capítulo 11

Elise se sentiu extremamente envergonhada com a clara recusa de Edgar aos seus biscoitos. Mesmo tentando controlar os seus próprios sentimentos, ser rejeitada daquela maneira era vergonhoso e até mesmo humilhante. Por qual razão Edgar não pôde nem ao menos experimentar um? Ou quem sabe expressar o seu contentamento com a ação? De todo modo, ela pretendia ignorar a situação e seguir com o planejamento do rei sem se envolver sentimentalmente. Ambos eram apenas sócios em um negócio lucrativo para os dois lados e não deveria se estender além do combinado. Quanto antes demonstrasse sua infelicidade e insatisfação, tão logo George reconsideraria e tomaria o trono de volta. Assim ela esperava, pois estava ansiosa para se ver livre das amarras de Edgar e seu temperamento difícil.

Por esse e outros motivos, a princesa estava refugiada entre as caldeiras altas fumegantes e massas folhadas a serem recheadas. Quando não estava ocupada com as exigências de Edgar, procurava na cozinha um ambiente familiar para se aconchegar. Uma das várias razões para gostar dali era porque sempre foi bem recebida e tratada pelos empregados, sendo o único lugar em que não recebia olhares de pena ou de um divertimento mordaz.

Do tempo em que ficou refugiada no lugar, aprendeu receitas diversas e, vez ou outra, compartilhava descobertas em livros antigos ou de outros países que sempre eram muito bem recebidas pelos cozinheiros que tinham um carinho especial por Elise e sempre garantiam que seu estômago estivesse cheio com suas comidas prediletas.

Estava quase no horário do chá da tarde e a cozinha era uma agitação constante de empregados entrando e saindo em busca de guloseimas para servirem os nobres. Logo seria a vez dela sair. A ideia não era nem um pouco animadora, contudo era preciso que fosse vista fazendo tais tarefas, queria acelerar o processo de sua emancipação.

Edgar não tinha o hábito de se empanturrar com guloseimas, mas nunca dispensava lanches e, principalmente, o chá preto sem açúcar. Talvez o amargor fosse para combinar com o seu coração sem qualquer doçura.

A princesa montou em uma bandeja prateada com tudo o que julgou ser do agrado de Edgar, levando-a ao gabinete real. Durante o caminho, seus pensamentos voavam longe, direcionando-se ao seu querido e adorável cavaleiro. Fazia muito tempo desde a última vez que se encontrou com Godfrey. Onde ele estaria naquele momento?

Suas divagações foram interrompidas quando sentiu o seu braço ser chocado brutalmente com outro. Algumas massas folhadas caíram no chão e um pouco de chá respingou em suas mãos.

— Preste atenção por onde anda! — uma voz irritadiça se dirigiu a ela.

— Desculpe-me pelo pequeno incidente — murmurou, abaixando-se para recolher o que havia caído. Quando estava prestes a pegar a última massa, Elise sentiu seu pé ser esmagado pela bota suja da pessoa a qual esbarrou.

— Isso não é um pedido de desculpas decente. Olhe nos meus olhos e peça desculpas — ordenou enfaticamente. A princesa engoliu em seco, tentando conter a raiva dentro de si. Se ao menos gozasse de algum prestígio…

— Desculpe-me — disse, erguendo os olhos para encarar a figura acima de si. Era uma mulher esbelta de cabelos loiros e sardas despontando do nariz. Era Charlotte. A jovem dama sorriu e tirou o pé de cima da mão de Elise.

— Parece que se acostumou com a ideia de ser uma empregada — observou divertidamente.

— Estou apenas fazendo o que me é ordenado — respondeu, ainda agachada.

— Não deve responder alguém da nobreza com um tom insolente, lembre-se de seu lugar — frisou, com um sorriso mordaz em seus lábios avermelhados.

— Parece adorar assistir minha queda — Elise observou — pensa que mesmo me tornando uma simples empregada isso a coloca acima de mim, mas está enganada.

— Existe uma diferença entre o que é suposição e o que é fato. Fato é que você não é mais alguém de renome, voltando para suas origens de nascença. Sua mãe deve estar decepcionada, não adiantou nada se vender para o antigo rei… — as palavras zombeteiras de Charlotte foram silenciadas quando a aristocrata recebeu um tapa de Elise. A ação foi inesperada tanto para a dama quanto para a própria princesa, que recolheu a mão, em choque.

