George estava instalado nas imediações mais inóspitas do palácio. Estava próximo das celas e dos estábulos com uma visão desprivilegiada do esterco. O cheiro era, na melhor das hipóteses, desagradável para não dizer pior. Pelo pouco que sabia através dos murmúrios dos empregados, Edgar havia revogado a decisão da expulsão optando por deixar sua família em uma situação desconfortável e sem qualquer privilégio.
Elise franziu o nariz ao adentrar nos aposentos do irmão. Sua aparição repentina o pegou desprevenido e ela o viu esconder alguns papeis.
— Eli? Que surpresa agradável — disse no seu sorriso mais encantador. Elise franziu o cenho não se deixando enganar pela voz melódica do irmão.
— O que está escondendo de mim, George?
— Absolutamente nada… — George respondeu no seu tom mais inocente. A princesa não sentiu convicção em sua fala e se aproximou da mesa — O que está fazendo? — antes que pudesse ter qualquer reação, Elise tomou os papeis que outrora estavam abertos sob a escrivaninha antiga que rangeu ruidosamente com a movimentação. George reclamou tentando se aproximar da irmã com os seus pertences.
— Devolva isso — pediu num tom furioso ignorado por Elise que correu pelo quarto, Com muita dificuldade, ela conseguiu desvendar o significado por trás das imagens e palavras cravadas no pergaminho. Não havia sido fácil, especialmente ao ser perseguida pelo irmão que estava furioso. Foram segundos que se passaram até ele alcançá-la e tomar o papel de suas mãos, mas já era tarde demais. Ela já havia lido o conteúdo descobrindo se tratar de um mapa do reino com rotas traçadas em linha vermelha e visível.
— Então é isso? Pretende fugir como um covarde e deixar sua família? — o enfrentou com a voz embargada pelas lágrimas de raiva. George abaixou os olhos.
— Você não entenderia.
— É claro que entendendo. Até demais. Seu egoísta mimado! — exclamou desferindo tapas no irmão — só pensa em si mesmo, nas suas vontades e sonhos. E os meus, George? Será que sou tão inferior a ponto de não merecer ser feliz? Você está sacrificando a sua família…
— E porque eu deveria me sacrificar? — explodiu — porque eu deveria ser o que não sou para que você viva o seu conto de fadas perfeito? Diz que sou egoísta, mas é tanto ou mais do que eu. Se por acaso não tivesse se tornado uma criada no palácio após a coroação de Edgar, certamente não se oporia aos meus planos — a acusação de George a pegou desprevenida e Elise se viu sem palavras. Não parecia haver qualquer raciocínio em sua afirmação, eram situações completamente diferentes. Ela se distanciou, com o olhar ferido.
— Talvez tenha razão. Ainda assim, não sou a única a sofrer com as consequências de suas escolhas. Nossas mães são alvo de zombaria, nossa família está sendo rechaçada pelo povo e a única coisa que pensa é em si mesmo.
— Se está tão irritada com a situação porque não abre as pernas para Edgar e se torna rainha? Certamente essa zombaria se extinguiria — suas palavras de deboche haviam ido longe demais. Elise o esbofeteou com o punho fechado. A força empregada foi o suficiente para fazer o rosto do irmão girar violentamente para o lado e respingos de sangue cair no carpete.
— Não sou uma de suas prostitutas, não me confunda com elas, George — as palavras de Elise saíram duras e sérias. Apesar da raiva que sentia, a mágoa esbravejava em seu coração e lágrimas começavam a querer escapar. Ela precisava sair dali, não aguentaria ficar um minuto a mais na presença daquele que lhe apunhalou pelas costas. Com pressa, Elise saiu dos aposentos do irmão, mas ainda estava perto o suficiente para escutá-lo esbravejar:
— Deveria ter deixado que dançasse nua na frente de todos.
Elise correu para longe, sentindo os olhos queimarem com as lágrimas incontroláveis que desciam. Quanto mais humilhação deveria passar naquele lugar? Até mesmo seu próprio irmão caçoava dela. Já não era mais respeitada como a princesa de Lindore. Era alvo de chacota e risos constantes.
Em busca de um lugar que pudesse se reconfortar, entrou em seus próprios aposentos, não os de quando era princesa, mas de quando se tornou uma criada. A empregada do novo rei.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 58
Comments
Paola
nossa, mas o povo que construiu o castelo fez de propósito ein kkkkk
2025-03-10
0
Paola
não acredito que ele disse isso
2025-03-10
0
Valentina Valente
Eles têm duas mães???
2025-03-21
0