O escritório estava imbuído de um silêncio amistoso e agradável. A solidão era algo muito apreciado por Edgar pois era acompanhada de algo muito precioso: o silêncio.
Desde que assumiu o título eram raros os momentos que desfrutava de tal paz.
Edgar pegou o vinho ao lado e bebericou apreciando o momento. Mal teve tempo de devolver a taça na extremidade da mesa quando uma movimentação brusca lhe tirou de seu momento de paz.
— Majestade, precisa interceder por mim — uma jovem dama aristocrata adentrava em seu escritório causando grande desordem. Os guardas a seguiam afoitos, pareciam a todo custo ter tentado impedir.
Edgar não pôde deixar de olhar com desprezo para os homens responsáveis por sua guarda pessoal e segurança. Se não podiam conter uma jovem com saias bufantes e sapatos alertados e desconfortáveis, o que seria dele?
— Milady, em que posso lhe ajudar? — perguntou tentando conter a sua impaciência. Detestava ser incomoda, contudo, a jovem parecia trazer um assunto de suma importância considerando a sua exaltação, coisa que Edgar observou em voz alta — imagino que seja um assunto de grande seriedade para justificar tal invasão.
— Sim majestade. Veja o meu rosto — gesticulou para a própria face que exibia uma marca avermelhada.
— A milady foi esbofeteada? Por quem? — por mais que não fosse de sua alçada resolver picuinhas entre os cortesãos, não podia deixar que uma agressão saísse impune.
— Vossa majestade, o responsável por isso se trata de um dos seus servos.
— Isso é inadmissível. Me diga o nome e assegurarei que tal situação não saia impune — Edgar não tinha certeza, mas podia jurar que avistou um sorriso fugaz nos lábios da jovem, mas se sorriu, conseguiu disfarçar rapidamente e retornar a sua expressão de choro.
— Se trata de sua criada pessoal. Elise.
A revelação do nome o pegou desprevenido. Jamais imaginou que Elise fosse capaz de estapear alguém, ou ao menos, alguém que não fosse ele. Pois no pouco tempo que tiveram contato já recebeu ao menos duas palmadas da ex princesa. Seria três caso entrasse na conta um osso jogado em sua direção. Entretanto, levava em consideração que no dia em questão a princesa passava por um momento de estresse muito grande sem mencionar a perda do pai. Sabia que em dias comuns , Elise não agiria dessa forma deliberadamente.
— Elise? — repetiu atônito. A jovem acenou — como aconteceu?
— Acabamos nos esbarrando no corredor. Quando tentei instruí-la sobre a etiqueta das criadas, recebi um tapa em meu rosto.
— Foi assim? — a jovem acenou rapidamente. Edgar ficou em silêncio por alguns instantes ponderando no que fazer quando por fim virou-se para um dos soldados que ainda permaneciam no escritório e solicitou a presença de Elise.
Demorou um par de tempo para que ela surgisse com o rosto baixo e o semblante culpado.
— Elise, imagino que saiba a razão de ter lhe chamado — Edgar iniciou assim que ela parou ao lado da jovem.
— Sim majestade — respondeu num murmúrio.
— Sabe que como criada não pode responder aos nobres e muito menos agredi-los. Contudo gostaria de compreender o que aconteceu — o sorriso que a jovem dama carregava se desmanchou rapidamente.
— Ocorre que quando vinha lhe trazer o seu chá da tarde, houve um pequeno incidente com lady Charlotte e ela, além de me insultar e pisar em minhas mãos, também insultou ao falecido rei — suas palavras foram se tornando altivas e seguras conforme narrava parcialmente o acontecido, tomando coragem para encarar a carranca de Charlotte.
— Isso é mentira! — Charlotte exclamou indignada — está apenas dizendo isso para amenizar a sua pena.
— A milady mencionou que tentou corrigir Elise, mas não mencionou os métodos utilizados. Pisou nas mãos dela?
— Jamais faria algo assim.
— Tem certeza? — mesmo diante ao questionamento insistente de Edgar, a mulher permaneceu firme em suas palavras e o rei se virou para Elise — me mostre a mão que foi esmagada.
Obedientemente, Elise se aproximou e esticou a mão ferida. Estava avermelhada e sua pele havia sido marcada pelos sapatos de Charlotte. Não havia dúvidas sobre quem falava a verdade.
— Acredito que isso responda por si só — Edgar respondeu tentando conter o desprezo em sua voz. Gostaria de punir Charlote por seu desrespeito, contudo o que poderia fazer quando na briga estavam envolvidas uma nobre e uma simples serva? Se insistisse no assunto teria de castigar Elise.
— Mesmo que assim fosse, ainda sou uma nobre, estou acima dela — Charlotte prosseguiu deixando clara a sua indignação.
— Não se esqueça de que estamos tratando de minha criada pessoal, portanto qualquer correção deve ser aplicada por mim — Edgar disse friamente. Por alguma razão, ver a mão de Elise ferida o incomodava profundamente e lhe despertava uma ira fora de si. Charlotte abaixou o rosto. Estava claro que não receberia o que tanto almejava: sua vingança.
— Pode se retirar milady e agradeça que deixarei o assunto por isso mesmo, caso contrário lidaria com consequências aquém de sua imaginação — após a sentença de Edgar, a lady fez uma reverência e rapidamente saiu do escritório sendo acompanhada dos guardas. Sua expressão de raiva e indignação não foram capazes de abalar o rei.
Na sala, ficaram apenas Elise, Edgar e um profundo silêncio que foi quebrado pelo rei.
— Imagino que não queira se aprofundar mais no assunto — comentou observando analiticamente a expressão cabisbaixa de Elise.
— Não – respondeu num murmúrio, acrescentando logo em seguida — mas gostaria de agradecer.
— Não há necessidade, embora seria recomendado que evitasse se envolver em mais confusões.
— Não se repetirá no futuro — prometeu, não somente a Edgar, mas a si mesma. Sentia-se terrivelmente culpada pelo transtorno causado.
— Eu sei que não. Também estou ciente que não é de sua natureza se envolver em conflitos e imagino que Charlotte tenha lhe provocado, mas como lhe disse, é bom que não se repita. Enquanto carregar o título de criada estará muito mais vulnerável do que quando era princesa.
— Sim majestade.
— Agora, pode se retirar.
Elise fez uma mesura respeitosa e saiu do escritório deixando o rei perdido em seus próprios pensamentos.
Mesmo com a figura entristecida e apática, Elise continuava tão linda. Era incrível como alguém de aparência tão frágil poderia ser tão instável às vezes. Ainda se lembrava de quando assistiu pela primeira vez à sua explosão de raiva. Estava descontrolada, brava e muito atraente.
Droga. Edgar desceu o olhar para baixo. Novamente o volume havia se formado. O que estava acontecendo com ele?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 58
Comments
Paola
ISSOOOO, aí tô começando a torcer por você ein, não me decepcione
2025-03-10
0
Paola
KKKKKKKK nossa, é verdade. Acho que é por isso que se apaixonou
2025-03-10
0
Paola
Caraca rapaz, dá uma segurada aí Jkkkkkkk
2025-03-10
0