capítulo 15

Elise terminava de se aprontar quando escutou batidas incessantes em sua porta. Ela murmurou um entre abafado, ocupada em terminar de abotoar os últimos botões de seu vestido. Ainda não havia se acostumado totalmente com a ausência das criadas para ajudá-la, embora no fundo gostasse da liberdade e autonomia.

— Parece precisar de ajuda — Edgar disse lentamente. A voz do homem a pegou de surpresa. Elise não imaginou que fosse ele por trás da porta e sim uma das moças que a ajudava com tarefas mais, como o preparo de seu banho, a limpeza do quarto e outros afazeres que não incluíam o cuidado de sua aparência.

— Não tem necessidade… — Elise foi surpreendida com a visão refletida no espelho a que estava de frente. Atrás de sua figura, encontrava-se a de Edgar abotoando os botões de seu vestido. Ela engoliu em seco e murmurou um obrigado encabulado. Era difícil não olhá-lo de maneira diferente após a visão da noite anterior. A cada vez que fitava seu rosto, lembrava-se de sua expressão durante o ato, o corpo desnudo banhado pelo luar… Ela tentou se concentrar nos botões, mas a proximidade de Edgar tornava cada movimento desconcertante. Seu toque era impessoal, quase mecânico, mas mesmo assim fazia sua pele formigar. Será que ele sabia o efeito que tinha sobre ela? Ou estaria completamente alheio, como sempre parecia ser? A ideia era tanto um alívio quanto uma provocação.

— Preciso que me ajude a organizar alguns papeis — anunciou tomando certa distância, fazendo Elise se recuperar de seu estupor — alguns documentos se acumularam e preciso de uma ajuda para solucionar os de maior importância primeiro.

— É uma honra servi-lo, majestade — disse solicitamente, ela notou pelo canto dos olhos o desconforto de Edgar ao ouvir a saudação. Era nítido que ainda não se acostumara com o título.

Elise o acompanhou em direção ao escritório que se encontrava numa distância considerável. Durante o caminho trocaram algumas palavras amenas.

— Encontrou com seu irmão recentemente? — Edgar indagou quando estavam chegando ao seu destino, abrindo a porta para que Elise adentrasse no escritório. Seu coração tremeu e dúvidas começavam a atordoá-la. Será que Edgar havia descoberto alguma coisa relacionada à fuga de George? E se suspeitasse que ela estava ciente dos planos do irmão? O que seria de ambos?

Por mais que na noite anterior tivesse sentido raiva com o egoísmo aparente de George, ele ainda era o seu irmão e ela o amava. Não queria que ele sofresse as represálias de Edgar que certamente não seriam dóceis

— Não desde a última vez que me solicitou — respondeu de maneira controlada, tomando o cuidado para não entregar a mentira.

— Seu irmão está muito quieto e parece ter se contentado com o destino lançado. Precisamos fazer que ele se mova — Edgar disse, sentando-se em sua cadeira e gesticulando para que Elise se acomodasse no assento à sua frente. Ambos compartilhavam a mesma mesa atulhada de papéis.

— Eu sei, mas meu irmão não parece mexido com minha situação. Mesmo sofrendo as humilhações por ter perdido o prestigio, ele não parece inclinado a voltar atrás. Por que não tenta conversar com ele e entender o que o impede de assumir o trono? — sugeriu, pensando na possibilidade de ser absolvida daquela situação ridícula. Edgar pensou por alguns instantes antes de se pronunciar.

— Pensarei cuidadosamente a respeito, embora não creio que ele se abrirá comigo. A

— E quanto a Georgina e Rosélia? — Elise indagou. Os lábios de Edgar se compraram como se um pensamento desagradável tivesse surgido.

— Georgina se isolou no campo de Brish logo após o baile… — Elise não conseguiu deixá-lo completar a sua frase, a raiva fervilhava em seu sangue.

— E por que não fui informada antes? Já completa um mês redondo desde o baile.

— Não pensei que se importasse. Ela não é sua mãe de sangue — observou com certa frieza — quanto a sua mãe de sangue, Rosélia, não parece ter um lugar em seu coracao.

— Por que diz isso? — murmurou com certa desconfiança.

— Sei que conversou com o seu irmão, mas não foi atrás de sua mãe.

— Isso é uma crítica?

— Não, uma observação.

Elise ficou alguns segundos em silêncio, incomodada pela questão levantada por Edgar. Não era de sua conta sua relação turbulenta com a mãe, por que parecia mostrar tanto interesse? Certamente era para usar a seu favor.

— Se pensa que minha mãe pode ajudar…

— Rosélia não possui o poder e influência que precisamos no momento.

— Por que tanto interesse?

— Sempre me perguntei como foi a dinâmica familiar real. Sempre aparentavam uma família perfeita, mesmo o rei tendo duas esposas e filhos de mães diferentes.

— Isso nunca foi um empecilho para nós.

