Era tarde da noite quando escutou a movimentação no quarto de Edgar. Apesar de seu cansaço e seus sentimentos melancólicos, a movimentação repentina do homem a deixou curiosa. Por qual razão Edgar havia passado tanto tempo fora? Elise comprimiu os lábios lembrando-se das palavras crueis de Charlotte. Certamente, a ideia de reinar já não parecia tão abominável para Edgar que não mostrou-se hesitante ao tomar as rédeas do reino.
Tentando conter os seus receios, Elise se levantou furtivamente e abriu levemente a porta, originando uma fresta pela qual espiou a figura do rei.
Ele segurava uma caixa em suas mãos, observando-a atentamente. O rei tinha uma expressão cansada em seu olhar, contudo um pequeno sorriso fugaz desenhava-se em seu rosto. Elise nunca o viu sorrir daquela maneira. Perguntou-se quais eram as boas novas que o deixavam tão feliz. Talvez George tivesse decidido retomar o poder? Tal ideia a encheu de esperança.
Edgar deixou a caixinha em cima da mesa de alabastro, servindo-se do vinho sempre à sua disposição. Ele bebeu um gole e então começou a tirar o paletó, revelando uma blusa de linho que contornava os seus músculos definidos. Era impressionante como os anos haviam transformado um rapaz magricelo em um homem alto e forte. Por um pequeno momento de descuido, Elise se desequilibrou, abrindo mais a porta e revelando sua presença. Com rapidez, corrigiu a postura, colocando as mãos em frente ao corpo.
— Deseja alguma coisa, majestade? — indagou modestamente, torcendo para que não notasse que estava sendo espionado. Ele desviou o olhar em sua direção e uma expressão estranha substituiu o sorriso. Ao que parecia, não estava feliz com sua presença.
— O que aconteceu com você? — sua pergunto a pegou desprevenida. Elise tocou o rosto. Estava inchado e certamente avermelhado devido ao choro. Ela desviou o olhar.
— Estava dormindo — mentiu. Ao que parecia, aquilo não foi capaz de convencer Edgar, mas ele optou por ignorar.
— Não precisava acordar para me receber. Na próxima vez, não faça isso — solicitou asperamente. Elise abaixou o olhar, mordendo o lábio inferior. Bem, era melhor receber uma bronca por acordar do que por estar espionando. Elise escutou passos se aproximando e então ergueu o olhar para se deparar com a figura de Edgar a sua frente estendendo a caixinha que segurava minutos antes na sua direção — trouxe algo para você da capital. Sei que não tem sido fácil e tenho certeza de que não sou a melhor pessoa para lidar, mas… Aqui — após suas palavras emboladas ele entregou o embrulho a Elise. Era um sinal claro e evidente de desculpas, coisa que certamente Edgar era terrível em fazer. Se desculpar. Seu orgulho e temperamento difícil o impedia de admitir os próprios erros, mas ali estava ele, lhe oferecendo um pedido claro de desculpas por meio de um presente. Elise sorriu e pegou a caixinha. Era o máximo que poderia esperar de sua pessoa.
— Isso… É para mim? — indagou, estupefata observando o embrulho em suas mãos. Edgar virou o rosto para o lado, claramente constrangido.
— E para quem mais seria? — retornou, procurando na taça de vinho algum conforto. Elise abriu um largo sorriso, se fosse um pouco mais próxima de Edgar, certamente o teria abraçado.
— Muito obrigada — agradeceu e em seguida indagou, solícita — gostaria de alguma coisa?
— Sabe que quando estou em meus aposentos tenho os meus criados para me servir. Você pode descansar.
Após a dispensa, Elise se retirou com pressa para seus próprios aposentos. Estava envergonhada pelo seu atual estado e, principalmente, por ter espionado Edgar. Repreendeu-se por isso. Certamente, se fosse o contrário, o detestaria por violar sua privacidade. Prometendo a si mesma que não repetiria a ação, Elise se deitou na cama.
Em suas mãos, ainda estava a caixa envolta de papel seda. Seus dedos pressionaram contra o embrulho de tecido leve e suave. Enquanto seus olhos curiosos observavam com atenção o presente, sua mente divagava sobre o que deveria fazer. Abrir ou não abrir? Se o abrisse, estaria aceitando as desculpas de Edgar, estando disposta a apagar o que havia acontecido. Entretanto… Seria impossível esquecer as humilhações e, principalmente, a situação desfavorável que estava graças ao próprio Edgar.
Talvez tivesse deixado de lado o embrulho numa clara objeção à tentativa do homem de se desculpar com ela, mas não conseguiu. Sua mente refletia no desabafo de Edgar. Ele tinha seus medos e receios, mas não podia externalizá-los, assim como Elise. Ambos tinham mais em comum do que o esperado e por essa razão, ela não conseguia tratá-lo com a indiferença e rebeldia merecidas.
Ela devaneou para o dia em que tudo aconteceu. O desastroso banquete. Era algo memorável. O rei que havia humilhado Elise durante o festejo parecia completamente diferente deste que oferecia um presente como prova de seu arrependimento. Também não poderia se esquecer de seu desabafo que acabou atingindo Elise, compreendendo o lado de Edgar e até mesmo sentido pena.
Elise decidiu por fim as suas inquietações e desfez o laço de veludo vermelho pomposamente engomado. Ao abrir, se deparou com doze trufas de chocolate que reluziam com um brilho tentador. Todas tinham um selo dourado em cima com as iniciais da confeitaria mais famosa de todo o reino. Eram as suas prediletas e isso não era segredo para ninguém. Eram trufas de Tia Beba. Rapidamente pescou uma e se deliciou com o sabor inconfundível. Novamente, lágrimas escorreram de seu rosto, mas essas eram de alegria.
Lembrou-se do pai retornado da capital para inspeções sempre lhe trazendo os mimos e os seus doces preferidos. Como lhe fazia falta um abraço quente e amoroso! Aqueles doces eram o mais próximo que poderia chegar de algum consolo no momento.
Elise se sentiu extremamente grata pelo gesto gentil de Edgar e gostaria de recompensá-lo. Aquela caixa de doces era muito além do que um simples chocolate, representava as memórias de um passado não tão distante e o aconchego familiar que tanto almejava. Ela queria retribuir a gentileza do homem.
Apesar de suas primeiras impressões com o temível duque do norte, o homem, por fim, revelava-se uma figura amistosa e gentil, ao menos quando não contrariado. Talvez ele não fosse tão ruim.
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Atualizado até capítulo 58
Comments
Rosária 234 Fonseca
foi um belo gesto da parte dele .
2025-03-06
2
Valentina Valente
Mas a capital não é onde se encontra o castelo real? Pensei que sempre fosse assim.
2025-03-21
1
Paola
Ixi, tá admirando a paisagem é?? 🙈
2025-03-10
0