Ela havia se descontrolado. Seu coração começou a bater freneticamente. Uma dama jamais levantava a mão para bater em alguém, esse foi o primeiro ensinamento que recebeu em sua vida. Já podia sentir o olhar depreciativo de sua mãe sobre si.

A única coisa que desejava naquele momento era fugir dali rapidamente. Elise recolheu a bandeja e se afastou com grande velocidade, contudo ainda estava perto o bastante para ouvir a voz esganiçada de Charlotte ao fundo que gradualmente tomava consciência do que havia acontecido.

— Vai me pagar por isso — gritou aos berros, sua voz se desvanecendo por entre os corredores.

Elise praguejou mais de mil vezes em sua mente. Como poderia ter se descontrolado de maneira tão desavergonhada como aquela? Se sua mãe descobrisse…. Contudo, lá no fundo, uma vozinha inquietante a parabenizava pela ação bem merecida à Charlotte. Afinal, desde sua queda, não fez outra coisa que não debochar de sua situação e depois realizou o maior agravante de todos: ofendeu ao seu pai falecido e sua mãe. Não podia deixar que saísse impune.

Elise chegou no escritório de Edgar com a cabeça baixa, reprimindo-se o tempo todo pelo seu descontrole momentâneo e tentando silenciar aquela voz em grande algazarra. Ela depositou a bandeja em cima da mesa de madeira mecanicamente e silenciosamente. Estava prestes a sair quando escutou a voz de Edgar ressoar:

— Elise, pode me servir um pouco de chá? — pediu, os olhos ainda voltados para uma papelada qualquer. Elise engoliu em seco. Pensou que houvesse sido silenciosa o bastante para não ser notada.

Puxando o fôlego para manter o controle ao qual havia perdido poucos minutos antes, a princesa preparou a xícara de chá preto,despejando o líquido quente que emitia um aroma terroso e amargo que estava longe de ser o seu preferido. Enquanto terminava de aprontar a bebida solicitada, Edgar acrescentou, com um tom natural e irrelevante:

— A propósito, os biscoitos de ontem estavam deliciosos, muito obrigado.

Elise parou subitamente a ação, sentindo o seu rosto corar. Por alguma razão, sentia-se feliz com o elogio de Edgar e, internamente, sentia raiva de si mesma pela maneira como reagiu ao elogio. Tentando conter sua excitação, ela pegou a xícara em mão e respondeu educadamente:

— Fico feliz que tenha gostado, é uma receita de família. Minha avó me ensinou quando pequena.

— Nesse caso, me sinto ainda mais honrado por ter experimentado uma receita tão especial — respondeu suavemente, o mesmo tom que usava quando tentava ser gentil. Desta vez, Elise não conseguiu conter o sorriso que se desenhou em seus lábios, tentando contê-lo a todos custo. Sentia-se uma idiota por ser facilmente persuadida. Ela gostaria de ser mais áspera e resoluta, contudo parecia uma tarefa quase impossível.

Ansiosa para sair dali, caminhou com certa pressa em direção à escrivaninha para servir Edgar. Estava muito próxima da mesa quando, por alguma razão, escorregou no chão. Seu corpo se projetou para frente de maneira que caiu de barriga para baixo nas coxas de Edgar, que, em um reflexo rápido, ergueu as mãos para cima evitando que Elise quebrasse o seu braço com o impacto de seu corpo. A xícara se espatifou no chão e o líquido quente e preto sujou o piso de cerâmica. Naquele mesmo instante, a porta se abriu repentinamente.

— Edgar, as correspondências do sul chegaram e…

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Comments

Paola

Paola

cara, essa princesa para lutadora de UFC KKKKK bateu no rei, bateu no irmão, bateu nessa daí, ela não perdoa ninguém, slc KKKKKKKK

2025-03-10

1

Paola

Paola

Nossa, ela ficou realmente chateada kkkkkkk

2025-03-10

0

Paola

Paola

mas gente, o que que aconteceu aqui???

2025-03-10

0

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