— Então você suportaria dividir o seu marido com outra esposa? — Edgar a encarava atentamente, como se esperasse sua resposta com certa ansiedade. Elise se remexeu inquieta e de imediato lembrou-se de Godfrey e Charlotte. Jamais conseguiria tolerar que o seu amado se envolvesse com outra paralelamente. O dia que isso acontecesse, seu amor viraria cinzas.

— Nunca — respondeu sem hesitar e Edgar abriu um sorriso lânguido como se já esperasse por isso.

— Não lhe parece minimamente intrigante que nenhuma das duas mulheres nunca demonstrou ressalvas contra a outra?

— Eu não gostaria de prosseguir com isso — respondeu seriamente. Parecia inapropriada tais comentários sobre a sua família, especialmente vindo de Edgar. O rei apenas deu de ombros, como se aquilo não tivesse qualquer importância.

— Você parece tão acostumada com certas ideias enquanto outras lhe são tão detestáveis, mas no fim uma e outra carregam o mesmo significado.

— Não entendo onde quer chegar com isso e qual a relação com o meu irmão — respondeu seriamente — Parece saber de algo que eu não sei — Edgar abriu um sorriso sem qualquer vontade.

— Apenas esqueça o assunto — sugeriu num murmúrio, pegando um papel, iniciando uma leitura extensa e demorada.

Era fácil para ele dizer tais palavras quando não era ele que tinha a mente atulhada de informações desconexas. O que ele queria dizer com tudo aquilo afinal? Por qual razão questionava sua relação com ambas as mães? Sabia de algo?

Ela sentiu que ele criticava o seu posicionamento perante Rosélia, mas talvez ele jamais a entendesse. Elise amava a mãe, contudo sua proximidade lhe deixava angustiada. Sentia que Rosélia exigia mais do que ela conseguia oferecer, sentindo-se insuficiente e, consequentemente, desapontando-a. Sem mencionar os planos grandiosos que desenhada para ela. Planos esses que não compartilhava o interesse.

Queria estar longe da corte, das intrigas, dos interesses e do cinismo, mas sua mãe a queria no cerne de tudo isso. Ela desejava que Elise fosse rainha. Aspiração de sua vida que jamais poderia se concretizar por suas origens simples.

Silêncio se seguiu enquanto ambos tinham a atenção voltada para as escrituras em suas mãos. O som de páginas sendo viradas e a ponta da pena sobre o pergaminho era o único barulho a ser escutado.

Passou-se um longo tempo antes que fossem interrompidos pelo bater incessante na porta. Antes mesmo de Edgar autorizar a entrada, Roderick entrava na sala seguido de Godfrey.

— Majestade, estamos com problemas entre os soldados. Iniciou uma briga e um deles decepou a mão do outro — Roderick anunciou alarmado. Ao avistar a figura de Elise, rapidamente ele fez uma reverência — oh, perdoe-me alteza, não tinha lhe visto.

— Não sou mais princesa — Elise o corrigiu educadamente.

— Isso é temporário — Edgar acrescentou, levantando-se de seu assento — me leve até o ocorrido — ordenou sendo guiado pelos cavaleiros.

— Devo acompanhá-lo? — Elise indagou, levantando-se de sua cadeira.

— Não, deve ficar aqui e segura — Edgar disse firmemente.

— Posso ficar com Elise e protegê-la — Geoffrey sugeriu de imediato. Edgar lhe lançou um olhar de cima para baixo e uma careta imperceptível se formou causando sulcos em sua face.

— Você é um dos soldados agora, preciso que venha comigo. Roderick, fique com Elise e a proteja até eu chegar — ordenou firmemente. O cavaleiro acenou em resposta, observando o rei e Godfrey saírem da sala silenciosamente. Elise lançou um olhar furioso para as costas de Edgar, que desaparecia pelos corredores extensos do palácio. Ele havia arrastado consigo algo inestimável: a chance de estar ao lado de Godfrey. Por que Edgar insistia em se interpor entre ela e o homem que amava? Sua presença era como uma pedra cravada no caminho, impossível de ignorar, causando dor a cada passo.

Era uma situação infeliz o fato de Godfrey não poder estar ao seu lado naquele momento. Tudo o que mais desejava era estar próximo do cavaleiro, passar uma quantidade considerável de tempo ao lado do homem que amava, contudo, a clara recusa de Edgar extinguiu qualquer possibilidade de um tempo a sós entre Elise e o seu amado cavaleiro.

Notando que não haveria mais interrupções, Elise retornou aos seus afazeres.

Roderick ficou a rodando silenciosamente, abrindo a boca uma ou duas vezes antes de Elise lhe perguntar gentilmente:

— Algum problema, Sir Roderick?

— Diga-me, Edgar tem maltratado você?

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Comments

Paola

Paola

Entendi foi nada, por que ele trouxe esse assunto? o que ele tá querendo

2025-03-10

0

Paola

Paola

Será que ele tá pensando em se casar com ela e mais outra? 🤔

2025-03-10

0

Paola

Paola

caraca que lapada seca

2025-03-10

0

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