— Esses biscoitos são para o Edgar? — Elise abaixou o olhar e continuou sua jornada — não acredito que você faz biscoitos para ele e não para mim — protestou furiosamente, contudo sua raiva rapidamente se dissipou e foi substituído por genuína curiosidade — está apaixonada por ele? Já esqueceu o cavaleiro? Não pensei…. — George foi calado por uma massa de biscoito em sua boca posta por Elise que retomou o seu caminho sem a presença do irmão a perturbando.
Ela podia sentir em suas costas o olhar de julgamento. Não poderia criticá-lo por isso. À primeira vista, Edgar não merecia tanto empenho de sua parte, contudo… Os eventos recentes mostravam que talvez erguer a bandeira branca e mostrar um pouco de gentileza parecia a escolha acertada e era o que o seu coração mandava.
A princesa bateu suavemente na porta, aguardando por uma resposta. Edgar murmurou um abafado, mas sonoro “entre”. Assim Elise o fez.
Edgar tinha o rosto enfiado em meio aos papeis que lia atentamente, riscando e distribuindo carimbos em alguns. Assim que notou a presença da jovem, ergueu o olhar.
— Elise? O que está fazendo aqui? Não me lembro de ter pedido chá — indagou com o cenho franzido e pensativo.
— De fato, não pediu. Eu quis te entregar algo assim como você me entregou os doces ontem — respondeu suavemente, deixando a bandeja na mesinha de vidro próximo. Em seguida virou-se para Edgar, unindo as mãos em frente ao corpo — sei que é algo simples, mas preparei os biscoitos com muito carinho — disse orgulhosamente.
— Agradeço pela sua gentileza — respondeu voltando os olhos para a pilha de papeis — pode se retirar — disse num murmúrio seco. A princesa o encarou com certo desapontamento. Não esperava por tal reação. No mínimo pensou que ele ao menos experimentasse os biscoitos. Ela se sentiu uma tola.
— Espero que goste dos biscoitos — disse num muxoxo triste e saindo do cômodo. Ao fechar a porta, seus dedos apertavam a barra do vestido. Por que esperava mais dele? Deveria saber que Edgar jamais notaria um gesto tão insignificante.Naquele momento, Elise podia escutar a voz risonha do irmão caçoando de seus esforços. Talvez tivesse sido melhor ter entregue a bandeja para George.
Edgar não a respondeu, os olhos ainda voltados para um papel em suas mãos.
As notícias que recebia não eram nada animadoras e tudo o que poderia pensar naquele momento era como detestava George por tirá-lo de seu território. Bárbaros haviam saqueado uma das cidades do ducado, estuprado mulheres e queimado todos, não restando nenhum sobrevivente com a exceção de uma criança que se refugiou em suas terras, recebendo a sua proteção. Se ao menos não estivesse tão longe…
Havia uma única escolha a ser feita. Se George persistisse com a ideia, teria de nomear alguém para lhe representar no norte. Não era uma decisão fácil a ser tomada, especialmente porque a ideia de permanecer longe de suas terras por tanto tempo o deixava inquieto. Ele amava o seu lar e detestava a capital com todas as suas forças, bem como todos os outros duques do norte.
O rei escreveu um documento, selando-o com cera e o carimbando com o emblema real, tornando-o um documento incontestável e oficial.
Edgar soltou um suspiro ao encarar os papeis desordenados a sua frente, não havia chegado nem na metade… Seus olhos cansados se ergueram e se depararam com a bandeja de biscoitos. No mesmo instante lembrou-se da figura tímida de Elise retraindo-se enquanto entregava os doces.
O rei se levantou, aproximando-se da mesa para pescar um biscoito decorado com glacê em formato de flores amarelas, vermelhas e azuis. Ele mordeu, sentindo a maciez e a crocância em perfeita harmonia. Era doce, mas suave e nem um pouco enjoativo. A massa amanteigada derreteu em sua boca e sem que percebesse, o rei, que nunca gostou de doces, havia devorado metade da bandeja. O restante ele levou para a sua escrivaninha, pescando um ou outro enquanto se ocupava com os documentos e relatórios pendentes.
Já era fim do dia quando Edgar se espreguiçou em sua cadeira e resguardou-se em seus aposentos. Ele sabia que se fosse ao salão de banquetes o encontraria atulhado da aristocracia de Lindore fartando-se de pratos suculentos e requintados. Ele detestava o barulho assim como detestava toda a nobreza, sendo o seu quarto o melhor aposento de todo o palácio onde preferia a solitude e o silêncio.
Quando chegou, deparou-se com a mesa posta e o jantar à sua espera. Mesmo com os biscoitos no estômago, era um homem de grande apetite. Sem pestanejar, sentou-se sob a mesa, servindo-se com fartura dos alimentos dispostos.
Enquanto se empanturrava com o seu jantar, os pensamentos de Edgar foram longe, direcionando-se a princesa que o servia como empregada. Elise o surpreendia cada vez mais. Sua brandura e amabilidade era o apoio que tanto precisava nos momentos de tensão e conflito. O norte tinha suas belezas, mas nem por isso deixava de ser frio e solitário. Se Elise estivesse ali com ele, certamente tornaria as manhãs de inverno mais alegres do que as de primavera…. Edgar balançou a cabeça tentando expurgar os pensamentos que o dominavam.
Mas que tolice estava pensando? Estava claro que Elise jamais o desejaria, ele era um homem frio e insensível, como alguém que parecia reluzir como o sol, com sua doçura e gentileza poderia sequer considerá-lo como marido? Não deveria divagar tanto, seria apenas uma ilusão alimentada por ele mesmo.
Edgar lançou um olhar de dúvida para a porta de Elise, deveria dizer o quão deliciosos estavam os biscoitos? Talvez seria melhor não importuná-la com sua presença. Ela o odiava desde sempre.
Se lembrava bem do primeiro momento em que se encontraram. Elise era o vislumbre de uma boneca de porcelana que parecia ter saído de uma casa de brinquedos. Seus modos eram mecânicos e controlados. Era difícil olhar para ela sem sentir um estranhamento. Uma menina tão jovem e tão controlada era um grande contraste. Talvez parte da culpa se devia à duquesa por seus métodos de educação rígidos. Estava nítido que Elise sempre detestou o norte e por consequência o próprio Edgar, pois ele era o norte, o lugar onde a princesa de Guiness mais detestava no mundo.
O único a quem Elise mostrava sorriso e sua gentileza era o cavalariço. Edgar avistava ao longe os dois brincando e conversando. Nesses momentos, Elise era apenas uma jovem doce e gentil. O homem a quem ela nutria sentimentos profundos e escancarados. Sentimentos esses que ninguém jamais nutriria por ele, afinal ele era Edgard Hundemberg, o duque do norte, o homem mais insidioso de todo o reino.
O rei voltou para o seu prato ainda na metade. Havia perdido o apetite.
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Atualizado até capítulo 58
Comments
Paola
Aí gente, tô começando a ficar com dó dele
2025-03-10
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Paola
Pera lá, o rei tá se apaixonando por ela? É isso mesmo?? 😶🌫️
2025-03-10
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Paola
caraca, não esperava por essa não. Cara ingrato
2025-03-10
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