiu foi pesado, tenso, como se todos estivessem esperando o próximo movimento de Reagar. Ele me olhou com um olhar cheio de ressentimento, como se eu fosse a responsável pela situação desconfortável em que ele se encontrava.
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Atualizado até capítulo 50
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